quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

RITMOS DO PERCURSO

A angústia do silêncio irrompe o olhar, o absoluto das coisas que sustenta a postura, a carga da grande dimensão, essa que serve o desejo em potência… isso tudo que faz de mim um ser em perdição. Perco-me ao tomar-me nas situações, na força dos sentimentos, lugar onde se derrama o meu ser, a grande força da tela da alma. Tomo-me perdendo-me constantemente no êmbolo dos princípios agitados, no incenso ilimitado de todas as viagens dos odores.
No sorriso aberto escrevo o vago da fronteira azul, cadenciando rotas interrogativas, essências discretas que os deuses julgarão enquanto o entendimento for semeado. O meu nome não é mais do que isso que possas considerar, nada mais do que o tempo que disponibilizas para o mesmo. Disponibilizamo-nos também no indisponível… a marca de cada qual é uma viagem planificada, está sempre no próprio sujeito. Escutas a voz que se libertou e não sabes de ti, o saber é a compilação da tua existência, cujo vértice é todo o fôlego vital, a súmula de crenças que não passam de ilusões que iludem a própria ilusão. Não sou ilusão de ninguém, o silêncio é a minha refeição matinal, nele engendro o meu futuro, a incógnita eterna, isso que flúi em todos os ritmos… somos até ao ritmo de não ser.

Aveiro, 31 de Janeiro de 2008 – 19:30h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras

O blogue dos flâneurs

Este é, sem margem para qualquer dúvida, mesmo oriunda das bocarras mais cruéis e escancaradas com todos os dentes podres, um blogue de artistas
(não porque alguém os denominou artistas como costumeiramente acontece mas sim porque tiveram a coragem de se chamar artistas com a coragem moderna do defunto século vinte)
. Uma das diversas características que os artistas têm
(e ai de quem ousar dizer o contrário)
é a proficuidade do seu mundo interior contrastando com triste serenidade do seu exterior. E as suas produções, tão cheias de simbolismos não são para os demais comuns mortais compreender
(quanto mais para uma crítica assaz feroz cuja função fundamental é vilipendiar e insignificar a tortura interior)
. Forçosamente, este blogue é um blogue de artistas de flâneurs. Baudelaire sentir-se-ia orgulhoso com tanta poesia da solidão, com tanta alma torturada, com tanta poesia simbólica
(que as bonitas fotografias ajudam a compreender)
.
Diria Baudelaire: “O tonto do Dostoievski que tentou explorar o flâneur nas Noites Brancas e nem nome lhe deu. Vocês sim, são os meus verdadeiros herdeiros.” Isto diria Baudelaire e mais ainda.

Para onde vamos! II


Acrílico s/Tela
Técnica mista
2008
80x100cm

depois de tantas preocupações com casas, carros,seguros,jóias.Fica a pergunta para onde vamos ? e, não levamos nada!

Blogue do Livro Afectos Obsessivos





É com prazer que anuncio a criação de um novo espaço para divulgação do livro Afectos Obsessivos-A poesia curiosamente sem açúcar de Daniela Pereira

Poemas...curiosidades...sugestões e todas as informações sobre o livro poderão ser encontradas neste blogue.
Brevemente,divulgarei todos os pormenores de uma apresentação do livro na cidade do Porto prevista para o mês de Março

Passem por este cantinho...serão muito bem vindos:)



http://afectosobsessivos.blogspot.com/

beijos

Daniela Pereira

DO AMOR & DA VIDA

Joaquim Alves, fragmento 47, acrílico sobre tela, 1999





QUERIA TANTO





Um dia hei-de morrer.

Gostava que fosse no teu regaço.

Sei que não acreditas.

Não queres. Nem podes.

E também não posso

prometer-to...

Como sabes,

é normal morrer-se

de surpresa.

Queria, tanto,

morrer no teu regaço.





@joaquim alves, 2008


fragmento 54


Para:


Sónia Bettencourt, Casti, Musalia, Sol, Andreia Ferreira, Rui Caetano,
Maria da Glória, Menina Marota, Sileuda de Oliveira, Saramar,
Heraclita, Miguel Ângelo & mais de 1000 amigos que por aqui navegam.


************************************


Mulheres

Não conseguia deixar de pensar nos dias em que era jovem, bela, elegante, atraente, e que tinha os homens que queria a comerem-lhe na mão. Há quanto tempo já não sentia desejo? Há quanto tempo já não se sentia desejada? Apesar de ter uma mini-saia vestida e as pinturas mais garridas do mercado espalhadas pela cara, não se sentia particularmente desejável.

Se tivesse bigode, uma grande barriga, pêlos no peito e calos nos dedos, não pensaria nestas coisas. Seria demasiado evidente que não poderia sonhar com paixões. Mas não tinha nada disso. Só as rugas, as malditas e contagiosas rugas. Sem elas, voltaria a ser bela e solicitada. No entanto, para que isso acontecesse, o mundo teria que andar para trás, muito para trás. Nem mil operações chegariam para lhe alisar a pele.

Era casada, tinha cinco filhos. No passado, havia sido professora e ninfomaníaca. No presente, era meio suicida e revoltada com o mundo. Sempre que se enfurecia, dizia que os velhos também poderiam ser velhos para outros velhos.

Também aqui.

Por amor de Deus!


Artur Amieiro, Por amor de Deus, 2000.

[A publicar no blogue Universos Assimétricos]

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Deixar Morrer


(...)

Procuro o teu rosto em cada homem que vejo. Nesta noite particularmente. O dia a seguir ao nosso encontro torna-se, por excelência, o mais vazio e o mais aterrorizador do meu arrastar. É o dia em que tropeço nas horas, esquartejadas pelos meus humores cruéis, tentando viver entre a fantasia e a realidade, ou como tu mesmo costumas chamar, a perpétua imposição: relembro as curvas do teu corpo convulsivo ao mesmo tempo em que enfrento o trânsito logo pela manhã; relembro o cheiro do teu cabelo ao mesmo tempo em que deixo as crianças no colégio; relembro a marca dos teus cigarros ao mesmo tempo em que tomo a sopa para enganar a fome; relembro o sabor do vinho que bebemos ao mesmo tempo em que percorro os corredores do supermercado; relembro, relembro, relembro, pinto e invento a tua imagem até o minuto em que, antes de me deitar e fingir o prazer e o sono, deixo-me tranquilizar pela televisão – o verdadeiro ansiolítico.
(...)

Gostava de ter alguém












«É-nos possível viver sozinhos, desde que seja à espera de alguém»
Gilbert Cesbron
Ás vezes saio sem saber para onde vou. Gosto de deambular sozinha pelas ruas e travessas da cidade, ver pessoas a passar a pé e de carro, entrar nas lojas onde na realidade não há nada que queira comprar, e imaginar que necessito daqueles artigos que estão expostos nas montras e nas prateleiras; frequentar um café ainda que por alguns minutos e ouvir parte de conversas: ao telefone, ao balcão, na mesa ao lado e nas pessoas que passam na rua junto à porta; comprar um bilhete de metro e sair numa estação por impulso, por uma urgência que me toma em desfazer as horas ou simplesmente procurar-te mesmo sem te saber o rosto.


Quem és? De onde vens e para onde vais? Ocorre-me vezes sem conta e submeto-me a uma investigação clandestina, muito íntima e divirto-me a interpretar uma vida ao cruzar contigo por acaso, num sítio qualquer.

(...)

Algumas coisas...

www.pousada-soleil.blogspot.com

Um portão
Sandálias no canto
Antes do portão
A pousada
A Graça
Da Graça
Acolhimento
Coisas da terra
Depois do portão
A imensidão do mar...


By Casti


pouring raindrops



sobressaltei-me nesse momento de distracção
brincando os teus dedos com fios de púrpura
entre um verso e outro se ao menos visse
reflectidos os teus olhos na liquidez das
palavras não se suspenderia o murmúrio
dos meus passos...




também aqui

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Laços

Duas da manhã. Empoleirado na varanda de um quarto de motel, um quarentão com chapéu de cowboy acaba de beber a sua garrafa de whisky. Dentro do quarto, deitada na cama, uma rapariga de cabelos loiros e de seios microscópicos tenta se esquecer de que está demasiado bêbada para adormecer.

Quando forem duas e quinze da manhã, o homem do whisky lembrar-se-á da mulher que trouxe para aquele lugar e sentir-se-á excitado. O pénis que lhe costuma morrer dentro de apertadas cuecas transformar-se-á em algo poderoso, invencível. O macho procurará a fêmea para fornicar. A mulher, que foi paga para ali estar, mesmo que não se sinta em condições de abrir as pernas, não terá outra opção.

Às duas e quarenta, a mulher e o homem já terão adormecido. Ela, com a barriga cheia de sémen seco, sonhará que é uma criança a andar de baloiço. Ele, torturado pela vida, não entrará no mundo dos sonhos.

Na manhã seguinte, acordarão os dois com vontade de voltarem a sentir o corpo de um dentro do corpo do outro. Posteriormente, cada um seguirá o seu caminho. Ele, cansado, triste, pateta, gastará o dia num bar a entornar cervejas. Ela, bela e casada, procurará encontrar as melhores desculpas para os ouvidos de um marido tonto. E este que, como se disse, é tonto, acreditará nas desculpas da sua bela e destemperada esposa.

Também aqui.

SURPRESA NA RELVA





Amphora
2







Às vezes, sentávamo-nos nas gotas de orvalho,

suspensas na relva

e revíamo-nos nos espelhos das nuvens dispersas,

vagueando em sonhos.

Adormecíamos, por vezes.

Acordávamos tão leves...



*



E quando a mágoa espreitava

sob um sorriso,

dizias somente:

a noite só vem

quando os olhos se fecham de cansaço.

Antes, é a sempre e repetida loucura

dos encontros sem fim, sem fundo,

no outro lado do mundo.




in "Amphora"

@joaquim alves

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

calai-vos!

Cientistas de todo o mundo,
calai-vos!
Biólogos,
Médicos,
Físicos,
Genéticos,
Róboticos,
Engenheiros,
Filósofos,
Sábios,
E outros que tais,
Relinchem bestas!
Sebentas,mortais!
Parem de mentir,
de ser banais!
Porque não dizem o simples!
Porque não ensinam
que Morrer, é deixar de Sentir!

Parem, não digam nada!
Não façam nada,
recolham a vossas casa,
aos Hospitais
Não vos vou ouvir,
JAMAIS!
Vou,vou gritar!
Vou por aí, de porta a porta,
até deixar de sentir,
até deixar de sonhar,
não importa,
vou, dizer, nem que seja a cantar:Deixem os poetas falar…

Tiago Bettencourt & Mantha - O Jogo

Mais um dia em vão no jogo em que ninguém ganhou
Dá mais cartas, baixa a luz e vem esquecer o amor
És tu quem quer
Sou eu quem não quer ver que tudo é tão maior
Aqui está frio demais p'ra apostar em mim.

Vê que a noite pode ser tão pouco como nós
Neste quarto o tempo é medo e medo faz-nos sós
És tu quem quer
Mas eu só sei ver que o tempo já passou e eu fugi
Que aqui está frio demais p'ra me sentir... mas queres ficar?

Tudo o que é meu
É tudo o que eu
Não sei largar

Queres levar
Tudo o que é meu
É tudo o que eu
Não sei largar

Vem rasgar o escuro desta chuva que sujou!
Vem que a água vai lavar o que me dói!
Vem que nem o último a cair vai perder.

domingo, 27 de janeiro de 2008

Condição - Mulher!


Óleo s/tela de linho
Ano 2008
100x73cm
Ontem como hoje a mulher continua a ser vitima de preconceitos, em várias partes do mundo !

O rato

«Queres saber o que é um clássico?», perguntou o sábio da montanha ao rato.

«Quero.»«Estás a ver aquela pedra? Estás a ver aquelas nuvens? Estás a ver aquelas flores?», voltou a perguntar o sábio.

«Vejo tudo», respondeu o rato.

«Ainda bem.»

«Porquê?»

«Porque estás a dormir. E quem dorme com pedras, nuvens e flores nos olhos, não precisa de observar a realidade exterior para saber que ela existe.»

«Como assim?», questionou o rato.

«Os clássicos não precisam de ser ditos para que os conheças», concluiu o sábio da montanha.

AO SOL


Eu, que lhe entreguei tantas noites,
retomo a mudez da solidão,
os olhos de nada ver,
uma névoa, um recorte na fotografia
do que poderia ter sido.
Não sem dor,
abrem-se a manhã e a clara certeza:
os sonhos são noturnos exercícios de acreditar.
O dia é outra história,
a ilusão não se acomoda em sol.
Ainda assim, meu amor,
como eu queria
andar de mãos dadas ao meio dia.

Imagem: dagmar Zuppan

sábado, 26 de janeiro de 2008

Resolução do dia


Amanhã vou largar as calças, a pressa e os sorrisos falsos, enfiar o meu vestido preferido, o laço no cabelo solto. E visitar-te nos caminhos verdes da nossa ausência. A ouvir Sigur Rós.
Foto: Katia Chausheva
Também aqui

sexta-feira, 25 de janeiro de 2008

Encontrámos aqui o vinho


Fragmento 36. manus 2007
Acrílico sobre papel 17.5 x10.5 cm




Amphora

1



Encontrámos aqui o vinho,

o gelo, o copo, o silêncio,

num lugar ermo

de terra feito

e madeira velha por tempo:

o ressuscitar dos nossos sentidos

e voz.

A escrita germinando

nos degraus húmidos

do resistir.

Não há inverno nem verão.

Ninguém fala.

Escuta-se o rumor do vento,

se o vento sopra,

o silêncio da casa,

da amphora.

E há vinho:

natureza fresca.

E há mel,

cuidadosamente recolhido

no ano anterior.

Encontrámos aqui o vinho,

o gelo, o copo, o corpo.

E fizemos amor.




*


in "Amphora"

@ joaquim alves

Esperanças


Técnica mista
Acrílico s/tela
Ano 2006
90x120cm

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Palavras fumadas...

Palavras fumadas...

24/Jan/2008 17:40

Palavras para quê?...

E onde ficam os braços

que não te reconfortam?...

Tenho as mãos frias

e o meu olhar sonhador apertado contra o peito ....

Gela-me a alma por não saber dar calor

que fiz eu ao meu sol de inverno?

Morrem-me os sonhos

com os pés molhados ...

pneumonia no coração

e respiro mal pelo nariz.

Quero uma flor a sorrir de volta no meu jardim...

não quero sentir que lhe sopraram a cor das pétalas

e que o vermelho dessa boca

não confia no rosa dos meus beijos

para aprender a ser feliz...

Asas pelo chão...

borboleta rendida ao teu mel

não sabe beber da lua

e sem o teu néctar provar...

para quê tentar alcançar o infinito?

Estrelas no céu...

tenho asas de cristal

e nos olhos um nevoeiro

a pedir para ser rasgado à força.

Palavras para quê?...

Quero uma bola de cristal

para ser pedaço de futuro

e não lágrima apagada numa beata passada...



Daniela Pereira

POR SULCOS E INSTANTES

Não sei mais onde vou escrever,
O cais da tarde dissolve o ferro…
Tomo-me na monotonia de mim,
Entre os arbustos antigos e o fim
Como se o outro lado sorrisse;
A preocupação é vazia na tua lógica,
O instante ilumina o imóvel
Entre os horizontes da respiração.

O corpo é um poema de círculos,
A gravidade une-me a ti!
A espera um tapete de encontro
No incêndio dos sentimentos
Que se fecham nos vidros escuros.

As palavras contornam movimentos,
Enquanto dormes na memória…
Rasgando as minhas pálpebras
Este sorriso de crepúsculo
A um vazio que desaparece na maré,
Por sulcos de brilhos atirados
A um medo que a noite silencia.

Aveiro, 24 de Janeiro de 2008 – 13:18h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

#020

técnica mista sobre madeira
[122x61 cm]
colecção particular de A. P. M.
ricardomorgado

demora-se o corpo na espera




perturba-me a inocência do nome por dizer. podia sorver a doçura da palavra. tocá-la ao de leve. liquefeita. de encontro à língua. dizê-la. em súbito desejo de chorar todos os rostos. que em inumeráveis gotas o mar vai espalhando no meu corpo.

moriana, Luísa L.



também aqui
foto de arthur k.

o conforto no horror...


Um dos meus vícios mais comerciais, além do da banda desenhada, é o das séries estadunidenes - suprema vergonha para um antiamericano básico e convicto como eu. E ultimamente não me têm faltado meios (leia-se edição de séries em dvd) para abastecer este vício mas, ao contrário do anterior, a minha condição económica não mo permite satisfazer.
Algumas séries agradam-me mais que outras, recentemente têm sido editadas colecções de séries antigas que animaram os meus tempos de juventude na televisão, Os Limites do Terror, Allo'Allo! e Millennium tendo sido as mais relevantes (e das recentes não tenho conseguído resistir ao charme politicamente incorrecto light de O Meu Nome é Earl).
Ainda sou do tempo em que a RTP dedicava as noites de sexta-feira a filmes de terror e os serões de Domingo a séries de detectives e de horror, muitas delas já nem recordo o nome, mas os canibais, vampiros, criaturas extraterrestres e abominações genéticas sempre me animaram a juventude (o que explica muita coisa acerca da minha personalidade, de acordo com a minha actual namorada... e algumas ex), é verdade que se ao início tais séries e filmes me causavam um certo medo, por fim acabavam por me confortar.
Eu sei, se calhar é caso para psicólogo, mas a realidade é a que realidade retratada nestas séries e filmes de horror eram tão irreais que acabavam por ser um escape da realidade monótona e merdosa do dia a dia acordavaitrabalharvemdormir.
Será a vida moderna tão vazia que precisamos de procurar conforto no horror e no terror do sobrenatural?
A propósito, a edição em dvd d'O Meu Nome é Earl para a primeira temporada foi exemplar, digna de elogio, infelizmente a segunda temporada foi editada a correr (certamente para o lucro fácil do Natal, época que actualmente serve apenas para satisfazer o nosso impulso consumista e alienante) e não incluiu o episódio extra exclusivo para a edição dvd nem legendas para os extras (coisas que a edição em dvd da primeira temporada incluía), na prática limitaram-se a editar a série legendada que deu no canal Fox português e os extras sem legendas da edição estadunidense, e como dava muita bandeira incluir o episódio extra sem legendas, cortou-se...
Coisas de quem vive num país de terceiro mundo...

tempo... revistas... coisas...


Impressionante o modo como o tempo actualmente não nos rende nada, felizmente com o número de colegas que este blogue possui nem se nota quando salto uma semana (ou duas) sem postar nada de novo, creio até que a obrigação de um postal por semana poderá até prejudicar a qualidade de alguns postais (eu, por exemplo, só consigo escrever qualquer coisa minimamente decente quando me surge a inspiração... o que não é sempre).
Mas voltando à vaca fria, mais um mês, aparentemente mais um atraso na importação das sobras da banda desenhada brasileira que não inunda os quiosques portugueses (nem imaginam as saudades que tenho dos tempos da minha juventude em que qualquer quiosque tinha mais de uma dezena de revistas de banda desenhada disponíveis), o meu vício pelas revistas do Batman, Homem-Aranha e Super-Homem em língua brasileira não é mantido mais por falta de revistas que o sustentem do que pela falta de moedas devido à actual recessão económica neste país de terceiro mundo que insiste em fingir que não o é.
Estarei deprimido mais pela falta de banda desenhada ou pela falta de dinheiro? No actual mundo moderno aparentemente o dinheiro é mesmo sinónimo de felicidade e até de saúde, ou alguém ainda duvida?

29 regras para escrever Português correcto
1. Deve evitar ao máx. a utiliz. de abrev., etc.
2. É desnecessário fazer-se empregar de um estilo de escrita demasiadamente rebuscado. Tal prática advém de esmero excessivo que raia o exibicionismo narcisístico.
3. Anule aliterações altamente abusivas.
4. não esqueça as maiúsculas no início das frases.
5. Evite lugares-comuns como o diabo foge da cruz.
6. O uso de parêntesis (mesmo quando for relevante) é desnecessário.
7. Estrangeirismos estão out; palavras de origem portuguesa estão in.
8. Evite o emprego de gíria, mesmo que pareça nice, tá fixe?
9. Palavras de baixo calão podem transformar o seu texto numa m****.
10. Nunca generalize: generalizar é um erro em todas as situações.
11. Evite repetir a mesma palavra, pois essa palavra vai ficar uma palavra repetitiva. A repetição da palavra vai fazer com que a palavra repetida desqualifique o texto onde a palavra se encontra repetida.
12. Não abuse das citações. Como costuma dizer um amigo meu: "Quem cita os outros não tem ideias próprias".
13. Frases incompletas podem causar
14. Não seja redundante, não é preciso dizer a mesma coisa de formasdiferentes; isto é, basta mencionar cada argumento uma só vez, ou por outras palavras, não repita a mesma ideia várias vezes.
15. Seja mais ou menos específico.
16. Frases com apenas uma palavra?Jamais!
17. A voz passiva deve ser evitada.
18. Utilize a pontuação correctamente o ponto e a vírgula especialmente será
que já ninguém sabe utilizar o ponto de interrogação

19. Quem precisa de perguntas retóricas?
20. Conforme recomenda a A.G.O.P, nunca use siglas desconhecidas.
21. Exagerar é cem milhões de vezes pior do que a moderação.
22. Evite mesóclises. Repita comigo: "mesóclises: evitá-las-ei!"
23. Analogias na escrita são tão úteis quanto chifres numa galinha.
24. Não abuse das exclamações! Nunca!!! Jamais !!! O seu texto fica horrível!!!!
25. Evite frases exageradamente longas, pois estas dificultam a compreensão da ideia nelas contida, e, por conterem mais que uma ideia central, o quenem sempre torna o seu conteúdo acessível, forçam desta forma, o pobre leitor a separá-la nos seus diversos componentes, de forma a torná-las compreensíveis, o que não deveria ser, afinal de contas, parte do processoda leitura, hábito que devemos estimular através do uso de frases mais curtas.
26. Cuidado com a hortografia, pra não viular a língúa portuguêza.
27. Seja incisivo e coerente, ou não.
28. Não fique escrevendo no gerúndio. Você vai deixando seu texto pobre -causando ambiguidade - e esquisito, ficando com a sensação de que as coisas ainda estão acontecendo.
29. Outra barbaridade que você deve evitar é usar muitas expressões queacabem por denunciar a região onde tu moras, carago!

A decisão


No próximo ano é que é. Começo logo no dia 1. Não fumo mais. Ou bem que tenho vontade própria ou não. Estou farta de que me chamem a atenção para não fumar aqui, nem ali, nem em lado nenhum. Sinto-me discriminada, excluída, insultada. E os que já fumaram são os mais fundamentalistas. Não sei que raio de mecanismo psicológico é que os afecta. Será porque antes se consideravam perseguidos como eu me sinto agora? Será que eu também vou passar a maçar os outros por estarem a fumar num lugar onde, eventualmente, não se deve fumar?

Há pessoas que são torcidas e maldosas. Lembras-te, Isabel, quando estavas a jantar sozinha no balcão corrido daquele snack-bar? E aquela velha que entrou – tica, tica, tica, tica – naquele passinho miudinho? Tinha as mesas quase todas vazias. E ao balcão só estavas tu e mais um casal. Pois a malvada velha atravessou o estabelecimento todo e veio sentar-se ao teu lado. E apenas se sentou, virou-se para ti, lembras-te?, e vai de dizer que ali não se podia fumar e que não tinha que estar a levar com o fumo do teu cigarro, e frito e cozido. Não há paciência!
Este ano tem que ser Isabel. Custe o que custar. Eu sei que é difícil, sei-o bem. Há três anos que andas nisto a tentar fumar pouco e não consegues. Fizeste enormes progressos, reconheço, mas falta o rabo que é o mais difícil de esfolar. Começaste por vinte minutos. É pouquíssimo. Mas, antes de tentares fumar pouco, havia situações em que apagavas um e acendias outro. E, se estavas muito concentrada ao computador, chegavas a acender um, com outro ainda a arder no cinzeiro. Durante uns segundos meditavas nisso. Mas adiavas uma decisão que iria mexer contigo.
Há uns cinco anos chegaste a estar três meses sem fumar. Lembras-te como de repente voltaste a sentir os sabores da comida e da bebida, intensos, e os cheiros, tantos e tão ricos, e de que já te tinhas esquecido? E te apercebeste de como cheiravam as tuas roupas? Já para não falar da centena de euros que de repente te sobrava e que orgulhosamente gastaste em mimos para ti, que bem merecias! Mas depois, as contrariedades da vida… És muito sensível à tristeza e à frustração. É nessa altura que precisas de um cigarro. Precisar mesmo. Há pessoas – já conversaste com muita gente sobre este assunto – cujos momentos fatais são aqueles em que se sentem bem, aconchegados no calor do grupo de amigos. Beberam um café, a conversa está boa… Para culminar – um cigarro. E então se meter álcool… Quem pode aguentar um long drink num ambiente descontraído, rindo com os amigos, sem puxar por um cigarro?
Começaste por vinte minutos. Punhas o telemóvel para tocar de vinte em vinte minutos. Era fácil. A cada semana aumentavas cinco minutos. Em dois meses chegaste a intervalos de uma hora. Aí, já custava. Mas foste forte e disciplinada. Às vezes parecia que nunca mais passava o tempo. Sacavas amiúde do telemóvel para consultar as horas. Finalmente, chegava o momento de fumar. E relaxar. E andaste com este ritmo uns dois anos. Já só fumavas menos de um maço por dia. Já era melhor. Mas ainda tinhas expectoração negra de manhã. E catarro. E as pontas dos dedos amarelas. E ainda sentias que te cansavas mais do que o devido, se tinhas que subir umas escadas mais depressa. Começaste a sentir menos respeito por ti própria. Que raio, não teres força de vontade para fumar ainda menos! Então deste a arrancada final, pensavas tu. Voltaste a aumentar o intervalo. Em cada semana aumentavas um quarto de hora. Em pouco tempo chegaste às três horas de intervalo. Voltaste a sentir-te orgulhosa e auto-confiante. Já só fumavas uns seis cigarros por dia. O pior era o fim do dia. Era difícil ires deitar-te sem fumar um último cigarro. E não ias esperar que chegasse a hora. Quebravas ali, excepcionalmente, o esquema. Fumavas e relaxavas, e ficavas um pouco a saborear o momento. E, de repente, tinha passado mais uma hora… e não era fácil adormecer sem fumar um último cigarro… E neste ciclo vicioso fumavas três ou quatro.
Mas agora cansaste-te. Agora não vais vacilar. Arquitectaste o teu plano, meticulosamente, sem dizer nada a ninguém. Estás decidida. A 31 de Dezembro fumas o último cigarro. E nunca mais lhe vais pegar. Sabes bem que nunca estarás curada. Serás sempre uma convalescente, uma viciada em fase de não-consumo. Sabes que, se deres uma «passa», podes voltar a fumar tanto ou mais que fumavas antes. Sabes que o teu corpo, as tuas células em carência, vão inventar todo o tipo de argumentação para te levarem de novo ao consumo. Não vais aceitar nenhuma justificação. Não serias tu a falar mas a carência. Agora, estás bem alerta. Pensaste em tudo já há quinze dias.

Mas hoje, noite de Natal, o meu pai ofereceu-me uma cigarreira em baquelite bordeaux, muito bonita, a minha mãe uma boquilha equipada com um filtro especial para reduzir a nicotina, o meu irmão deu-me um cinzeiro em porcelana, e o meu namorado – até ele, como é possível? – deu-me aquele isqueiro Ronson em ouro que uma vez tinha cobiçado!

[A publicar no blogue Universos Assimétricos]

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

terra-memória

Caí em abismo,
nos sons de África,

( a cavalo numa trovoada que me “tempestou” a noite em sonho escondido
do Eu. )

batuque
longo
no fundo da noite,
feiticeira monge,
num
tuque
tuque
que foge
se tinge,
em sangue de sangue
ao longe,

(Espreito a magia que me abraça em cores-de-terra-memória, com o desejo de me
esfumar lento-longe no horizonte. )
Finjo-me vento,
sinto-me terra.
Vermelha-de-dor a evaporar-se em Vidas.


(Formigas. )

Caí em abismo,
desamparado,
estilhaçado em relâmpago perdido na noite que não foi dia,
foi “cousa” rasgada,
(ferida… )

Crescente

Ri por um
Enquanto te vestes por dois
Manda cartas para três
Fá-las passar por quatro
Surpreende cinco vezes
Imagina seis reacções
Conta sete ondas
Fotografa oito marés
Olha para o relógio às nove
Abraça-te como se não existissem as dez.

Também aqui
www.mentequebrilhas.blogspot.com

Pausa


A inércia dos números. O silêncio.
O aperto sufocado no peito.
Logo hoje que me apetecia dar-te o sol.
Foto: Dr. Joanne
Também aqui

ENTRE O LUGAR DE ESTAR E SER

O acto de nos conhecer-mos é complicado, uma vez que o homem é um ser de mudanças interiores a todos os níveis, integrando o que usa de si para se movimentar nos planos considerados, ele é ainda o produto da sua massa cinzenta, encefálica. No acto de concatenar começam a surgir os percursos a perfilhar… preciso arrumar as gavetas da alma e dizer-te o que ainda não fui capaz. Serás tu? Tentamos então… quando estou a ser pelos instintos não sei de mim, sou coisa nessa situação que no momento tal não sei, mas sou nisso, entretanto, uma corrente vital atravessa-me sem que eu perceba, sou nisso de tal circulação. Depois da situação procuro-me a todos os níveis, desde esse tempo que me continuo a procurar e ainda me sinto bem longe de mim, de ti muito mais, apesar das tuas explicações fazerem-me pensar por cada vez que te leio. Porque será? Desejei entender isso em tempo passados e ainda hoje procuro resposta, mas cada vez me sinto mais distante e tudo o que disseste naquele dia faz-me aproximar mais de ti, suponhamos que não entendas o que escrevo, sei que não é o caso. Fico baralhado em mim mesmo, saio de mim e volto a mim para ficar e tornar a sair, o ciclo repete-se, não que fosse a corrente hegeliana a percorrer-me. É assim, não te consigo dizer de outra forma, fiquei bastante limitado.
Ninguém falou mais forte à minha consciência do que tu, somente esse saber me tornou diferente, onde continuo a ser diferente todos os dias, nessa marcha que me transporta para o fim.
Interrogo-me, como se não o fizesse todos os dias, logo após despertar matinal, olho e continuo a pensar nas realidades disponíveis, o desejo dá-se em mim, é manifestação dos meus sentidos, do outro lado de mim, esse que ainda não consegui sustentar nas mãos.
Anda meio mundo a tentar convencer a outra metade de que as coisas são sempre iguais ao estado inicial de quem deseja, pelo facto de desejar e sentir-se por tal desejado. Será que o desejo toma em si o estado de consciência? O desejo é sempre à medida do próprio, como a única luz que guia, ainda que depois não seja bem isso que acontece, e quantas vezes não é o contrário? Os inteligentes tentam argumentar para convencer os menos espertos! Vertentes racionais ou instintos em erosão? Lutas do âmago! Não quero fazer psicanálise, apesar de um dia ser aconselhado para fazer psicoterapia, por quem de todo tinha tal experiência no assunto. Bons conselhos! Desejo e ciúme dão-se? Completam-se? Coisas diferentes! Acontecem. A racionalidade é o filtro das conjunturas, só ela interrompe, o ciúme é uma disposição irracional, um alarme do inconsciente, um mecanismo como que a dizer que algo corre perigo, mas um perigo patético e irascível. Miragens de reflexos da alma, desejo e ciúme, cumplicidades, ainda que depois se tenha de justificar para se entender o que aconteceu, uma vez que no momento de tal situação o racional não opera adequadamente.
A privação daquilo que se anseia é resposta pela emulação, e a definição do mim não é cônscia, invade-se pela reacção operante e externa das pulsões, onde a libido é a vertente de arremesso como impulso de situação. A atracção dá-se sem que se entenda, uma faísca propulsora dos sentidos.
É frustrante não conseguir tocar o fulcro para descarregar toda a energia acumulada… fico perdido entre o desejo e o reagir, contudo, não entendo os teus ciúmes desenfreados que julgo não servirem para nada. Nesta hora caminho à deriva de mim, rumo a outras vertentes mais credíveis.
O meu ser é um palco de contradições, movo-me entre os pólos do prazer e do desaprazer, construo o meu lugar, perco-me e sou pela minha sensibilidade e formas a priori de captar as coisas aquilo que queiras pensar.
Fico entretanto entre o lugar de estar e ser o que se possa justificar, ainda que pouco credível… como consequência.

Aveiro, 22 de Janeiro de 2008 – 01:10h
Jorge Ferro Rosa

20 e 21/01/08:

estou nesta janela do lado.
de lado.
para numa primeira vez que não a minha, vir onde não é habitual, onde não devia ser, dizer:
sinto aquele frio na barriga. aquela barriga nas costas. bem lá atrás. do outro lado.
de lado.
revejo dentro dos meus olhos, bem lá atrás, os teus olhos. relembro o teu sorriso infinito para dentro da minha janela. dos meus cabelos. . .
a tua pele macia.
na minha cara.
estou nesta janela do lado. porque não posso estar onde podia ser habitual. porque não posso sentir, dizer,...
tento proibir-me de sentir, mas não é fácil.
os teus lábios irrompem o meu pensamento.
mil pensamentos.
a proibição.
esta minha janela de vidros transparentes.
não posso esconder-te isto...
os meus caracóis. E as tuas mãos neles. As tuas palavras. O teu sorriso infinito e carinhosamente…. Eu já derretida…
mas não posso…. as tuas mãos, o teu corpo, os teus abraços…. Ter….
um beijo de lado.
não podes, tudo isto para mim.
. . .
sinto este frio na barriga.

**

Passa os dias a imaginar um beijo entre eles. O primeiro. A pensar em que situação; como será; o que fará; se vai mesmo acontecer…

Ele que lhe dê um beijo e pronto.

Depois disso, segue cada um a sua vida, e ela fica descansada. Pára de andar dias a fio a pensar nisso. A desejá-lo. Sendo que não devia desejá-lo. A ter impulsos. Sendo que não devia ter impulsos.

Que raiva!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

E pergunta-se porquê. Porquê? Estava tudo tão bem, tão normal, na vida dela. Não se passava nada. Ninguém lhe acendia o fogo. Ninguém a despertava. E agora, assim de repente: ISTO????

Quando não há possibilidade remota de nada. De mais nada que um fogo a queimá-la lá dentro….?

Quando tem que gerir um cambalacho de emoções na cabeça, no corpo e no coração…?

Que raiva!

**

Acho que foi aquele momento em que disseste ‘’Tim Boot’’.

Assim, do nada. Depois de dias a fio, eu a tentar lembrar-me do nome dele.

Tu. Ali. Naquele segundo a saltares com aquilo para o lado de cá.

Eu. Ali. A sentir-me surpreendida.

Eu!

Eu, que acho sempre que nunca me surpreendem!

Tu. Ali. A surpreenderes-me!

Sim, agora que olho uns fios para trás, acho que foi esse o momento.

O momento da diferença. Da não indiferença.

O momento em que comecei a sentir algo mais do que devia. Do que de devo.

estou nesta janela do lado.
de lado.
para numa primeira vez que não a minha, vir onde não é habitual, onde não devia ser, dizer:
sinto aquele frio na barriga.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2008

Partida



há uma visão repetida,
retida
na concavidade da minha retina
e há lágrimas que se juntam
à neblina da manhã

há o pulsar trémulo nos dedos da mão
e um bramido contido
que acelera a baqueta do coração

há a verdade gélida, nua, acinética
e a tua partida entornada no vinho
que verte de minha boca
ainda
céptica

há um ímpeto amargo
e um rasgo incisivo na maciez da seda
que me perfura o ouvido
e me faz cair
pena

fica a vontade de partir
contigo

Vera Carvalho

Foto de Duarte Monteiro
Postado em Pétalas Minhas

domingo, 20 de janeiro de 2008

estou nesta janela do lado.
de lado.
para numa primeira vez que não a minha, vir onde não é habitual, onde não devia ser, dizer:
sinto aquele frio na barriga. aquela barriga nas costas. bem lá atrás. do outro lado.
de lado.
revejo dentro dos meus olhos, bem lá atrás, os teus olhos. relembro o teu sorriso infinito para dentro da minha janela. dos meus cabelos. . .
a tua pele macia.
na minha cara.
estou nesta janela do lado. porque não posso estar onde podia ser habitual. porque não posso sentir, dizer,...
tento proibir-me de sentir, mas não é fácil.
os teus lábios irrompem o meu pensamento.
mil pensamentos.
a proibição.
esta minha janela de vidros transparentes.
não posso esconder-te isto...
os meus caracóis.
não posso as tuas mãos, o teu corpo, os teus abraços.
um beijo de lado.
não podes, tudo isto para mim.
. . .
sinto este frio na barriga.

A Luz


Óleo s/tela
ano 2005
100x120cm
A Luz que pode transformar o mal em bem,a busca do infinito em cada ser humano, é sempre possível ou não?

sábado, 19 de janeiro de 2008

Inconsciente?

Falo com o pensamento
Digo coisas sem sentido
Foi estupidez minha
Quase te ter perdido

O destino porém dirá
O que se vai passar
Embora não aguente mais
A angústia de te amar

Sim, é angústia o que sinto
Sentimentos baralhados
Quando não temos resposta
Amamos sem ser amados

Não te deito as culpas
O inconsciente fui eu
Consigo sobreviver
Mas meu coração morreu

Se pensas no que sentes
O amor é enforcado
Quando amas a pensarAcabas mutilado.


Dénis Carmo

sou

Procuro nas nuvens que passam,
as lágrimas que verti,
olho-as ao vento,
disformes,
brancas,
negras,

procuro atento,
pedaços de mim.

Sou,
arqueólogo,
sem história,
que anda sem rumo, por ali.

lágrima esculpida ,
azul,
verde,
carmim…

Ah, velas sem navio,
mar sem fim,
deixem-me ser nuvem,
palhaço-criança,
jardim...

Procuro no céu,
a ave migrante
que fugiu de mim...

Sou,
flamingo azul,
que anda por aí,
perdido,
réu,
navegante...
Ah,
Sou,
poema sem véu,
peregrino sem (a)deus,
pintor sem tela,
sem Tempo,
Livro
esquecido,
evaporado,
queimado-vivo…

sem chama,

letra só,
sem sentido!

Silêncio...


Silêncio

Assim como do fundo da música
brota uma note
que enquanto vibra cresce e se adelgaça
até que noutra música emudece,
brota do fundo do silêncio
outro silêncio, aguda torre, espada,
e sobe e cresce e nos suspende
e enquanto sobe caem
recordações, esperanças,
as pequenas mentiras e as grandes,
e queremos gritar e na garganta
o grito se desvanece:
desembocamos no silêncio
onde os silêncios emudecem.
(Foto: Ricardo Tavares in olhares.com
poema de Octácio Paz)

TIAGO NENÉ NO ESTÚDIO RAPOSA




Melhor do que descrever, é ouvir já!


079 TIAGO NENÉ

18.01.2008 | Produção e voz: Luís Gaspar

Há poemas que se escrevem a eles próprios. Só temos de lhes obedecer. E escrever o que eles mandam. Estas são palavras de Tiago Nené, o autor que vamos ouvir neste programa

sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Vencedores do Prémio Literário Palavra Ibérica

Amadeu Baptista é o vencedor da edição portuguesa do Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica.

Um júri constituído por José Mário Silva, António Carlos Cortez e Fernando Esteves Pinto, decidiu por unanimidade atribuir o prémio à obra intitulada Sobre as Imagens, da autoria de Amadeu Baptista, de entre um conjunto de 138 originais apresentados a concurso.
O Prémio foi instituído pela Câmara Municipal de Vila Real de Santo António e pelo Ayuntamiento de Punta Umbria, contando com a colaboração de «Sulscrito – Círculo Literário do Algarve», e é atribuido, anualmente, a uma obra em português e a uma obra em espanhol.O Prémio Palavra Ibérica é parte integrante do projecto Palavra Ibérica, este integra também um encontro de autores e a colecção bilingue de poesia com o mesmo nome.
o autor premiado:
Amadeu Baptista nasceu no Porto, a 6 de Maio de 1953.É membro da Associação Portuguesa de Escritores e do Pen Clube Português.
Publicou as seguintes obras de poesia:
As Passagens Secretas, Coimbra, 1982
Green Man & French Horn (in A Jovem Poesia Portuguesa/2, em col.), Porto, 1985
Maçã [Prémio José Silvério de Andrade – Foz Côa Cultural, 1985], prefácio de Maria da Glória Padrão, Porto, 1986
Kefiah, prefácio de Floriano Martins, Viana do Castelo, 1988O Sossego da Luz, posfácio de Vergílio Alberto Vieira), Porto, 1989
Desenho de Luzes (edição galaico-portuguesa), Corunha, Galiza, Espanha, 1997
Arte do Regresso (pelo primeiro capítulo deste livro, Cúmplices, recebeu o Prémio Pedro Mir, na categoria de Língua Portuguesa, promovido pela revista Plural, da Cidade do México, em 1993), Porto, 1999As Tentações, Santarém, 1999
A Sombra Iluminada (in Douro: Um Percurso de Segredos, em col.), Peso da Régua, 2000
A Noite Ismaelita, Guimarães, 2000A Construção de Nínive, Porto, 2001
Paixão (Prémio Vítor Matos e Sá, da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, 2001 e Prémio Teixeira de Pascoaes, 2004), Porto, 2003
Sal Negro (in Sal Negro Sal Branco com 25 fotografias de Rosa Reis) Almada, 2003
O Som do Vermelho – tríptico poético sobre pintura de Rogério Ribeiro, prefácio de Ana Isabel Ribeiro, Porto, 2003
O Claro Interior [Prémio de Poesia e Ficção de Almada – 2000 / poesia], prefácio de Emília Ferreira, Almada, 2004
Salmo (com a reprodução de um desenho de Rogério Ribeiro), Porto, 2004
Negrume (com desenhos de Ana Biscaia), Lisboa, 2006
Antecedentes Criminais (Antologia Pessoal 1982-2007), Vila Nova de Famalicão, 2007
O Bosque Cintilante [Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama, 2007], Vila Nova de Azeitão, 2007 (ed. fora do mercado)
Balada da Neve e Outros Poemas, Maputo, Moçambique, 2007
Recentemente, foram-lhe atribuídos o Prémio Nacional de Poesia Sebastião da Gama (2007), o Prémio Nacional de Poesia Natércia Freire (2007) e o Prémio Literário Florbela Espanca (2007), respectivamente, pelos originais O Bosque Cintilante, Poemas de Caravaggio e Outros Domínios.
Poemas seus foram traduzidos para alemão, castelhano, catalão, francês, hebraico, italiano, inglês e romeno.
O vencedor da edição espanhola do Prémio Internacional de Poesia Palavra Ibérica foi Rafael Camarasa, com a obra intitulada El sitio justo.





Escreve o teu nome a preto e branco
e atrás de cada letra
diz o que ficou por fazer
antes que morras com as palavras presas na tua boca.
Tenta agora pensar um pouco
mas não tentes pensar tudo de uma vez
porque os teus pensamentos podem ser pesados...
Deixa que eles se passeiem livremente na tua cabeça
e em tempo algum não lhes force a saída
porque o teu coração é que tem na mão o comando
e tu aqui não mandas em nada!
Olha para o chão...
Estás à espera de quê?
Que te peçam por favor!!
Eu disse...OLHA PARA O CHÃO...
E não vale a pena tentares desviar o olhar
só porque não te agrada
ver os passos que deixaste ficar para trás
quando perdeste a coragem de seguir em frente
e recuaste no teu tempo.
Agora que já conheces a cor dos passos
com que pintas o teu chão de pedras
dá um passo em frente...
Achas que vai cair
só porque essa vertigem de lamentos que te assola
desequilibra o teu andar
e o corpo abana como se fosse uma boneca de trapos?
Desengana-te... porque ainda não chegou a tua hora
e nenhum buraco espera os teus ossos
com essa capa de carne tenra que ainda tens colada a ti.
Estás demasiado viva
para morreres de dor...
Queres saber um segredo?
Chega mais perto
e ouve bem ...
O teu nome não é JULIETA
e o teu amor nunca se chamou ROMEU.



Então... resta-te descobrir melhor o céu nos teus dias
porque a terra não tem ainda morada para ti.
Por isso esta noite olha para ele atentamente
mesmo que ele não te pareça tão estrelado como sonhaste ontem.
E se alguém te disser que as nuvens cinzentas
que vês pregadas às estrelas
no passado não existiam no teu horizonte...
Podes rir à vontade na sua cara
porque tu sabes
que essas nuvens estiveram sempre guardadas no teu bolso
Hoje limitaste a soltá-las um pouco mais cedo
e foi por isso que o céu chorou por ti antes da hora marcada...

Daniela Pereira in Afectos Obsessivos-A poesia curiosamente sem açúcar,Edições Ecopy-2007

P.s:foto by Deviantart -http://monocolour-photos.deviantart.com/gallery/

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

11/11/2007

O melhor exercício para escrever bem é escrever.

Escrever todos os dias.

1º escreve-se com o coração, depois corrige-se com a cabeça.

Foi mais ou menos assim que Sean Connery pronunciava no filme Descobrir Forester.

Mas não consigo concordar…

Não a 100%. Não sempre.

Ou seja, é como as fotografias.

Qual o objectivo de tirar uma foto a que depois vamos dar mais brilho, menos cor, cortar de lado, fazer sobressair o fundo, a textura, o grão, …?

Todos esses 30 por uma linha, neste caso, 30 por um pixel!?

Qual o objectivo de tudo isto, se tudo isto não foi o que estava à frente da objectiva quando alguém pressionou o botão e ‘’clic’’?

Não terá sido esse momento, muito mais único, mais valioso?, no seu brilho, na sua cor, no seu fundo, na sua textura, no seu grão?

Para quê corrigir?

Não se pode então escrever apenas e só com o coração?

Sem correcções?

Inspiração


Ando sem inspiração....
vagueando por ruas da memória,arrumando ideias, sentimentos e estados de espírito...

Ando sem inspiração...
como se caminhasse por uma rua ...deserta, ou talvez não.

Uma rua marcada pelo tempo, com tabuletas do passado, pontos de luz,becos de escuridão, indicações de um rumo,

marcos de um ontem, mas ausente para .... hoje...

O VIOLINO DE GARDEN (também para ouvir)

O Violino de Garden


@ joaquim alves, monotipia de 2007



Era de infinito que eu estava a falar

afinal o infinito é tão simples como

as preocupações diárias e o pão de azeite

para quem ama a serra de azeitão

mais conhecida por arrábida

é tudo relativo na teoria de eistein

curiosamente também no dia a dia da gente vulgar

é claro que tudo o que está em cima

é semelhante ao que está em baixo

e versa-vice de algum modo se aproxima

mas prefiro o som do violino

que juntamente com o do piano

alegram a vida e a alma

é só experimentar juntá-los

noites após noites e em local adequado

para sonatas e melodias de encantar

como as de alguns criadores sem nome

já que estamos no século do futuro

e o futuro nunca teve nome

vem aí devagarinho

só os homens têm pressa

o futuro nunca é mensurável nunca

mesmo com a agitação dos dias

a inflação e o caderno de contas nacionais

o futuro é o presente melhor

à partida

à chegada revela-se o mesmo de sempre

a corda na garganta

as contas sempre difíceis de manter em dia

e aquela chatice do tempo

ou melhor dizendo da sua falta

é isto a vida dos homens

deixo para uma mulher falar das mulheres

sempre insatisfação

e o infinito a espreitar sobre a nossa cabeça


Joaquim Alves


***************


Este e o poema "Figura" (mais abaixo) podem ser ouvidos no Podcast,
na voz excepcional de Luís Gaspar, o homem da Truca e do Estúdio Raposa.
Visitem esses lugares e deliciem-se!



foggy day...



nesta melancolia subitamente branca e desfocada. olham de longe. os pensamentos. olham a estranheza por detrás das frases. os olhos. pensam. como cristais coalhados de chuva e névoa.


também aqui
foto de roxana ghita

fingir que está tudo bem





fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer?, pergunto dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: umo ceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.


José Luis Peixoto


A foto é do Paulo César de Olhares.com

As mamocas da Soraia Chaves vendem bilhetes

A maior parte dos filmes portugueses que ninguém quer ver teve boas críticas, embora vos garanta não saber a quem servem tão ilustradas obras. O cinema português das últimas décadas esforçou-se arduamente por se fechar ao público, e conseguiu. Eu, nem que me paguem. Não há pachorra para histórias de incesto entre irmãos toxicodependentes que se automutilam até à morte, ou de prostitutos homossexuais que vendem os corpos decadentes em prédios macabros, onde por acaso também se traficam órgãos humanos. Que a fotografia seja muito boa, que o texto se encontro pejado de indescritíveis arroubos literários, nada me comove. O que eu quero é um história bem contada, um texto são e escorreito, sem tiques intelectualóides, inteligente e veloz. Mas eu sou o público, não a crítica, a qual arrasou Call Girl, o último filme de António-Pedro de Vasconcelos. Para a crítica, Call Girl não passa de um telefilme cheio de lugares-comuns. Os críticos, todos homens, alguns com blogue, saídos dos melhores colégios, possuem um livro de regras muito restrito, quase todo baseado no Casablanca ou outro histórico do cinema a preto-e-branco, que eu muito respeito. Não é que façam mal. Que eu me recuse a ler uma crítica antes de ver um filme é outra história.
Entretanto, António-Pedro Vasconcelos vai sorrindo. O filme vende. É comercial?! Claro que sim, mas o óleo Fula e a pasta Colgate, também. Se a ideia é fazer cinema, convém começar por algum lado.

Texto de Isabela, publicado no seu blogue pessoal O Mundo Perfeito. Ler o resto aqui.