Procuro o teu rosto em cada homem que vejo. Nesta noite particularmente. O dia a seguir ao nosso encontro torna-se, por excelência, o mais vazio e o mais aterrorizador do meu arrastar. É o dia em que tropeço nas horas, esquartejadas pelos meus humores cruéis, tentando viver entre a fantasia e a realidade, ou como tu mesmo costumas chamar, a perpétua imposição: relembro as curvas do teu corpo convulsivo ao mesmo tempo em que enfrento o trânsito logo pela manhã; relembro o cheiro do teu cabelo ao mesmo tempo em que deixo as crianças no colégio; relembro a marca dos teus cigarros ao mesmo tempo em que tomo a sopa para enganar a fome; relembro o sabor do vinho que bebemos ao mesmo tempo em que percorro os corredores do supermercado; relembro, relembro, relembro, pinto e invento a tua imagem até o minuto em que, antes de me deitar e fingir o prazer e o sono, deixo-me tranquilizar pela televisão – o verdadeiro ansiolítico.
(...)
quarta-feira, 30 de janeiro de 2008
Deixar Morrer
Colocado aqui mui gentilmente por Sónia Bettencourt à(s) 23:26
Etiquetas: prosa, Sónia Bettencourt
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4 Comments:
Por momentos senti a saudade que se sente quando se deixa a pessoa que amamos... a falta que nos faz o simples "estar ali" do nosso lado na cama...
Agora, sim!
Após ter lido, e sentido, digo que sim. Como na "Amphora", que anda por estas páginas, mas às avessas.
Adorei. E tb quero mais.
joaquim alves
Sonia
mais uma bela prosa, ao estilo da anterior...
ansioliticos n�o existem...
apenas e sempre a saudade....
parabens
MB - Muito Bom
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