sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008

É tarde

Esperei pelo amanhecer que trazia a forte
Luz para puder ver-te.
Ilusão dos meus olhos e do meu pensamento...
Olhei e aproximei-me... sabia que não era.

Guiavam-me longos fios
Ocultos... por ti suspensos.
Segui-os e até ti chegava.
Tudo era estranho, mas real!
Omitia o que estava a sentir

Mencionando a mim própria que era
Utopia.
Inexoravelmente confrontava-me com o
Turbilhão de sentimentos que
Obrigaram os meus olhos a mudar de

Direcção assim que em ti
Encontravam a perfeição.

Tenho agora a certeza de olhar para ti, sem que
Inesperadamente, os meus olhos fujam.

É tarde.

Heraclita

MINGUANTE Nº9

O número 9 da Revista Minguante já está no ar. Para além do meu habitual texto, os senhores da revista fizeram-me ainda o grande favor de me publicarem um primeiro livro (e-book).

Site de poesia

Um excelente blogue especalizado em poesia:

Da Poética

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Irrealidade de M. Kula

Adorava ter sido realizador ou escritor pintor poeta indubitavelmente actor ou encenador passando por, porque não, massagista futebolista barman tenista ou amante de golfe, taxista ou apresentador televisivo... Militar policia banqueiro terrorista... Poderia até ter sido Deus, mas tenho fobia à adoração.

Apenas tento manter limpa na minha memória a ideia de que algo, algo ainda consegue manter-me um passo atrás em vez de um para a frente do balcão da minha varanda. É que tenho feito coisas inúteis ultimamente e isso levou-me a apenas um pé para a frente, e é o meu fim... O meu fim já... Apenas fiz 23 primaveras... Não posso morrer... Tenho ainda uma existência interminável pela frente, não sou velho e quero pelo menos ter um ou dois ou vários filhos até... Mas não aguento mais este tilintar do relógio tic tac tic tac tic tac...
Tudo começou à dois meses atrás, antes dessa altura considerava-me melhor... Quero dizer com boa apresentação, um ar jovial e um sorriso de presidente... Mas tudo partiu... Partiu porquê...?
A vida será mesmo uma luta incessante de interesses despropositados por um acordeão sagrado, no qual não entendemos nada do... Do ré mi fa sol la si do dessa incessante busca de auto-realização onde pomos os pés numa realidade débil, onde os raios do sol apenas nos revoltam contra a asquerosa visão de prédios... Prédios...
E mais prédios nos quais apenas encontramos compartimentos privados e secretos, atracados a uma senil esquizofrenia de estarmos sós...
Sós perante a imensidão do oceano dos nossos desejos cada vez mais perdidos e longínquos do velho ancião que internamos num lar não muito longe da exclusão social que ditatorialmente nós os jovens condenámos. Condenámos esse idoso que nos repugna por estar vivo e ter vivido mais do que nós...

Stupidity.

Faz dois meses que não durmo em condições, aliás já não sei o que é dormir e ter sonhos, dormir exaustivamente até ser dia... Dia de fazer algo pela nossa vida... Sei que pode parecer insensato... Mas sinto-me seguido... Não por pessoas normais... Já me habituei a estes predadores patéticos da sociedade demente da qual não me sentirei como elemento indispensável ao luar do amanhã nascente algures no oriente escondido no fim do rio fertilizador da razão em ser neurótico e exaustivamente dispensável.
A pessoa que me tem seguido não é deste mundo... Não sei explicar mas segue-me por todo lado... Sinto a sua presença vil... Observa-me e quando está muito perto de min...
Sinto a sua respiração horripilado não sei dizer porquê... Talvez pela inexplicabilidade deste meu medo racional em estar completamente perdido neste aglomerado centro comercial de betão antisocial.
Ás vezes, pela noite, tenho calafrios onde a minha pele estremece... Os pelos irritam-se com o excessivo tremer das minhas pernas out of control...
Mantenho-me calado... Mas nada irrompe... Silêncio total e assustador... Nada sai... Nada mexe...
Nada acontece...
Estarei a enlouquecer a olhos vistos?... Não... Não pode ser... Sou um ser racional em que os esquematismos mentais regulam a existência serena de todos os dias... Mas não... Sinto algo perto de mim... Sempre a tentar erradicar o meu desejo de viver feliz... Quem sabe contigo ao meu lado... Mas não... Nada acontece...
Já são 4 horas da manhã vou dormir ou pelo menos tentar dormir.

A noite já passou and the sun já delimitou o seu território... Acordo e para minha incredibilidade assisto a uma visão perplexa de um quarto agora completamente desarrumado... Quem ou o quê desarrumou o meu quarto? ... Porque não ouvi nada? ... Verifiquei que a chave da minha porta de entrada estava sem dúvida alguma muitíssimo bem trancada. Arrumei o meu quarto e não pensei em mais nada... Pelo menos à luz do dia.
Passeei pela cidade incógnito no meio de transeuntes anónimos atropelados, pelo sururu infinito de buzinadas angustiantes mas onde incrivelmente me senti seguro, seguro por não ter tempo nenhum para concentrar-me em intermináveis problemáticas quotidianas... De opressão sadia frequente em jovens perdidos na bruma da existência boreal. Os pássaros emitem o seu chilrear incessante onde ecoa o melodioso e calmante solo purificador do melro gozista... Aquele abolicionista do caos sonoro que domina a cidade em isolação natural... Parei no centro comercial dos desencontros sociais onde tomei um café, fumei um cigarro e observei a vasta gama de personagens incoerentes e decadentes que cada vez mais povoam a cidade.
Por volta das 19 horas voltei a casa para jantar, ficando em seguida grudado frente aquela caixa de onde sai uma realidade bastante diferente da realidade que vivemos, ou pelo menos em que vivo. Tomei um café forte... Sei que me esperam várias horas de insónias pela frente. 0 horas e 30, não aguento e tomo um whiskey e espero que o ser desconhecido volte, estando eu decidido a fazer-lhe frente após 3 copos bem doseados de whiskey. 1 hora, chegou a hora de ele vir, normalmente é a essa hora que ele ou ela costuma aparecer, acendi um cigarro e esperei devotadamente pela aparição.
E cá está...
Sinto a sua presença novamente... Arrepios pela coluna vertebral... Pêlos eriçados...
Pernas trementes... Mas desta vez sinto um frio glaciar... Aliás todo meu quarto está congelado... Tento falar com o outro ser... Mas nada...
Outra noite em branco e outro acordar com o quarto desarrumado e assim sucessivamente...
Passava os dias em parques urbanos ouvindo os pássaros... Ah como a cidade é bela ao som dos pássaros. Ao fim ia para os centros comerciais das figuras ambulantes tomar um café, fumar um cigarro... Só voltava a casa para jantar... Fugindo após para o refúgio do palco teatral do renascimento onde acabava a noite bebendo um whiskey no bar das afinidades culturais... E mais bebendo outro e outro e outro ainda... Apenas dormia graças ao álcool e calmantes antidepressivos...
E assim foram os meus dias até decidir enfrentá-lo.
Esse dia correu particularmente mal, entornei um café em pleno centro comercial onde todos os olhares da galeria ambulante de anónimos me cruzaram como victim on target. O meu jantar saiu ensosso assim como entornei um copo de vinho sobre as minhas calças de combate. Todo complexado pelos acontecimentos ocorridos encadeados e certinhos de... será dessa que vou morrer?... Ele vai matar-me!?... Tenho 23 anos e não quero morrer... E bebi... Bebi mais um whiskey e outro e outro e mais outro... Até que se aproximou de mim a hora de morrer... Comecei a caminhar passo a passo, ideia a ideia para a varanda aberta frente ao meu quarto... Estou arrepiado... A onda glaciar do meu tormento gelou-me a razão... Estou a um passo do fim... A coruja cuja memória não me esqueço juntou-se a mim... E ele está cá... Observa-me e toca-me... Não o vejo... Não sei o que é... Junto todas as minhas forças para tentar lutar contra esse estranho ser omnipresente... Deixo a varanda e consigo voltar para o meu quarto apesar de todo o arrepio... Largo o meu ser... Sinto a sua presença perto de mim... Arrepiei-me... Ele está bem perto... Sinto o seu vibrar... Vou morrer... Chegou a hora... Mas não... Sinto-o a guiar-me pelo quarto... Guiado até a minha escrivaninha onde deixo repousar os livros que me me fazem viver...
E claro!...
Só pode ser?!...

MAUPASSANT... Cette nuit, j´ai senti quelqu´un accroupi sur moi, et qui, sa bouche sur la mienne, buvait ma vie entre mes levres... Adoro o seu escrever a emoção de simples realidade... A realidade inquietantemente terrível.

A partir desse dia mais nada de grave me aconteceu.
Apenas escrevo.



La campanella - Paganini / Liszt


Os seis Estudos Paganini são das obras que melhor representam o período virtuosístico de Franz Liszt (1830/40).
Com a excepção deste (La campanella) todos se baseiam em caprichos de Paganini para violino
solo.

Evgeny Kissin - La campanella - Estudo Paganini / Liszt

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

A Poesia


A poesia é uma espécie de revolta das palavras que se insurgem no sentir. Percorrem-nos o corpo e sem querermos lá estão a espalhar-se no dizer , no pensar ou no agir. Confundo, vezes muitas, poesia com cor ou com desenho, e até com gestos, quando estes se transformam no verbo dar. Ando à procura do mecanismo que transmuta a palavra em algo vivo, com vontade própria que se precipita pela alma e pela pele. A poesia não se guarda, é um grito que nos acompanha nos caminhos. Vai de mão dada, à escuta, è espreita. A poesia não se escreve, nem se diz, nem se vê. Empurra-nos na vida e desenha-nos o sentir…
Autor:Almaro
Foto:Autor Desconhecido

VIAGEM


Se fora em Lisboa,
subiria a ladeira com Ricardo Reis
e temeríamos juntos, algum beco
de antigo e parco lampião.

Talvez um café entre silêncios,
cada um com sua saudade
se derramando quente,
em pires indiferente.

Haveria, porém, uma esperança
sob a ansiedade de todo não
a que ele e eu nos acostumamos.

Mas nem Lígia sou e o desamor
é sempre o que é...
irremediável dor
e seu remo de conduzir, o pranto.

Quem sabe no Porto eu seria feliz?
E o meu amor que julgara morto,
saltimbanco, torto, se assim ele fosse,
dobraria a esquina como quem diz:
- “vem, eu esperei tanto!”

terça-feira, 26 de fevereiro de 2008

Arte Islâmica

O poder muçulmano dominou partes do território que actualmente constitui o de Portugal desde cerca de 711 até meados do séc. XIII – mais de 500 anos.
A influência das crenças e dos outros aspectos da mentalidade gera formas e estéticas próprias e a estada muçulmana na Península não foi excepção. A arte muçulmana tem características próprias e criou também alterações de gosto em quem a ela foi exposto. A chamada Arte Islâmica não se limita à produzida durante aquele período mas também à produzida posteriormente por artífices muçulmanos, que por cá se mantiveram ou na próxima Granada, ou até por artistas cristãos que souberam corresponder às encomendas de quem estava seduzido por aquelas formas ou queria usá-las como símbolo de luxo ou exotismo.

Mértola é a povoação portuguesa que mais vestígios contém da estada muçulmana. As minas próximas e o contacto fluvial com o Mediterrâneo mantiveram-na com alguma importância durante séculos e no tempo de D. Afonso Henriques chegou mesmo a ter um certo protagonismo político no campo muçulmano. Hoje, Mértola tem vários pólos museológicos dedicados à presença islâmica (mas não só) e toda ela está bastante virada para essa recente vocação turística.

As palavras seguintes podem-se ler numa parede do museu islâmico de Mértola e denunciam a orientação moderna do arqueólogo Cláudio Torres – um dos artífices da actual visibilidade de Mértola – de não olhar apenas para os cabeçalhos da História:

A história é feita de muitas memórias. O documento escrito, nas suas linhas e entre-linhas, pretende mostrar à posteridade os feitos dos poderosos, os registos de uma história encomendada. Aos oprimidos, sem escrita, resta o efémero de um gesto ou acorde musical, resta o artefacto humilde de todos os dias, a panela escura que esbeiçou de cansaço ou o candil onde o azeite secou.
Neste nosso museu vamos contar a história possível dos vencidos, dos camponeses, pescadores e artesãos de Mértola, a quem chamaram mouros, e que habitaram e ainda habitam as casas dos seus antepassados.


Entretanto, mas só até 2 de Março, está patente na Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves, ao Saldanha, a exposição de arte islâmica Olhares cruzados sobre Arte e Islão com comentários separados de um arqueólogo, um historiador, uma historiadora de arte e um teólogo do Islão mas cujas palavras não pude fotografar. Mostro, no entanto, esta imagem de uma peça lá exposta que encontrei na Net, a fim de vos aguçar o interesse…

[Publicado no blogue Universos Assimétricos]

searching



Todos os cafés tinham uma história para contar. Estava certa.
Percorria-os tentando captar gestos, sons, fisionomias. Deambulava na luz difusa, prescrutando vultos, rostos.
E afinal era sempre a sua história que encontrava.





também aqui
foto de lempicka

Não escolho nada deixo-me vestir



Não escolho nada deixo-me vestir
Pela música discreta que tacteia
Meu corpo em sua breve caminhada.
.
Não desejo nada consinto apenas
Que a dor me visite e a jovem ceifeira,
Mãe das coisas todas, me seduza.
.
Não escolho nada nem sequer o vaso
Onde me derramo devagar
Como se fosse água, ou leve lume.


Autor:Casimiro de Brito
In :Na Via Do Mestre
Foto :Paulo Madeira www.paulomadeira.net/

Apresentação do Livro Afectos Obsessivos-Porto




Apresentação do Livro Afectos Obsessivos de Daniela Pereira.

O evento irá ocorrer dia 8 de Março na Livraria Leitura Books& Living (Centro Comercial Cidade do Porto) e terá hora prevista para o seu inicio sensivelmente às 17h30.
A Apresentação terá a colaboração de duas vozes da rádio...Pedro Correia da Rádio Mar-Póvoa do Varzim e Nelson Ferreira da Rádio RUM-Rádio Universitária do Minho e com a presença de um convidado muito especial.
Estará ainda patente nesse evento a Exposição Fotográfica "Palavras à sombra de um instante"da autoria do fotografo Nuno Reis e que funde a sensibilidade da fotografia a preto e branco com a poesia presente no livro Afectos Obsessivos.Uma experiência única onde as palavras respiram à sombra das imagens.
No final deste evento ainda poderá desfrutar de um momento muito especial...uma sessão poética partilhada por membros do site literário...O Luso Poemas.

O convite está feito e eu lá estarei para vos receber a todos de braços abertos :)

Daniela Pereira

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Nota sobre coragem

Inexperiente, tímido, um homem recém-chegado ao mundo da política não sabia o que dizer no parlamento perante uma multidão. Por esse motivo, permanecia calado no seu lugar, como se com isso a humanidade se fosse esquecer da sua existência e não o chamasse. Com uma mão, o homem tapava a sua cara corada, com a outra, aplicava pequenos murros no joelho para aplacar os nervos. «Quem me dera ir para casa comer bolachas e ver televisão com a minha mãe», passou-lhe pela cabeça. «Quem me dera desaparecer neste preciso momento.» O dia parecia-lhe quente. Sentia a gravata a apertar-lhe a garganta de uma forma que nunca antes sentira. Não sabia da caneta de feltro que a namorada lhe oferecera para a estreia no mundo da política. Procurou nos bolsos das calças. Vazios. Olhou para o chão. Lá estava a caneta. «E se trocasse de lugar com a caneta?» O homem tinha tanta vergonha acumulada dentro dele que preferia morrer do que falar perante umas dezenas de pessoas. Sentia o coração a bater freneticamente. Os minutos iam passando. Apetecia-lhe fugir. «Meu Deus, o que fui fazer?» O homem estava a exagerar. O caso não era para tanto. Pelo menos uma vez na vida, toda a gente se vê obrigada a passar da fase da vergonha para a da idade adulta (leia-se idade em que já pouco importa sentir as bochechas coradas). O homem sabia que estava a dramatizar demasiado a situação.

Começou a escrever numa folha: «Quando chegar o momento de subires ao palco para te defenderes perante o mundo, sentirás um medo que, numa primeira fase, te surgirá sob a forma de um pequeno arrepio no estômago, depois, como elemento impeditivo de qualquer acção. Não conseguirás andar, falar ou sorrir. Olhando para ti, as pessoas repararão na tua testa suada. Porém, apesar desse medo de dimensões apocalípticas que te invadirá durante largos momentos, conseguirás caminhar por cima do mar de crocodilos que te deseja morder. E falarás. Com ou sem a voz a tremer, todos saberão que tens ideias e que as consegues exprimir de modo convincente. És um indivíduo dotado de inteligência. Acredita nisso, precisas de acreditar. Sê homem para ti mesmo.»

Depois de assinar com o nome de Consciência, o homem parou de escrever, puxou do seu sorriso mais confiante e colou-o nos lábios. «Estou preparado», pensou. Mas não estava. Quando se preparava para falar, o homem reparou que todos os seus colegas partidários e não-partidários riam dele. Tinha uma grande mancha de urina nas calças.

00:04

O "cavaleiro das trevas" regressou às livrarias portuguesas


Foi com agrado que este mês testemunhei o regresso da revista do Batman às livrarias portuguesas, no decorrer do último ano a editora Panini tem vindo a importar uma série relevante de revistas de banda desenhada oriundas do Brasil, algo semelhante ao mercado que tínhamos há cerca de uma década, mais coisa menos coisa, quando a editora Brasil fazia exactamente o mesmo, isto até as Brasil portuguesa e brasileira deixarem de publicar banda desenhada, o que forçou os entusiastas portugueses desta arte a entrarem num deserto bedéfilo.
As revistas da Panini ainda estão a ser distribuídas a título experimental, que é como quem diz: estão a ver se o mercado português dá lucro com as sobras brasileiras, e espero que dê... este país bem precisa de ler, e muito, e não imagino nada que cative mais os jovens e adolescentes (e muitos, mas muitos, adultos) a ganhar o gosto à leitura começando pela banda desenhada.
Este mês também se encontra nas bancas a revista do Super-Homem (editada em brasileiro, apesar do título Superman, certamente por alguma questão legal acerca do direito à marca).
Aos interessados apenas posso sugerir que comprem as revistas, convém convencer a Panini que em Portugal há mercado para banda desenhada, a distribuição não tem a mesma qualidade que a dos idos 80 e 90 (em que qualquer quiosque de esquina tinha umas 20 revistas de banda desenhada disponíveis), mas já atinge as livrarias de maior dimensão espalhadas por esse país fora.

A Avó e o Lobo

Sozinha no bosque,
sobras de um conto de fadas,
A avó prepara a refeição para um lobo.
Porém ele não comerá a sua comida
nada pessoal
Somente ela não percebe a sua natureza,
não percebe as suas necessidades.
E enquanto a avó se debruça
sobre a cozinha quente,
o lobo caminha pelos arredores,
apreende o seu cheiro,
localiza-a,
lança-se sobre ela e come-a viva.
Esta é a sua natureza.
nada pessoal.


Howard Camner
(tradução para português: Tiago Nené)

domingo, 24 de fevereiro de 2008

o amor é para comer


o amor é para comer

quão estranho é aquilo que pede a fome, ou o que a fome pede e estranha. e sem muito sentido para quem ama, e para quem ama perto de quem tem fome, que não seja, comer num instante, de repente...

a amar


Sónia Bettencourt, "As Três Faces de Eva", Corpos Editora, 2007

Foto: Filipa Toledo (wipa.deviantart.com)

pornografia pessoal


pornografia pessoal

pergunto-me por que ainda te quero

quero-te porque pouco resta a destruir


Sónia Bettencourt, "As Três Faces de Eva", Corpos Editora, 2007

Foto: Filipa Toledo (wipa.deviantarte.com)



"A brisa, ao tocar os meus olhos, transforma-se em lágrimas que descem frias pelo meu rosto. Os meus lábios. Sinto-as e sinto a memória das vezes que chorei o desespero parado, mais triste, de lágrimas que descem lentamente pelo rosto. O tempo passa por mim como qualquer coisa que passa por mim sem que consiga imaginar e as lágrimas, que eram apenas a brisa a tocar os meus olhos, começam a ser lágrimas de desespero verdadeiro. Paro no passeio. O mundo pára. E lembro-me de ti como uma faca, uma faca profunda, a lâmina infinita de uma faca espetada infinitamente em mim. Não passou muito tempo desde que a manhã nasceu. Passou muito tempo desde que me deixaste sozinho entre as sombras que se confundiam com a noite."



Autor:José Luís Peixoto

in Antídoto

Foto:Paulo Madeira www.paulomadeira.net



Pequenas falhas

Apesar de ser narigudo e sem olfacto, todos diziam a Aníbal que fazia um casal perfeito com Anabela, uma rapariga muito bonita e tão inteligente que nunca lhe disse que, além de não ter olfacto, também era um bocadinho surdo. Ela gostava muito dele.

(também na minha morada de todo o ano)

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Última vez

Despedimo-nos… despedimo-nos…
Deixamos para trás um rasto de destruição
No meio daquela multidão um silêncio
Devastou os corações apinhados de dor,
De sofrimento, de sentimento de extravio
Corações ensanguentados, cheios de dor de culpa
Por ser nada mais que uns simples mortais
Impossibilitados de agir contra as forças naturais.
Quantos de nós partiram jornada dando-se completo
Graças às promessas vazias, vãs de melhores
Proscénios para recitar a existência,
Mas… compõe….
Mera fantasia, em fortalezas quiméricas.
Resta-nos mãos sujas consciência penosa
Cabisbaixo e a revolta de um dia ter partido
De um porto em paz e atracar noutro levando
Ventos apoquentados de conflito.



Leonardo

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Palavra Ibérica 2008

III Encontro Hispano-luso de Escritores
Punta Umbría 7 e 8 de março de 2008


Sexta Feira - 7 de Março

19:00h. Sala Polivalente

Inauguração do III Encontro hispano-luso de Escritores PALAVRA IBÉRICA

Antonia Hernández Galloso (Vereadora da Cultura do Ayuntamiento de Punta Umbría)

José Carlos Barros (Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Vila Real de Sto. António)

Fernando Esteves Pinto (Círculo Literário do Algarve “Sulscrito”; Co-coordenador Palavra Ibérica)

Uberto Stabile (Coordenador do Encontro hispano-luso de Escritores Palavra Ibérica)

19:30h. Sala Polivalente

Acto de entrega e apresentação dos Prémios Internacionais de Poesia Palavra Ibérica 2007

“El sitio justo” de Rafael Camarasa (Valencia)

“Sobre as imagens” de Amadeu Baptista (Viseu)

20:30h. Sala Polivalente

Cara a cara, verso a verso: outros tempos para a lírica.

José Mário Silva (Lisboa)
Manuel Moya (Fuenteheridos, Huelva)

21:30h. Sala de Exposições do Teatro del Mar

Inauguração das exposições fotográficas:

Paula Ferro (Tavira)
Angeles Santotomás (Huelva)

22:30h. Gran Café Nexo

Eladio Orta (Ayamonte)
Golgona Anghel (Lisboa)
Elisa York (Sevilla)
Tiago Nené (Faro)
Manuel A. Domingos (Manteigas)
Miguel Godinho (Vila Real de Sto. António)


SÁBADO 8 de Março


11:30h. Sala Polivalente
Apresentação do livro “Lo que cayó del Conquero” (Antologia de Narradores Onubenses”

Apresentam:
Marcos Gualda
Uberto Stabile

Intervenções de: Rafael Delgado
Francis Vaz
Manuel Garrido Palacios
Manuel Moya

13.00h.
Cara a cara, verso a verso: espaços para a poesia

Manuela Ribeiro (Directora do Encontro “Correntes d'Escritas” de Póvoa de Varzim, Portugal)

Antonio Orihuela (Director do encontro “Voces del Extremo” de Moguer, España)

18:00h. Sala Polivalente

Apresentação dos livros e recitais poéticos dos autores da colecção Palavra Ibérica

“Las moradas inútiles”de José Carlos Barros (Vila Real de Sto. António)
“Só mais uma vez” de Uberto Stabile (Valencia)
“Pequeña antología para el cuerpo” de Luis Filipe Cristóvão (Torres Vedras)

20.00h. Sala Polivalente

No feminino plural

Margarida Vale de Gato (Lisboa)
Josefa Virella (Huelva)
Ana Mafalda Leite (Moçambique)
María Gómez (Isla Cristina)
Diana Almeida (Lisboa)
Rosario Pérez Cabaña (Sevilla)

22:30h. Gran Café Nexo

Pedro Afonso (Faro)
José Varós (Granada)
João Bentes (Faro)
Carmen Camacho (Jaén).
Eduardo White (Moçambique)
Antonio Orihuela (Moguer)

Double Jeopardy

amei duas vezes a mesma pessoa
primeiro o seu exterior que era tudo
depois o seu interior que era tudo
depois odiei duas vezes
essa mesma pessoa
primeiro o interior que era tudo
e depois o exterior que já não era nada


Tiago Nené
(Direitos Reservados)

.....

Papá, papá diz-me, porque estou sempre a voar? Porque ando sempre a fugir-me? Diz-me papá que eu ando tão perdido…O sonho, meu filho, não é fuga, é um sorriso da alma que nos fortifica o querer…Mas papá, diz-me, então porque ando sempre tão triste, e só me sorrio quando me invento?Tu inventas-te? Finges-te?Não sei papá, mas as minhas asas são desenhadas….Mas meu filho, tudo que é desenhado com o sentir, existe-te, porque é autentico…Papá, papá, mas eu não sei o que fazer com o sonho…Não faças nada com ele, deixa que ele se dissolva no olhar e verás que cada vez que isso acontecer, cresceste no teu caminho…Toma as minhas asas, papá. Não as quero mais…Não as posso aceitar, meu filho, cada um só pode voar com as suas próprias asas, não se empresta o sonho… Guarda-as com carinho, porque foram elas que te trouxeram até aqui.Papá, papá diz-me, porque é que quando voo sinto-me sempre tão sozinho…se tu também desenhas-te as tuas asas e voas, porque nunca te vejo no meu voar…O voar é o teu questionar, apenas te ensinei a acreditar nas tuas asas, se assim não fosse perderias toda a capacidade de as usar, porque elas só funcionam com o sentir, e esse meu filho tem a medida de cada um…



AUTOR ALMARO — August 29, 2005
.
Foto :Pedro José olhares.com.galeria pessoal


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

MEDIDA DESMEDIDA

No relógio do tempo precisei a tua postura, tentei definir a vertente do sentido, perdi-me na ausência, no sorriso escondido e nos olhares que embrulharam a definição. Tudo o que foi acrescentado não trouxe maior novidade, confesso que a descrição foi mais um conceito de servir à mesa… pena tudo estar tão mal estruturado. O comprometimento de mim mesmo revelou outro jogo… podes jogar acaso interesses maiores te despertem. O despertar é da manhã e o nome é da tarde… tomo-me na intensidade do estado de vigia e o silêncio é tão grande quanto os desenhos do entendimento, o jogo simultâneo das metades, num arrebatamento de nomes sem limite. O limite ficou por estabelecer desde o encontro das horas triunfais, aos nomes da cumplicidade exibida. Exibimo-nos! A constante é uma linha recta sem limite cujos parâmetros envolvem o carrossel da mutação. Criações e despropósitos unilaterais, este todo que se exibe lentamente pela linguagem nas suas formas. Somas e continuamos a ser por uma postura de engarrafamento, enquanto a mosca fareja os quatro cantos do lugar. Envolvimento… outra situação não pode ser, a voz do ser é no estado de consciência que lentamente se amplia, numa medida desmedida, ao total dos fragmentos a anexar ao somatório seguinte.

Aveiro, 21 de Fevereiro de 2008 – 11:04h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras

David Fonseca em concerto



O ESPECTÁCULO (assim mesmo, com letras maisculas) aconteceu no Theatro Circo, em Braga (a mais bonita sala de espectáculos que vi até hoje). E vale a pena ver o David Fonseca, também a Rita Redshoes, ao vivo.
A música em cima - Hold Still - é uma das preferidas do cantor, disse ele durante o espectáculo. Mas em Braga houve espaço para muito mais. Nomeadamente para o David, em tom jocoso, prometer que quando chegar aos 50 mil amigos no Hi5 fazer um concerto de estádio, em Leiria, só para esses amigos! :) E se por acaso o têm como vosso amigo, nunca lhe deixem comentários do tipo: "Gosto do teu profile" ou "És a estrela mais bonita que há no céu". Porque quando ele ler vai pensar: "Estás no bom caminho, estás!". Palavras dele!
Brincadeiras à parte, trata-se de um concerto memorável, com uma produção gigantesca, durante o qual se percebe por que é que o Dreams in Colour foi considerado pelos leitores da Blitz como o melhor disco de 2007. A música é muito boa, as letras também, as vozes do David e da Rita são mágicas!

Extracto de Reverso (part 1)

Iludi-me frente ao espelho Iludo-me frente a todos os espelhos que encontro na minha demente realidade Iludo-me na crença de que a minha carcassa vale algo e vale algo se pensar no repasto gula de vermes que aguardam sua missão de limpeza Iludo-me com o meu sorriso escarlate que lança um intimo reflexo de cumplicidade ilusória em um dia ser útil e iludo-me frente a cortina azul da casa de banho branca incandescente Em espelho ilusão/consternação iludo-me nas caricias de chuveiro hidratante em que só me iludo mesmo com a vida sem rumo que obstinadamente não consigo CONTROLAR

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

HOMENAGEM A TODOS

Ternura



Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada...

Olho a roupa no chão: que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio...

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente

que da nossa ternura anda sorrindo...
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!


David Mourão Ferreira

Ciúme

O problema de muitos homens é julgarem-se diferentes do que realmente são. Há aqueles que acreditam que são o D. Juan reencarnado. Outros julgam-se talhados para uma vida de astronauta ou de médico, quando não têm capacidades para ultrapassar profissões como as de pedreiro ou de mecânico. Há o professor que não sabe ler. Há o cantor que não tem voz. Há o político sem ideias nem retórica.

Costuma-se dizer que a vida é demasiado curta. Pois bem. Talvez se possa garantir que um homem que se engana é alguém que nunca teve tempo para se aperceber dos seus erros.

Frank era escritor por acaso. Não era dotado de uma grande capacidade criativa, tinha pouca (mesmo pouca) imaginação. Além disso, raramente escrevia. Era uma espécie de escritor que não conhecia palavras. A única coisa que levava Frank a escrever era um terrível sentimento: o ciúme.

Marta era bela e lasciva. Adorava o conceito de bigamia. Estava casada com um escritor consagrado e rico. Convinha-lhe andar por perto do sucesso e do dinheiro. Por ter todos os dias vários pretendentes a disputarem-lhe a cama, não poucas vezes se via obrigada a fornicar com mais de um homem em simultâneo.

De certa forma, Frank era beneficiado pelas tropelias de Marta, já que escrevia. Se ela se tornasse fiel, ele deixaria de saber manejar a caneta, deixaria de se torturar e de sofrer. Todavia, como todos os maridos traídos, Frank não tinha certezas quanto às escapadelas da mulher. Por esse motivo, escrevia frases como estas nos seus cadernos: «Queres acreditar que tudo o que te vem à cabeça é mentira, mas sabes mais do que ninguém que os teus pensamentos fazem sentido e que, por isso, poderão estar correctos.» Ou como estas: «Se, da mesma forma que podes alterar o teu interior – os teus sentimentos –, pudesses mudar aquilo que te é exterior – os outros –, serias um pouco mais feliz.»

Em certa ocasião, Frank sentiu-se mais inclinado a pensar que Marta trazia para casa o cheiro de outro homem. Esse cheiro excitava-o, dava-lhe vontade de espancar, de violentar, de matar. O cheiro de outro macho no corpo da sua fêmea despertava-lhe instintos malignos. Deixava-o com vontade de esmurrar, de partir. Os ossos da cara de Marta não estavam a salvo.

A consciência de Frank: «Olha para a mulher. Repara na forma como ela se movimenta quando faz sexo contigo. Já alguma vez te ocorreu a possibilidade de ela fazer isto com outros?»

Marta, a perfeita princesa, era de todos. Enquanto assim fosse, haveria comida naquela casa. No entanto, naquele dia, Frank viu-se obrigado a mandar a esposa para o hospital.


terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

assim como ela, apago-te da minha tela. e guardo esse pó numa caixinha.
assim como ela, guardo essa caixinha naquele lugar onde não vou todos os dias. preciso de espaço, assim como ela, na minha casa nova. e telas ocupam muito espaço.
rasgo as brincadeiras que pensei para ti; rasgo as perguntas que ainda tinha a fazer-te; assim como em qualquer história, fica tanta coisa por fazer...
guardo apenas e só, um pintor, com as suas telas; mas não na minha casa.
agora quero um escritor. os livros arrumam-se melhor, e a qualquer canto, e em todos os cantos. tu próprio construíste o teu canto para eles...
um dia destes... pode ser hoje... e hoje acabo-te, assim como ela…

A Ceia


Acrílico s/tela
técnica mista
2008
40x100cm
E cada homem é um livro onde o próprio Deus escreve.
" Victor Hugo"

O teu chá de tília...





Queres entender o que sentes mas não consegues...

Porque és assim?

Porque gritas tantas vezes preto...se aquilo que desejas é o branco?

Porque fazes tempestades..quando te apaixonas nos rios.

Tens um olhar triste..demasiado marcado por solidões e descrenças no teu ser. Já falhaste tanto..já bateste tantas vezes no fundo que é difícil para ti não temer voltar para ele. Fazes do pouco..muito! Se calhar nunca tiveste demasiado para saber aquilo que realmente tens nas mãos.

És assim porquê? Uma onda mal formada a rebentar de espuma amarelecida cheia de passados mal cobertos.

Se calhar és inocente demais na forma como sentes o mundo...ou então se calhar és mesmo só velha, porque te obrigaram a viver muito lentamente alguns instantes da tua vida e tu ganhas-te rugas sem que te dês conta que elas já lá estão.

Pedes que te entendam..para quê? Se nem sequer tu te consegues entender...

Fechas os olhos e imaginaste-te no teu sonho mais belo...na paisagem mais tranquila que consegues inventar dentro de ti.Por momentos,ficas calma e consegues realmente entender...entender as palavras dos outros...a sua tristeza para contigo...entendes os teus erros e prometes mudar.

Acreditas que consegues?Se calhar devias acreditar com mais força para marcares essa diferença que precisas para rasgares essa tua insegurança da pele e brotares por inteiro.

Ai que isto dói cá por dentro..que as verdades ecoam como lâminas,mas precisas mesmo de as ouvir!

Tens um olhar triste e gritas essa tristeza com violência mesmo quando te abraçam terno...

Menina inconsciente, porque não sabes ser Mulher adulta!

Porque acreditas num coração a bater..porque gostas de cantigas de embalar e de olhares apertados.

Devias usar tranças no cabelo e laços vermelhos nos sapatos...mas tens sonhos presos aos vestidos e rebuçados de mentol nos penteados.

Bebes chá de tília e atiras-te como louca para a tua cama desfeita e se o sol não vem fazes cair chuva do tecto só para te vingares da escuridão.

E isto entende-se?Essa forma estranha de te inserires na vida ?

Essa tua obsessão de sentir num mesmo tom, se sabes que as pessoas não são melodias perfeitas. Gostas do caos que se instala à tua volta quando cantas desafinada serenatas à tua alma..Talvez seja isso..entendes melhor o caos que a ordem das coisas.

Deixa-te estar caótica que a paz logo vem...apetece-te respirar fundo..sinto-o daqui. Nessa tua respiração intervalada com soluços breves...

Mas mesmo caótica, sinto-te agora estranhamente calma... como se tivesse por fim encaixado todas as peças daquele puzzle interminável com que a tua cabeça jogava...

Daqui a pouco estás outra vez ofegante e a misturar novas peças na tua cabeça... ou talvez não..ainda não consegues prever os teus gestos. Mas há algo diferente em ti..uma luz que se apagou por instantes mas que ainda se vê de longe no teu olhar...

Deixa-te ficar assim a lamber as feridas mas sem sangrar... a aprender porque lamentas perder quando foste tu que fizeste a guerra...

Mas estou a olhar para ti e acho..não tenho a certeza que hoje não te apetece dizer mais nada.

Guarda então as palavras no peito e entende porque é que este silêncio só te sabe a meio amargo...

Tens uma lágrima a cair dos teus olhos...tão pequena..e tão bonita que ela é.Deixa-a cair... faz todo sentido deixá-la pertencer ao teu chão.

Daniela Pereira

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

senseless



podia falar-te da única verdade suportável. a que habita a palavra pousada na ponta dos dedos. a que o olhar não questiona e a boca não pronuncia.




também aqui
foto de mariana castro

Hotel

Ele olhava-a com cara de quem a queria levar para a cama. Encontrava-se encostado ao balcão de um bar de hotel. Tinha dinheiro no bolso, bebidas caras nas mãos e muito álcool no sangue. Com quarenta e três anos, com três filhos e uma mulher linda de morrer, sentia-se profundamente atraído por aquela mulher que os seus olhos procuravam. Não sabia como meter conversa com ela. Não sabia se ela se interessava por homens como ele – ou por homens em geral. Apenas estava certo de que aquela era mais bonita fêmea que alguma vez vira na sua vida inteira. E estava a poucos metros dela.

Ela não queria saber de homens. Estava farta deles. Todos uns porcos, mentirosos, sujos, idiotas. Só pensavam em sexo. Quando conversavam com ela, não lhe olhavam nos olhos: procuravam-lhe os seios por debaixo do decote, procuravam-lhe os joelhos, que saias minúsculas não conseguiam esconder. Ela sabia que nunca poderia ser levada a sério por homens. Era demasiado bonita e sensual. Já havia pintado o cabelo de preto numa tentativa de perceber se eram os seus cabelos loiros que chamavam a atenção dos tarados, já havia tentado deixar de se maquilhar, de se vestir e de se comportar de forma provocante, mas nada. Por mais mudanças que fizesse ao seu corpo, continuaria a ser desejada por todos. No fundo, até gostava disso. Quando fosse velha, não teria oportunidades para se queixar de abundância. Gostava de ser desejada. O que a enojava era, por exemplo, a atitude de certos homens como aquele fanfarrão que, por ser mais velho, mais rico e mais convencido do que os outros que o rodeavam, olhava para ela como se estivesse escrito nas estrelas que fariam sexo. Era isso que lhe metia nojo: a mania de certos homens.

Bêbedo e excitado, ele sentia-se com confiança para defrontar a beleza da mulher mais bonita dos seus dias. Não poderia deixar que aquela oportunidade lhe passasse ao lado. Costumava ser um homem pragmático. Além disso, odiava Platão e não conhecia Petrarca. Se alguma coisa tivesse que acontecer, seria ali, naquele local, naquele momento. Dava-lhe a ideia de que ela lhe fazia um sorriso convidativo, que desejava que ele fosse na sua direcção e que lhe pregasse um valente beijo, daqueles que fazem uma mulher desmaiar. Ao mesmo tempo, sentia medo, vergonha. Ela era tão bonita, tão perfeita, e estava tão despida. Desconfiava que, pela primeira vez, não ganharia coragem para abordar uma mulher e arrancar-lhe o coração. Seria amor? Sentia vontade de ir ter com ela, no entanto, parecia que os pés se lhe prendiam ao chão. Tinha aquela sensação de «é ela, está ali, vai lá, não vás, tens vergonha».

Ele não se poderia apaixonar. Era casado.

Ela viu um homem a aproximar-se dela. Dava-lhe uma certa raiva porque tinha cara de cavalo garanhão e isso não fazia o seu estilo. Já tinha apresentado o seu sexo ao sexo de demasiados homens. Não precisava de mais fitas juvenis, não ansiava por mais conversas mentirosas, por mais palavras falsas. Olhou para a braguilha do homem que se aproximava e reparou que ele tinha o pénis erecto. «É grande», pensou.

«Olá, como vais?», perguntou ele.

«Mal, e tu?», respondeu ela.

«Estou a ficar apaixonado por ti. Mas tenho um problema. Tenho filhos para sustentar.»

«Essa é boa. Gosto de sentido de humor.»

«E de bom sexo», acrescentou ele.

«Como?»

Ele beijou-a na boca. Ela deu-lhe um estalo mas, lembrando-se do pénis erecto e sentindo-se atraída por aquele idiota que a enjoava com tamanha arrogância, puxou-lhe a gravata e beijou-o.

Eles dormiram juntos naquela noite, naquele quarto de hotel. Permaneceram juntos nas semanas seguintes, nos meses seguintes. Quando a mulher dele ligava a pedir satisfações, ele dizia que já não queria saber dela, que estava a sentir amor pela primeira vez. Quando os filhos ligavam, ele nem sequer falava. Não tinha paciência.

«Sabes», disse-lhe ela uma vez, «também sou casada».

Ele não se importou e continuou a amá-la. Mas ela disse que gostava mesmo do marido. E ele chorou e perdeu a mulher e a simpatia dos putos. Ficou com a bebida e com as mulheres de rua.

SURPRESAS DO QUOTIDIANO

Gostava de perceber aqueles conceitos que ficaram esquecidos na outra promessa, na sala de estudo, entre tantos livros e lábios de romãs, flores e outros frutos silvestres. Ficou na gaveta do quarto uma carta escrita, dentro do meu caderno de apontamentos, não te esqueças de me relembrar logo que possível, está lá uma nota para ti! Ficaram resmas de folhas por ler e o crime da obrigação foi anulado depois do telefonema. Simplesmente esqueci e olhei-te como se nada fosse… de todas as vezes nunca nada é, penso que apenas um sorriso coloca tudo em dia, ainda que esse dia não chegue ou que se pense que esteja para breve. Tu chegas sem chegar, telefonas-me, falamos um pouco e nada dizemos, os conteúdos do dizer perdem-se em devaneios, alguns fora das estruturas que estão em actividade, como o vulcão que está no teu coração. O pensamento continua em permanente actividade… tu circulas em meu redor e os dias são sempre uma promessa de tantos acontecimentos, longos por vezes. Encontramo-nos no bar dos costumes habituais e não nos identificamos, apenas tomamos café pelas mesmas chávenas e somos servidos pela mesma empregada! Sabe bem! Fico à esperar da tua mensagem, o lugar do olhar, a coragem se a tens guardada… que não passe apenas de letra morta entre tantas situações que se consideram e desconsideram, tal como as borras do café. Promessas são sempre situações que por vezes não passam de constantes vazios, simulacros de um todo que nada tem, ou se tem é apenas para criar a situação de ilusão.
A tarde tem a sua parte misteriosa, não chega para te escrever tudo quanto penso e sinto, apenas te digo o que me convém, nada mais do que isso. A porta fica aberta… Entras no meu espaço, olhas, continuas a olhar e disfarças, continuas ainda a disfarçar, como se eu não entendesse nada, convém essa situação. Lês os meus escritos, continuas a ler e não compreendo a tua atitude, procuras tudo o que é meu, como se fosse urgente, continuas a pesquisar, a citar e ficas numa euforia total.
Abro o dossier e o sopro do vento escancara o meu rosto, página a página, como se tudo estivesse preparado para um encontro especial, com o banquete das obrigações. Acabaram no meu átrio as obrigações!
Não és capaz de concretizar a tua palavra e dizes muitas coisas boas de mim, falas e continuas a falar, como se afinal eu fosse alguma pessoa interessante. Não será que te estás a enganar? Não conheces a minha alma, pensas que sim! Fica o convite para um café, para pegar na chávena e tomar da mesma os aromas e numa circunstância catártica tomarmo-nos e tornarmo-nos na essência daquilo que na verdade somos, frutos silvestres. Questões de linguagem e adequações a uma realidade própria… pela linguagem traduzes a tua interioridade, talvez eu faça o mesmo em relação a ti. Escolhemos, absorvemos e no acto do espelho dos olhos somos pelos aromas envolventes. A existência é sempre um envolvimento permanente. Queres continuar? Tens a certeza? Será? Vens? Quando? Apenas questões que pouco servem para alguma coisa ou a coisa de que servem não está disponível, pelo menos por agora.
Não sei o que falta! Talvez falte tudo e esse sorriso deixa-me imenso a desejar… desejamo-nos e ponto final. Hipótese vazia de conteúdo é uma hipótese. Escolhemos a situação? Queres reflectir comigo? A oportunidade fica em aberto… o quotidiano está cheio de surpresas. Falta sempre alguma coisa… o que falta aguarda o seu tempo de esclarecimento.

Aveiro, 18 de Fevereiro de 2008 – 16: 12h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras

NOITE, DIA...


É madrugada.
seu nome anda em minha boca
e as estrelas,
atrizes,
fingem não perceber
meu canto triste.

o dia espera,
como se toda solidão
pendesse das cortinas
e pudesse se soltar
ao amanhecer.

Que sabem os astros
do percurso entre a noite e a manhã?
Andam por lá...
das minhas dores, inocentes.
(destas, só eu sei).

domingo, 17 de fevereiro de 2008

adivinhem quem está de volta...


Exacto, até Hollywood anda a aproveitar o Nostalgia Market, depois de Rocky no ano passado este ano esperam-nos o Indiana Jones e o Rambo (já nos cinemas) e, segundo alguns rumores, até o Roger Rabbit vai voltar ao grande ecrã... sintomática esta falta de inspiração em Hollywood. Aparentemente os anos 80 foram mesmo os anos de ouro, e esta hein?

Distâncias do sentir



Há silêncios que agridem, outros há, que abraçam. Entre eles, há um enorme abismo de vazios...

Autor:Almaro
18/02/2005
Foto:desconheço o autor

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Se ouvir




















Há luz, há cor
em todo esse labor
da tua escrita.
Mesmo da palavra dor
se solta amor:
é isso que
- se te ouvires -
tu gritas.

in Ver inVerso

Amálgama de fim-de-semana

Há bocado alguém lembrou que a BIC fez 50 anos. Eu tenho saudades das MOLIN, também escreviam bem e magoavam menos nos dedos porque, na zona que apoia no dedo médio (quando se escreve) não tinham arestas como as BIC, eram mais redondinhas. Isso era na minha infância, mais ou menos, na mesma altura em que os programas que passavam repetidos na televisão tinham a indicação de "diferido". Aliás, aprendi o significado de "diferido" enquanto a RTP passava jogos de futebol que já haviam acabado há horas (para não dizer dias), ou transmitia o Eurofestival da Canção quando já se sabia que a Irlanda tinha ganho pela 3ª vez consecutiva. Foi coisa que nunca percebi, se já se sabia o resultado do jogo, qual o interesse de se ocupar tempo de emissão com coisas velhas?

(também na minha morada no Atlântico Norte)

À solta

Instrumentos a postos, corpo e alma a envolverem-se como um cocktail. Os olhos procuram as notas musicais perdidas no penteado do dragão de mil cabeças. Luzes, acção. Deixam de haver indivíduos, deixa de haver privacidade, deixa de haver amanhã, deixa de haver vocabulário, deixa de haver hesitação, deixa de haver uma ou outra lei. Um ciclone de som mistura tudo. Acelera, abranda, mantém o ritmo preso a cada coração. A luz assiste e diz que sim a tudo. Acena que sim tantas vezes que deixa de ter personalidade e mal se dá por ela. Três, dois, um. A hora não estava marcada mas o regresso sim. As portas dão lugar a braços. Braços imensos que empurram mas sorriem, cumplices.
Num outro momento tudo será lembrado, ainda que a repetição só seja possivel no sangue que cada um gravou.

Também aqui
http://www.mentequebrilhas.blogspot.com/

De uma música

Ela: Consegues adivinhar os meus pensamentos?

Ele: Não.

Ela: Consegues adivinhar os meus pensamentos?

Ele: Fala-me acerca dos teus pensamentos. Entrega-me o teu interior.

Ela: Consegues adivinhar os meus pensamentos?

Ele: Sou teu. Faço tudo para adivinhar o que te vai na mente. Vou aprender a linguagem do teu coração.

Ela: Não consegues adivinhar os meus pensamentos, pois não?

Ele: Aprendo depressa. Dá-me tempo.

Ela: Adeus.

Daqui.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Abismos 11


Técnica mista
acrílico s/tela
80x100cm
2008

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

O outro lado....Talvez.



Talvez





Talvez até a Vida seja simples

Os meus lábios são por exemplo

Feitos de vento

E a minha voz é uma cortina de fumo

Para me defender do frio




Lembrei-me um dia

De cortar os dedos

Para não mais escrever poesia.

(Nunca chorei tantoem toda a minha Vida!…)

Hoje tenho a convicção das dunas.

E sei que os meus cabelosEscrevem 365 livros por ano

E

Procuro sozinha o Infinito.




(poema Maria Azenha)

Fotografia de Mário Godinho: O outro lado

Movin´ on


Gargalhada interior. Hiperventilação arterial.

O riso que nos devolve a infância em que percorremos caminhos de terra e bosque onde cada montículo deste belo paraíso terrenal nossa terra nos impulse para a aventura.


Sou Alexandre o grande... O domador do leão persa... Sou Robín dos pobres e mato o terrível duque de Nothingam, o maldito fascista de merda.

Não... Nada disso... Sou Merlín, o grande Merlín e fundo-me nas arvores e o seu manto verde de esperança. Verde de vida. Vivo em magia, respiro em liberdade.


Acordo.


Acordamos sempre nos momentos de gloria...

É o efémero cintilar do tempo, onde um pestanejar nos remete para a realidade que já não somos crianças. É a cruel noção do relógio que tiquetaqueia continuamente. Nisso não posso. Nisso não podes fazer nada!

NÃO.

Não entres em pânico, a vida são dois dias e amanhã será bonito... Ou será alegre... O fim não é um final... É apenas um novo começo... Não te falhes... Não te inibes. Simplesmente vive. Deixa viver.


Tic... Tac. Tic...Tac. Tic ... Tac.

Time keeps movin´ on.


Amanhece como se o sol ainda não tivesse conhecido Luna. Como se ainda não tivesses encontrado a almofada que repousa sobre o teu leito de sono. Nada que te realize é supérfluo! Volta a ser criança, nem que atrai o desdém dos usurpadores de consciência. Quem te quer te acompanhará na aventura dos sentidos. Não tenhas medo.

Não tenho medo! O movimento é forward with a right step backward.


Tic. Tac.


Caminho para a verdadeira essência das águas em movimento. Desaguarei no oceano as minhas magoas. Renascerei de novo e voltarei a tiquetaquear incessantemente até que a pilha se caduca... Até que a energia não se renova. É o cruel destino do tempo.

Tempo que não devemos deixar escapar!

Volta aos teus sonhos de criança.


Agarra o tempo perdido.

Faz mil e uma revoluções. Renova o mundo. Promove a utopia. Cresce como uma semente em terra de cultivo de bosque. Volta atrás quando necessário e volta. Continua andando. Continua amando.


As rotações do próprio ser são assim de rítmicas.

Sou Napoleão e já não quero continuar a guerra. Sou Truman e já não dou a ordem de lançar a bomba H. Sou Jesus e volto para mostrar o verdadeiro sentido das palavras que outros mal apropriaram.


Acordo.


Volto do sonho. Este preciso Tic... Tac... É meu. Volto ao meu tempo... Volto ao meu momento. Basta de ilusões. Tenho que controlar-me! Tenho que enfrentar-me!


Tic. Tac. Tic. Tac.

O tempo caminha. O tempo avança. O tempo muda.

Tic. Tac.


( silencio)


O tempo tiquetaqueia! Não quero perdê-lo!




Insónia

"Everything good is the transmutation of something evil: every god has a devil for a father."
Friedrich Nietzsche

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Bilhete sem volta

Frank abriu o jornal e deu de caras com uma notícia na qual se dizia: «Quatrocentos mortos num acidente ferroviário no país X.» Como eram oito da manhã e não lhe apetecia tomar o pequeno-almoço a ver fotografias de gente sem braços, sem pés, empurrou o jornal para o lado. Começou a comer.

Em cima da mesa, estavam os ingredientes necessários para encher um estômago: fiambre, queijo, pão, ovos, manteiga, leite, café, chá, sumo natural. Dentro dos seus respectivos quartos, dormiam duas crianças e uma mulher bonita, desejável. Na garagem, descansava um carro caro.

Frank não tinha fome. No entanto, há certas coisas que não necessitam da vontade humana para que aconteçam. O hábito, por exemplo, é uma dessas coisas. Não tendo vontade de comer, Frank comeu. Mas mais importante do que a comida eram os pensamentos que atravessavam a mente do homem.

A mulher e os filhos dormiam como anjos. O carro perfeito estava na garagem. O dinheiro enchia-lhe os bolsos das calças. Porém, Frank sentia-se dominado pela tristeza. Olhava para o jornal e sentia pena dos que passavam fome, dos pretos, dos asiáticos, das mulheres violadas, dos vagabundos, dos ateus e dos cães. Queria ajudar. Queria alterar a ordem do mundo. Mas como?

Pegou numa mochila, enfiou algumas camisas de linho lá dentro e pôs-se a andar. Atirou o telemóvel para o chão, escarrou num caixote de lixo e, num claro sinal de convivência mundana, pôs os intestinos a cantar. Estava, realmente, apto para salvar as crianças africanas.

Passado um ano, Frank voltou à casa de onde partira. Em doze meses, fora roubado, torturado, violado, espancado. Em África, haviam-lhe tirado tudo o que levara de bom (o optimismo).Queria voltar ao ponto de partida, isto é, ao momento em que abrira o jornal e dera de caras com os mortos.

Dirigiu-se ao quarto da mulher: dormia. Os filhos também dormiam. Quando procurou a poltrona da sala para descansar, reparou que as fotografias penduradas nas molduras das paredes eram outras. A sua esposa, a mulher com quem perdera a virgindade e quinze anos de vida, aparecia em todas elas ao lado de outro homem.

Nada poderia voltar ao mesmo.

Frank já não era ninguém dentro daquela casa. Não passava de uma memória alegre de tempos antigos. Na prática, já estava morto.

00:04

Rainha Branca



Calei-me
e um silêncio estranho
sentou-se no horizonte,
encalhado em nuvens de pedra
fincadas na vontade.
.
Um silêncio fechado
à porta dos sentidos,um silêncio trespassado
por um vento de cardos
agrafado aos ossos das palavras
cegas com o ruído de tanta claridade.
.
Foi no mar desmedido do meu tédio
que gritei à ilha que te cerca,
que te vi,
rainha branca
emergida do nevoeiro do silêncio
em cabelos de água
de ondas calmas sem fim.
.
E o mundo voltou a sorrir ao espelhar-se nas estrelas
do incêndio dos teus lábios,
ao apagar-se no conforto
do murmúrio dos teus olhos,
porque lemos nos ecos da escuridão
as vozes que escrevemos corpo a corpo.



Poema: Nilson Barcelli © Agosto de 2007
Fotografia: Ira Bordo

Manifesto à Fé no Homem

Em Mural (não grafitado)
Manifesto à fé no Homem

"Preciso que os verdadeiros Amigos se revelem!
Preciso que se mostrem, que apareçam, que me olhem nos olhos.
Que não digam: “Estou Aqui”, mas que mostrem que o estão.

Preciso que os verdadeiros Amigos se revelem!
Que venham agora, que falem,
Que murmurem, que gritem bem alto,
Mas que falem …Agora…ou se calem para sempre!

Preciso que os verdadeiros Amigos se revelem!
Que mostrem onde estão, onde ficam.
Os verdadeiros, os incondicionais, os honestos,
Os 100%, os totais, verticais…AGORA!

Que apareçam, que me toquem,
Que me abracem, que me batam até, ou que me abanem,
Mas que se revelem…
Os verdadeiros…
Os Amigos.

Não quero palmadinhas nas costas,
mãos pela cabeça,
sorrisos de ruga forçada.

Não quero mentiras, ideais de revista,
frases feitas, enganos, traições.
Não quero egoismos, umbiguismos, nem egos!

Quero amizade! A pura, a verdadeira, a do companheirismo…
A dos livros?
Quero Amigos Humanos, honestos,
Verdadeiros, confiáveis, incondicionais.

E esses Amigos, os que são mesmo Amigos,
Que se mostrem AGORA. Quem são?
Preciso que se revelem…Agora…
E façam-no agora, ou nunca mais.

Acabe-se a hipocrisia, o teatro,
o fingimento, a palavra forçada, a mentira!
Acabe-se com os olhos no chão,
o disfarce, o sorriso fingido, a palavra vã.

A Amizade não se joga!
Vive-se, investe-se, alimenta-se
Ontem, hoje, AGORA, sempre.

E esta é a minha fé no homem.
Fé que está trémula e quase a extinguir-se,
Como a luz de uma vela
Ao sabor das traições do vento de rajada.

Preciso de Esperança!
Preciso de Fé!
Preciso que os verdadeiros Amigos se revelem…

...Ou então, por favor, calem-se para sempre!
E Deixem-me, também a mim, agir com o mesmo cinismo e cepticismo…
mas então, nesse caso, serei assim agora, sempre e para sempre.

Preciso que os verdadeiros amigos se revelem,
ou Preciso que alguém acabe com o sonho, com a minha fé…AGORA "

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


Despedimo-nos… despedimo-nos…

Deixamos para trás um rasto de destruição

No meio daquela multidão um silêncio

Devastou os corações apinhados de dor,

De sofrimento, de sentimento de extravio

Corações ensanguentados, cheios de dor de culpa

Por ser nada mais que uns simples mortais

Impossibilitados de agir contra as forças naturais.

Quantos de nós partiram jornada dando-se completo

Graças às promessas vazias, vãs de melhores

Proscénios para recitar a existência,

Mas… compõe….

Mera fantasia, em fortalezas quiméricas.

Resta-nos mãos sujas consciência penosa

Cabisbaixo e a revolta de um dia ter partido

De um porto em paz e atracar noutro levando

Ventos apoquentados de conflito.



Leonardo

Insânia


Talvez eu não possa amar-te

talvez a insanidade dos meus sentidos revogue
a serenidade de um poema ladeado de lírios e organzas
e me acerba esta vontade de te rasgar a pele
e colar-me a ti

talvez a sede de mulher sugue
as palavras doces da tua boca
e me atice esta vontade de te trincar os lábios
e beber-te o sangue

talvez o despropósito do meu ser arranque
as raízes dos teus braços
e me enlouqueça esta vontade de te roubar ao mundo
e fundir-te em mim

talvez eu não possa amar-te
com a lógica da razão

amarra-me então o corpo
mas liberta-me deste coração

para que eu não possa
amar-te

Vera Carvalho

Foto de Sónia Cristina Carvalho
Também em http://petalasminhas.blogspot.com

the violation of the humanity


A Violação da Humanidade

Mistura de tristeza, desespero e sofrimento,

Violando a alma, e o coração…

Coração que apenas sofre a cada momento,

Que trás infelicidade, ausência de emoção…

O sofrimento percorre o corpo e o espírito rapidamente,

Num vazio profundo que parece não terminar.

Tantos pensamentos voam na mente,

E, esta dor que não pára de torturar!

Solidão presente, assim como um desespero duro,

Tudo deixa de ter sentido, coerência!

Apenas o frio e a ausência têm margem…

Sobre a vida abate-se este pranto escuro,

Fica apenas a frase em persistência:

“Pai, perdoa-lhes, porque não saber o que fazem!”

Cátia Rodrigues

wake me up


A Primavera trouxe pendurados nas copas das árvores pedaços de memórias tuas. Mas dentro de mim vive ainda uma estação que desconheço. Que não muda com a chegada das primeiras flores ou com o canto dos pássaros pela manhã. Procuro-te ainda em todos os rostos, em todas as coisas. És uma sombra que me cobre com o seu manto e me faz manter as janelas fechadas. Tenho medo da luz. Medo que ela não te devolva como te devolve ainda o meu sono.

Foto: June Miller
Também aqui




Hoje, às 18 horas, no Salão Nobre da Universidade Aberta (Rua da Escola Politécnica, 147, Lisboa), será apresentado (por Teresa Joaquim e Anabela Galhardo Couto) o livro A Neo-Penélope, o mais recente de Ana Hatherly, por ocasião do encerramento do mestrado de estudos de temática feminina, leccionado por esta poeta-pintora.

Quanto a mim, este é um livro que ultrapassa em ousadia tudo o que se vai fazendo na poesia actual. Um livro surpreendente, sobretudo tendo em conta que a Autora está à beira de comemorar os 50 anos do seu primeiro livro. Um livro de rotura, como toda a restante obra desta Mulher que sempre se sustentou na Tradição para se colocar na vanguarda.

Romance Sonambulo





Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar
y el caballo en la montaña.

Con la sombra en la cintura
ella sueña en su baranda,
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Verde que te quiero verde.
Bajo la luna gitana,
las cosas la están mirando
y ella no puede mirarlas.

Verde que te quiero verde.
Grandes estrellas de escarcha
vienen con el pez de sombra
que abre el camino del alba.
La higuera frota su viento
con la lija de sus ramas,
y el monte, gato garduño,
eriza sus pitas agrias.
Pero ¿quién vendrá? ¿Y por dónde...?
Ella sigue en su baranda,
verde carne, pelo verde,
soñando en la mar amarga.

--Compadre, quiero cambiar
mi caballo por su casa,
mi montura por su espejo,
mi cuchillo por su manta.
Compadre, vengo sangrando,
desde los puertos de Cabra.
--Si yo pudiera, mocito,
ese trato se cerraba.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
--Compadre, quiero morir
decentemente en mi cama.
De acero, si puede ser,
con las sábanas de holanda.
¿No ves la herida que tengo
desde el pecho a la garganta?
--Trescientas rosas morenas
lleva tu pechera blanca.
Tu sangre rezuma y huele
alrededor de tu faja.
Pero yo ya no soy yo,
ni mi casa es ya mi casa.
--Dejadme subir al menos
hacia las altas barandas.
¡dejadme subir!, dejadme,
hasta las verdes barandas.
Barandales de la luna
por donde retumba el agua.

Ya suben los dos compadres
hacia las altas barandas.
Dejando un rastro de sangre.
Dejando un rastro de lágrimas.
Temblaban en los tejados
farolillos de hojalata.
Mil panderos de cristal
herían la madrugada.

Verde que te quiero verde,
verde viento, verdes ramas.
Los dos compadres subieron.
El largo viento dejaba
en la boca un raro gusto
de hiel, de menta y de albahaca.
¡Compadre! ¿Dónde está, dime
dónde está tu niña amarga?
¡Cuantas veces te esperó!
¡Cuantas veces te esperara
cara fresca, negro pelo,
en esta verde baranda!

Sobre el rostro del aljibe
se mecía la gitana
verde carne, pelo verde,
con ojos de fría plata.
Un carámbano de luna
la sostiene sobre el agua.
La noche se puso íntima
como una pequeña plaza.
Guardias civiles borrachos
en la puerta golpeaban.
Verde que te quiero verde.
Verde viento. Verdes ramas.
El barco sobre la mar.
Y el caballo en la montaña.


Federico García Lorca