segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

SURPRESAS DO QUOTIDIANO

Gostava de perceber aqueles conceitos que ficaram esquecidos na outra promessa, na sala de estudo, entre tantos livros e lábios de romãs, flores e outros frutos silvestres. Ficou na gaveta do quarto uma carta escrita, dentro do meu caderno de apontamentos, não te esqueças de me relembrar logo que possível, está lá uma nota para ti! Ficaram resmas de folhas por ler e o crime da obrigação foi anulado depois do telefonema. Simplesmente esqueci e olhei-te como se nada fosse… de todas as vezes nunca nada é, penso que apenas um sorriso coloca tudo em dia, ainda que esse dia não chegue ou que se pense que esteja para breve. Tu chegas sem chegar, telefonas-me, falamos um pouco e nada dizemos, os conteúdos do dizer perdem-se em devaneios, alguns fora das estruturas que estão em actividade, como o vulcão que está no teu coração. O pensamento continua em permanente actividade… tu circulas em meu redor e os dias são sempre uma promessa de tantos acontecimentos, longos por vezes. Encontramo-nos no bar dos costumes habituais e não nos identificamos, apenas tomamos café pelas mesmas chávenas e somos servidos pela mesma empregada! Sabe bem! Fico à esperar da tua mensagem, o lugar do olhar, a coragem se a tens guardada… que não passe apenas de letra morta entre tantas situações que se consideram e desconsideram, tal como as borras do café. Promessas são sempre situações que por vezes não passam de constantes vazios, simulacros de um todo que nada tem, ou se tem é apenas para criar a situação de ilusão.
A tarde tem a sua parte misteriosa, não chega para te escrever tudo quanto penso e sinto, apenas te digo o que me convém, nada mais do que isso. A porta fica aberta… Entras no meu espaço, olhas, continuas a olhar e disfarças, continuas ainda a disfarçar, como se eu não entendesse nada, convém essa situação. Lês os meus escritos, continuas a ler e não compreendo a tua atitude, procuras tudo o que é meu, como se fosse urgente, continuas a pesquisar, a citar e ficas numa euforia total.
Abro o dossier e o sopro do vento escancara o meu rosto, página a página, como se tudo estivesse preparado para um encontro especial, com o banquete das obrigações. Acabaram no meu átrio as obrigações!
Não és capaz de concretizar a tua palavra e dizes muitas coisas boas de mim, falas e continuas a falar, como se afinal eu fosse alguma pessoa interessante. Não será que te estás a enganar? Não conheces a minha alma, pensas que sim! Fica o convite para um café, para pegar na chávena e tomar da mesma os aromas e numa circunstância catártica tomarmo-nos e tornarmo-nos na essência daquilo que na verdade somos, frutos silvestres. Questões de linguagem e adequações a uma realidade própria… pela linguagem traduzes a tua interioridade, talvez eu faça o mesmo em relação a ti. Escolhemos, absorvemos e no acto do espelho dos olhos somos pelos aromas envolventes. A existência é sempre um envolvimento permanente. Queres continuar? Tens a certeza? Será? Vens? Quando? Apenas questões que pouco servem para alguma coisa ou a coisa de que servem não está disponível, pelo menos por agora.
Não sei o que falta! Talvez falte tudo e esse sorriso deixa-me imenso a desejar… desejamo-nos e ponto final. Hipótese vazia de conteúdo é uma hipótese. Escolhemos a situação? Queres reflectir comigo? A oportunidade fica em aberto… o quotidiano está cheio de surpresas. Falta sempre alguma coisa… o que falta aguarda o seu tempo de esclarecimento.

Aveiro, 18 de Fevereiro de 2008 – 16: 12h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras

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