segunda-feira, 31 de março de 2008

"Café" Acrílico s/ tela 60 x 100

RASTO ILEGÍVEL

Nessa forma incompleta do sentir tomo-me, pelas expressões que não entendes, no fogo interessante que se extingue. O meu corpo anula-se lentamente, num processo descontinuado, caracterizado pela mudança do olhar, ante mudanças que se interceptam, no compromisso das palavras e no desejo que se arruma circunstancialmente. Formas transcendentais dirás tu, rumo ao tenebroso de nós, o mim e o eu, numa entrega interminável que nunca se atinge. Momentos que se pensam viver, palavras que fazem a diferença modificando a essência do trivial, o banal de um desejo que se consome lentamente.
O esquecimento por vezes é útil, é o verdadeiro tranquilizante de situação! O comum é a caminhada, onde os reflexos do olhar conjugam propósitos, alguns azedos, outros menos em acordo com os fantasmas de ocasião. As palavras tentam exibir realidades… essas mesmo onde nos conjugamos, no aroma do amor eterno.
O convite para a eternidade foi feito desde o primeiro olhar, tomando os meus olhos uma outra postura, apesar da cegueira que se aproxima! Pouco a pouco o desvanecimento acontece, toma os mais perspicazes e corrompe a vontade do agir consciencioso.
Nesta desarrumação que me permeia, envolvo-me na força da ausência para um outro tempo, esse tempo que não tem tempo. Aqui, sentado, tomo-me no pensamento, medito… entendo por descabidas as tuas atitudes, como se fossem benéficas para alguma coisa, ou se por as mesmas me tentasses magoar, como em outros tempo o fazias. Descontracções, situações que crias que não servem para nada. Lamento a tua postura e entendo que andar atrás de ti não adiante nada nem contribui para provar o quer que seja. Sabes do que falo, não é preciso outras formas de expressão, apesar de parecer enigmático e o uso de metáforas ser uma constante. Nada ganhas com essa postura, pelo contrário! Não és a única pessoa que existe no mundo e assim todo o resto fica clarificado. Tenho dito! As energias renovam-se e as caminhadas surgem naturalmente… preocupar-me com o que não sente a vontade de estará comigo já deixou de ser condição da minha moral ou hábito de um dia desarrumado, as tuas acções anularam a minha postura. O esquecimento pode ser terrível e os sabores desvendam novos valores, novos preenchimentos.
O sentido do significado é sempre na consciência do próprio, emparelhando com as suas motivações e desejos, cada qual tomando o rosto da sua sensibilidade. Enamoramo-nos nas palavras e nelas dissolvemo-nos, restam apenas fronteiras cúmplices de uma projecção sem nome, caracterizando a antecipação do ser, ante o grito e o esplendor da existência. Até breve! Deixo-te o rasto ilegível da minha fraca dedicação… não é preciso mais, o que tens é o necessário para ser caricato.

Pombal, 30 de Março de 2008 – 16:00h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras


"Folhas" Óleo s/ tela 80 x 100

Hora de Primavera


A hora mudou.
Traz luz, cores, cheiros.
Pequenos pós,
Soltos, reluzentes

Frutos de uma semente
Fecundada em terra,
Criada na harmonia
De uma esperança sem fim

Na ânsia de ver chegar
Aquele tempo
Em que a hora muda
E a Primavera
Muda-nos

domingo, 30 de março de 2008

Peregrinos 3


óleo s/tela
2008
50x40cm

Caracóis

O meu apetite deserto fez-me criar amizade com dois caracóis. Disse-lhes que se eles quisessem, e em virtude de me terem ouvido tão pacientemente, poderia possibilitar-lhes, por algum tempo, a vida que os humanos levam. Quando o meu apetite se alagou de novo, chamei-os para a mesa e todos comemos caracóis. Porém, senti-me vexado ao constatar que eles levavam muito tempo a comer, logo suspeitando que não os tinha confeccionado bem. Depois, o Rafael tranquilizou-me, dizendo-me que só se estavam a certificar que não comeriam nenhum familiar.


Tiago Nené
(antes publicado no blogue do Texto-Al)

sábado, 29 de março de 2008

Despedida em pensamento...





De leve, as palavras tombam como as folhas secas. Pisamos o seu significado.
Foram demasiados suspiros em silêncio. Sei que as ondas não podem levar-te esta mensagem, esta carta. Por isso rasgo-a. Esperei demasiadas vezes, não me iludo mais. Dou uma estalada no destino e sigo em frente. Deixo para trás aquele amor de tantas primaveras.


As pegadas apagam-se pelas tempestades de areia na praia; o vento penteia-me o cabelo; abraço o meu corpo e rastejo nos pensamentos antepassados.


As lágrimas enrolam-se na garganta. Prometo fechar o baú de todas as memórias que me ligam à cor dos teus olhos que permanece na íris do mar.


Deixo cair as pálpebras. Escrevo os últimos versos debaixo da vénia da sombra das nuvens. Lá longe, debaixo da linha do horizonte, sei que ouviste este último desabafo.


Sento-me no chão, envolvida na espuma das ondas e coloco o búzio perto do ouvido. Acalmo o ritmo do batimento cardíaco. Revivo os enigmas da infância encerrados dentro do enigma de um búzio perdido.


Há dias em que a alma nos rebenta nas mãos, como uma bomba cronometrada no tempo. Há dias em que até um ramo de flores não chega para perdoar alguém. Há dias em que até a própria chuva parece ser as nossas lágrimas a desabar do céu. Há dias em que o chão estremece e nos deixa desamparados. Há dias em que o corpo tem medo de falar. Há dias em que em algum lugar incerto da alma, as costuras das feridas rompem, e o sangue escorre como nas cheias, pelas ruas em direcção ao abismo.


Separo-me da imagem do teu corpo. Em breve seremos apenas isso: desconhecidos.


Há destinos que nunca se cruzam.
Por mais que tentem cruzar-se dificilmente se encontram.


(Texto e fotografia de Liliana Jasmim)

sexta-feira, 28 de março de 2008

Extracto de Em busca ( Part two final)

Ilumina liberdades!
Expressa-te!
Futuro que ri
Arvore que germina
Que deparas debaixo das águas oceânicas?
Na baía tudo está calmo...
Como em uma fotografia de outros tempos
Que me deparas Vida?
Vida que sinto a flamejar transparente no eco do horizonte
Espero-te... Sorri-me de novo...
Cobre-me com esse manto de terra permeável
Com essa crosta de musgo vivo
Ampara-me...

J' ai vu le dessein


Agora!...
Tudo me parece diferente como em outra mente

Tudo o que fizer é uma doação ao Universo
Ao meu berço como Homem
Ao ar que vivo
À agua que me conduz à inspiração
À terra que vibra a meus pés
A todos os seres que partilham e compartilharão indiscutivelmente comigo a beleza da existência
Sou um mero expectador...
... Sou um mero sonhador...
Sou um mero escritor...
A riqueza provém dessa observação
A riqueza é partilhada
Desfazer-me dela é a questão
Queimarei todas minhas mansões e tesouros
Tudo para manter essa minha depressão

Já abriu o blogue do Texto-Al




Nas palavras do brilhante escritor Luís Ene o Texto-al é um grupo de pessoas que gosta de ler e de escrever; assim, o que aparecer neste blogue, terá a ver com o que alguém leu ou escreveu, ou com actividades relacionadas com ler e escrever, quer sejam produzida ou não por nós. Tão simples como isto. Para quê complicar?

Eu acrescento que é um grupo informal de pessoas unidas pelo interesse e pela paixão pela literatura. Reúne todas as terças-feiras no Club Farense (na baixa de Faro) pelas 21.30.

O blogue (aqui) é actualizado regularmente pelos membros deste grupo, que pretende ser a maior referência literária do Algarve.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Serial-killer atípico

Tens um machado na mão esquerda. A tua mulher, a mulher com quem te casaste, está na cama a dormir. Ela não é culpada de nada do que te tem acontecido nos últimos anos. Para dizer a verdade, ela tem sido a tua maior segurança. Não a culpes, não a odeies em silêncio. Mais importante: não a castigues. Ela nunca te traiu, faz-te o jantar todos os dias, lava-te a roupa, deu-te três lindos filhos. Já reparaste que aqueles três miúdos que dormem no quarto do lado são teus filhos, sangue do teu sangue?

«Fruto do meu sémen.»

O telefone não tem tocado, o carteiro não tem trazido cartas, os livros não têm sido lidos. O pior de tudo tem sido a falta de leitura. Nenhum homem que tenha o vício dos livros se consegue afirmar totalmente sozinho. Gostas de ler, claro que sim. Chegas a despachar quatro e cinco livros por semana, ninguém quer duvidar disso. Os teus olhos apenas não se têm dignado a passar pela cultura. Sentes-te só.

«Sinto-me no lixo.»

Financeiramente, a vida não te poderia correr pior. Não tens dinheiro para pagar os empréstimos contraídos ao banco. Gostas de te vestir bem e, por conseguinte, costumas gastar muito dinheiro em roupa. E em comida, e em carros, e em viagens caras para o estrangeiro. Um doutoramento em ciências sociais não chega para tudo. Tens umas crianças com gostos luxuosos, tens uma mulher que se gosta de produzir para o marido. Tens os bolsos vazios.

No trabalho, não falas com muitas pessoas. Tentas evitar toda a gente. No entanto, não há dia em que consigas ir para casa de consciência tranquila, isto é, sem ter falado com ninguém. Um professor universitário pode debitar milhares de palavras sem precisar de entrar em diálogo com os alunos, mas não pode passar pelos colegas, pelos professores, sem soltar um sorriso, sem cumprimentar, sem falar da vida, dos problemas, do quotidiano. Não há a mínima possibilidade de não comunicar numa sociedade virada para a comunicação.

«Olá, como vai a colega?»

Bem se vê que pouco da tua vida corre como deveria. Mas hás-de reconhecer que um sujeito civilizado não se levanta às três da manhã para ir buscar um machado à garagem. E nenhum doutorado se põe a olhar para dentro do quarto onde dorme com vontade de partir tudo.

«Vou destruir a casa.»

Repara no seguinte: se partires tudo, se matares todos, ficarás ainda mais desgraçado e solitário. Pior: serás preso e condenado a longos anos de prisão.

«Serei preso pelo Homem mas salvo pela minha consciência.»

00:04

Genoma Poético

Apreendido no aeroporto quando me revistaram.
o meu poema. o meu poema.
nada mais levaram.
ao menos levassem também os meus sessenta e cinco, quase sessenta e seis, anos de idade.
ao menos varressem, com todo aquele material técnico, a minha infância
e a sombra das minhas casotas.
Podiam até furtar-me o nascimento.
Que se fodesse.

Eles sabiam muito bem ao que vinham.
Quiçá tal acto tenha sido precedido de denúncia anónima
depois difundida, tímida ou amplamente - desconheço - , nos órgãos de comunicação social.
o meu poema. o meu poema continha o genoma poético,
era o poema dos poemas o meu poema!
continha os códigos e os caminhos secretos das palavras cruas,
e representava anos e anos
da mais completa solidão, do mais completo estudo
sobre o tempo que espera demais.

Pouco sabia o que fazer, cancelei o meu voo.
nos dias seguintes tentei sem sucesso
reproduzir aquela artilharia poética,
tentei refazer mentalmente os testes que conduziram àquelas palavras.
nada fazia sentido.
nada mais fazia sentido.
depois voltei a ligar o meu telefone
e a responder a algumas mensagens
e fiz até alguns telefonemas a familiares que viviam longe
e fiz dois amigos num minimercado perto de minha casa
e que hoje passarão cá um belo serão.

deixei de querer acumular todo o conhecimento
para viver em segurança
até porque, vistas bem as coisas, não disponho de outra vida.

quarta-feira, 26 de março de 2008

Interpretação musical

Maria e Manel aguardavam nervosos pelo final do concerto de Rufus Wainright.
Maria tinha decidido que o ambiente melancólico e ligeiramente decadente que sentia nessa música era a introdução indicada para a conversa que tinha preparada para acabar a relação que mantinham havia três anos, e que, de repente, sentia como uma prisão da qual tinha de se libertar o mais rapidamente possível.
Manel nem ouvia a música, ensaiava o pedido de casamento que ia fazer a Maria, afinal, já namoravam há três anos, era a altura certa.

(também na minha morada de todo o ano)

Tu...eu e a saudade abraçados até o amanhã chegar





A saudade hoje tem um gosto doce...é escrita com palavras abraçadas e ternos adeus.

Tem carinhos desmedidos e olhares apaixonados concentrados num só momento...

Tem sorrisos distraídos e pensamentos de algodão doce...

Acena-me ao fim do dia e embala-me todas as noites...

Não me assusta ouvi-la dizer adeus,enquanto moras nos meus sonhos e te saboreio nos meus flashbacks adocicados...

A saudade tem o fumo de um cigarro enrolado na minha pele e eu não quero ser ar puro quando és tu que me poluis...cheiras a campos verdes e a leite acabadinho de ferver.

Bebo-te todas as manhãs misturado no café...sabes-me a chá verde e apaziguas todas as minhas demências quando me empurras para a loucura que é estar junto a ti...

Almoço-te em todos os meios dias quando corto a carne tenra a salivar-me sangue no prato ...palpitas-me nas veias e fazes a maratona pelo meu corpo até ficares com a língua de fora.

A saudade tem voz de sereia e leva-me ao fundo dos meus desejos para me perder com os olhos repleto de estrelas e os lábios pingando mel num colibri ...

Tenho asas sabias?E quando sinto a saudade a querer rasgar-me o peito amo-te ainda mais na escuridão ...

Depois esqueço que não estás aqui e encho o meu coração com um perfumado sortido de flores para te receber na próxima vez e a saudade tem gotas de água a matar a minha sede...



Daniela Pereira

Resquícios pascais


as noites bem dormidas denunciam o habituamento à solidão de um corpo isolado. toco as minhas mãos e sinto-as geladas. não sei quando deixei arrefecer o meu coração, nem quando deixei de sentir a tua falta. queria acordar amor. mas não acredito na ressurreição dos mortos.
´


[Foto: alicja pietras]
Também aqui

terça-feira, 25 de março de 2008

Nota para um perseguidor

Ele amava-a. Mesmo não a conhecendo, adorava-a de uma forma que só um homem completamente perdido de amores consegue adorar uma mulher. Não a conhecia e, por esse motivo, não lhe dizia nada. Via-a muitas vezes na rua, nos corredores dos centros comerciais, nos filmes que passavam no cinema, na imaginação. Ele sabia que ela se chamava Ana.

Ela não sabia o nome dele. Não o conhecia. Se passava por ele nas ruas, não o via, não se lembrava de pôr os olhos em cima dele. Não que ele não fosse um sujeito bonito, atraente. Ela é que nem se lembrava de olhar para desconhecidos e, quase por obra do acaso, começar a se apaixonar por eles. Ela era uma mulher resolvida. Tinha marido. Um marido que a preenchia. Fazia sexo duas vezes por dia. Saía com as amigas. Não tinha filhas (não as queria ter). A carreira profissional não lhe podia correr melhor: nem sempre precisava de abrir as pernas ao patrão.

Ele era escritor. Costumava dizer aos amigos que não sabia fazer mais nada, que se não escrevesse, só saberia ficar de braços cruzados a ver o tempo a passar. Claro que, quando dizia este tipo de coisas, exagerava. Nenhum homem sabe apenas escrever. É, aliás, mais fácil um homem ter jeito para uma coisa e, como complemento, ter vontade de escrever. Ser, por exemplo, agricultor e, nas horas extra, escrever, escrever, escrever, até fazer uma obra e não saber o que fazer dela. Se enfiá-la na gaveta, se queimá-la, se passar pela humilhação de mostrá-la aos outros, aos inimigos.

Ela trabalhava como secretária num escritório. Não desempenhava funções demasiado exigentes, é certo. Mas ganhava dinheiro e, como se sabe, andar com notas nos bolsos é meio caminho para a realização pessoal. Além disso, ela não era inteligente ao ponto de poder viver dos livros. O trabalho de secretária cabia-lhe tão bem quanto as saias minúsculas que vestia à quinta-feira, dia de se pôr de joelhos diante do chefe. Como não levava trabalho para casa, tinha ainda tempo para o marido, para os filmes com o marido, para os jantares com o marido e com os amigos do marido. Era uma esposa dedicada.

Como escritor, ele não poderia deixar de ser perverso. Procurava sempre os mesmos sítios, os mesmos lugares, as mesmas posições. Não era doente mental, não. Era perverso. Gostava de vê-la na rua e imaginar-se no chuveiro com ela, a morder-lhe os seios, a trincar-lhe o pescoço, a engolir-lhe a língua. Gostava de imaginar-se a violá-la na rua, perante o mundo inteiro. Ele não a conhecia, não sabia nada sobre ela, no entanto, pressentia-lhe o cheiro e, escondido nas sombras da cidade, seguia-a quase todos os dias, até ela desaparecer para dentro de um edifício, de um carro, de um transporte público.

Ela era uma desconhecida. Por outras palavras, não tinha personalidade para descer de um papel que poderia ser de outra qualquer para ganhar um nome, uma cara, uma figura. O escritor embirrava com ela precisamente por essa razão: por ela não ter uma figura. Ela era sexo. O escritor amava-a, sim, amava-a. Poderia viver mais mil anos que não a deixaria de amar. Mas tinha um amor solitário.

Ela jantava numa mesa do restaurante, ele permanecia escondido na sombra a olhar para a forma como a sua musa se mexia, se roçava nas cadeiras, transpirava sensualidade. Ele era louco por ela, mas sabia que ela não servia para falar, para pensar, para compreender. No fundo, nem ele servia para essas coisas.


00:04

segunda-feira, 24 de março de 2008

Fé dos homens

Um homem constrói uma catedral
e alimenta a sua esperança
com aquilo que não projectou.
Outro constrói um barco
e navega nas àguas
que não encontra perto de casa.


Miguel Alves
www.mentequebrilhas.blogspot.com

Privilégio

Foi um privilégio ter tido esta paisagem na varanda em 1990!


Artur Amieiro, Praia da Zambujeira, óleo sobre cartão, 32x40 cm., 1995. [A partir de fotografia].

[A publicar no blogue Universos Assimétricos]

domingo, 23 de março de 2008

MORREU MAIS UM POETA

AO POETA DO AMOR E DA LUTA
ANTÓNIO GOUVEIA
(Na Blogosfera: António Melenas)




já não sou eu
que aqui estou

faltas cá tu
falta-me
um bocadinho
de mim
já não sou eu
que cá estou

continuarei
sim continuarei
a escrever-te
cada vez
mais baixinho
e em tom lento

que a vida
se é caminho
só mesmo
exaltada fica
quando lutamos
com o amor
que revelaste

já não sou eu
que estou
por aqui
faltas cá tu
por inteiro




________________________


Para ouvir textos de António Melenas, na voz de Luís Gaspar,
aceda a:
Standard Podcast [16:20m]: Hide Player | Download
em
http://www.estudioraposa.com/index.php/18/03/2008/
lugar-086-antonio-melenas/
e em:
http://www.estudioraposa.com/index.php/11/01/2008/15

sábado, 22 de março de 2008

Interminável Rosa

Permite-me que te relembre, é bom ter vida e que quero voltar a ver-te com aquela rosa vermelha na mão. Sinal de paixão, amor pleno, nao por qualquer homem, apenas pela VIDA. Sim meu amor, pela VIDA, a mais curta das disciplinas à qual arranjamos sentidos novos todos os dias.

Estou aqui, mesmo sem o sorriso de circunstância, mesmo com algum químico que me torne mais afável, mas estou aqui, primeiro por mim e depois porque, amando-me, te posso fazer vibrar nessa rosa escondida que te habita. Mulher de inusitadas vontades, de abraçar o desconhecido sem sentido.

Tenho saudades da tua camisa rosa, das formas perfeitas de um sorriso guloso que depois vi esvair-se.

Acredito na felicidade, no Willie Wonka e nos sapateados mágicos do Fred Astaire e deixa que te diga que fazes melhor figura que a Ginger Rogers.

Ah e minha rosa por desabrochar, não me tragas assim para a Terra, temos tempo para os desgostos, as lágrimas e para as tentativas de ir para lá das estrelas olhar pelos vivos.

Não minha interminável rosa não te voltarás a sentir insegura, essa guerra acabou, a luta não tem que ser travada nas trevas. Quando assim tiver que ser e te sentires imóvel, dá-me todos sos teus males que, numa luta medonha de capa e espada, as faço dançar o vira para outra constelação. Para sempre, minha rosa, para sempre!


Manuel Marques

Flores brancas

Na perfeição da natureza
a busca pela cidade da alegria
cessa em tons de puro branco
iluminado, inebriados pelo amor
saído de uma guitarra, gitana
o corpo em pose de Deusa aninhada
em braços fortes de mel
abraços quentes de amante
boca saciada de beijos entumecidos
segues nua, com o olhar na frente
do destino de grandeza
que te está reservado
sem que o teu namorado te espante
o desejo em esperança de herói
que te chega sem que dês
peças ou aclares a visão de o querer
sem que a paixão te consuma
e apenas cedas pela pressão

Ofereço-te as flores brancas
pedaços de odor que desejo de ti
entranhar-me nas florestas virgens
desbravar toda a amargura
e torná-la branca como o amor
cujo epicentro vulcânico
aviltado coração incandescente
semeia vontades de te tomar
e por isso não terei medo
de voar em pose de rei
para te tomar
na raínha do meu coração
lá longe nas redondezas
da cidade da alegria
onde seremos felizes
mesmo no epicentro da flor branca
do desejo infinito de amor



...in o aroma do jasmim ao anoitecer...

Manuel Marques

PÁSCOA


Páscoa,
o infindável começo
transformar-se
vida novamente
desensimesmar-se
em místico renascer
ou livre pensar
não importa
vamos ser felizes.
Saramar

sexta-feira, 21 de março de 2008

Imaginação

Ela era bela como poucas. Quando vestia as suas mini-saias escandalosamente pequenas e calçava os sapatos de salto alto pretos, que lhe salientavam os músculos das pernas, parecia uma sereia, ou algo ainda mais sensual. Na rua, a desfilar como se estivesse em cima de um palco para modelos, ela sentia-se como um peixe na água. Os piropos que os homens lhe lançavam não a aborreciam. Muito pelo contrário. O assobio de um velho labrego ou o piropo de um jovem meliante aumentavam-lhe a já elevada confiança em si própria. Não havia mulher mais convencida do que ela. Era impossível. Naquele dia, a observar-se ao espelho, sentiu-se tão perfeita, mas tão perfeita, que deu um beijo no espelho que tinha à frente dos olhos.

Ele era forte, bonito e inteligente. Escrevera vários livros, um dos quais sobre um filósofo iluminista. Embora não fosse do tipo de se dar a mostrar, era presença assídua nas páginas de jornais e revistas. Dava aulas numa universidade do Estado. Tinha um filho, uma filha, dois gatos e uma mulher que despertava sentimentos de cobiça nos seus amigos. Não tinha dificuldades de relacionamento com mulheres. Elas apareciam-lhe aos grupos de cinco e de seis. As meninas das aulas eram loucas por ele. Prescindiriam de todos os possíveis namorados para poderem passar uma tarde na cama com o professor de Teoria da Cultura.

Ao passar por ele na rua, ela sentiu vontade de o levar para a cama. Mas continuou a andar da mesma forma que andara até àquele momento. Uma mulher não deixa de ser vaidosa só por se sentir subitamente atraída por alguém. Ele, que tinha uma família e uma carreira para manter, também não poderia dar parte fraca na rua, onde algum transeunte o poderia reconhecer e gritar: «Ali vai o fulano X.» Não poderia ser. Abdicaria de bom grado de tudo o que conseguira alcançar na vida para se poder enfiar debaixo dos lençóis com aquela musa, no entanto, decidiu pensar com o cérebro e ignorar a atracção.

Ela era tudo aquilo com que ele sempre sonhara.

Ele era um sonho demasiado perfeito.

O destino condenava-os a não se poderem falar. As convenções proibiam um marido de trair uma esposa. O pudor impedia que um homem e uma mulher se agarrassem no meio da rua, e se despissem como dois animais, e fornicassem como se tivessem uma fome de decénios.

Eles eram feitos um para o outro mas não se falaram. A dez metros de distância, ele virou-se para trás, e viu o rabo dela.

«Abdicaria de tudo…», pensou ele.

«Vem ter comigo…», pensou ela.

Nenhum dos dois ganhou coragem para comunicar com o outro, para trocar umas palavras, para trocar um gesto, uma carícia, um beijo. Todavia, quando se cruzaram, aquilo que sentiram foi perfeito. Por mais vaidade que ela tivesse no corpo, nunca conseguiria alcançar por si própria aquela sensação etérea que ele lhe dera. Nenhum romance dele conseguiria retratar o que os seus olhos haviam visto.

Eles eram feitos um para o outro mas não se falaram.

Se se tivessem tocado, se tivessem entrado em contacto um com o outro, provavelmente, não poderiam nunca dizer que abdicariam disto ou daquilo por causa do amor. Depois de a levar para a cama, ele sentiria falta do apoio da esposa, da pacatez do lar. Ela chegaria à conclusão de que poderia encontrar sexo melhor com outro homem.

quinta-feira, 20 de março de 2008

quase

Às vezes é
preciso sair
ir embora
abandonar locais
onde há muito
chegámos
locais
onde sabemos
em tempos ter
sido felizes
E é então
que perguntamos
qual o sentido
de chegarmos
para podermos
partir
qual o sentido
de partimos
para podermos
chegar
a nós mesmos
E a resposta
tarda sempre

já não se demora o tempo



abracei a vida ao redor dos teus olhos. enganou-me a vida. em ti habitava o vazio. nele fui construindo a ausência.



também aqui
foto de katia chausheva

quarta-feira, 19 de março de 2008

Actividades complementares

Maria e Manel tinham um casamento perfeito, ambos adoravam viajar e tinham actividades compatíveis com esse gosto: ele era um reputado escritor de romances policiais (a sua especialidade eram homicídios em diferentes países, nunca descobertos pelas polícias locais, mas que não escapavam a um misterioso viajante profissional), e ela era uma psicopata homicida, sempre pronta para pôr em prática novas ideias, e em garantir que os livros do marido eram completamente verosímeis.

(também na minha morada de todo o ano)

Esquizofrenia





A saudade tem a cor dos meus olhos afastados dos teus. É já noite por aqui, meu amor, e há muito que o mar não me vem visitar. Envelheço em cada página que abro sem tu estares. Sento-me na varanda do passado e estendo as mãos no vento à tua procura. Mas tu estás longe. Lá, onde o sol é mais dourado e os minutos mais lentos. Fecho a janela e embalo lembranças na cadeira de fios presos ao rio da nossa estória. Entro ainda mais na noite. Percebo: sou um bicho solitário que gostava de ter nascido num campo de orvalho numa manhã de Primavera. E isso não me atormenta. Abro a caixa de memórias tuas, cheiro as flores dos nossos rostos juntos e adormeço. Contigo.

Foto: kirill Rusin
Também aqui

À luz de Delft

O que vou contar começou na semana a seguir a um Natal, ao chegar a casa aí pelas cinco da tarde. Depois de me pôr à vontade, fui lanchar. Três fatias de pão com compota de ginja e um copo de leite morno. Pus tudo num tabuleiro e fui comer para a sala, enquanto via uma gravação do Dr. House.

Foi já no fim do lanche que o vi: - o carteiro de Pablo Neruda, como eu me lembrava dele no filme, estava mesmo atrás da mulher que lê uma carta junto a uma janela aberta, na reprodução pintada de Vermeer que tenho por cima da escrivaninha. Primeiro, fiquei muito parado sem saber bem o que pensar. Depois, observei a compota e cheirei o leite – pareceram-me em bom estado!
Levantei-me e mirei-o de perto. Estava com aquele ar ingénuo e satisfeito de quem finalmente sabe o que são metáforas. E estava bem implantado na camada cromática, como se tivesse sido pintado ao mesmo tempo que a mulher. Esquecendo o anacronismo de vestuário, não ficava mal de todo no quadro. Aparentemente, tinha sido ele que tinha trazido a carta à jovem holandesa de Vermeer.
«Bem», pensei, «é melhor não dizer nada a ninguém, sem dormir sobre o assunto». E foi isso que fiz no sofá. A meio do CSI.

Quando acordei, a primeira coisa que fiz foi olhar para o quadro. O carteiro já lá não estava. Fiquei aborrecido. Já começara a pôr a hipótese de mostrar o fenómeno aos amigos. Logo a seguir, fiquei preocupado. O que quer que tivesse perturbado a minha percepção devia estar em mim e podia ser um grave problema de saúde.
Resolvi fazer umas pesquisas na Net sobre alterações de percepção. Um site francês dizia que níveis elevados de açúcar no sangue podem provocar alucinações. Nessa noite, dormi mal.

No dia seguinte via-se uma alcoviteira de Murillo do lado de fora da janela a falar com a mulher da carta. E nos outros dias sucederam-se outras imagens de menor dimensão: um jarrão azul com flores de Cézanne sobre a mesa, um gato de Manet sobre a carpete, umas mãos de Rodin na janela. Eu sei lá!

Isto, apesar de eu ter começado a conter-me nas sobremesas e a lanchar só tostas secas e água.

Entretanto fui ao médico. Impôs-me uma dieta rigorosa sem açúcares e receitou-me uns comprimidos de lítio. Diz que devo ter uma predisposição genética visionária que foi potenciada pelos excessos da quadra natalícia. Para eliminar todos os factores desencadeantes, aconselhou-me ainda a parar com quaisquer leituras sobre arte durante uns tempos.
O que é certo é que passadas umas semanas deixei de ver imagens estranhas a perturbar o recolhimento da holandesa de Vermeer a ler a sua carta.

Uns três meses depois, quando já pensava que o meu problema estava sanado, certa manhã dei pela falta da própria mulher do quadro. Calculam como fiquei! O coração acelerou-se e quase entrei em pânico. Se antes era açúcar, o que seria agora?!
Telefonei logo para o meu médico que também se mostrou alarmado e me disse que eu, provavelmente, devia ter abusado da dieta. Mandou-me tomar logo um pacote de açúcar dissolvido em água e que fosse ao consultório dele no dia seguinte. Tomei o que ele mandou e fiquei pensativo a olhar para o quadro deserto. Que intrigante, esta situação!
Então reparei nuns pequenos vultos na praça que se vê através da janela do quadro e que antes não estavam lá. Eram-me familiares. Apesar de pequenos, não deixavam margem para dúvidas: eram as silhuetas da holandesa desaparecida, de braço dado com o carteiro de Pablo Neruda!

No dia seguinte já não fui ao médico. Nunca mais lá voltei. Percebi que o Amor é mais forte que quaisquer dietas ou comprimidos. E encontra sempre o seu caminho.


(Foto do quadro por alturas da aparição do gato de Manet)

[Publicado noutra versão no blogue Universos Assimétricos]

terça-feira, 18 de março de 2008

Mea Culpa

Humildemente disfarçado em Nick Cavizante som de uma árvore em luto negro... Fundo presente de algum canto de rouxinol urbano onde o melro negro da astúcia é interrompido sucessivamente...
Pelo chilrear exótico do periquito
urbanamente dispensável...
Como o andar urbano em trânsito de poluição sonora...
Eco de...
Matem-me urgentemente.

Vigio os terraços. Os telhados e as varandas da minha visão na indubitável melancolia que se dissolve na beleza de uma lagrima nostálgica de estar vivo...

De ser levado para a alegria de sentir o pulsar da escrita natural ao ritmo do tudo universal em comunhão de bens comunitários no meio desta arena desenfreada e grosseira de analfabetismo mental e cósmico para com a arte suprema.

In natural meaning of life.
Bebi o elixir amargo da rosa vermelha do meu encanto disfarçado sob a mesquinhez ingénua dos meus actos espinhosos perdidos no infinito moral de uma mente sob a negatividade excessiva de um delírio kármico...
De um intrisico suspiro marginalmente melancólico e vanguardista do tudo nada perfumado... Natura exacta da minha confusão rasca de cachorro abandonado nas ruas autênticas e sombrias de uma chinatown desfigurada.
Desfigurada em local de refúgio para o dreamer inconformado sob o olhar divinal da eterna amiga.
A omnipresente coruja cúmplice a minha retina sob o canto de cuidado, tem cuidado... Letra da indubitável essência do cognoscível incogniscivelmente presente no ficcional mundo de simples desejos sinceros em não negar o mínimo sinal do teu socorro...
Vi demais.

Grito desculpas inúteis para disfarçar as minhas mágoas de um socialmente e residual estatuto de pobre improdutivo mental...
Sem por aí dizer de impróprio produtor vírus in success provisório na ilusão de um sonho mágico em terras de primavera em ascendêncial sabedoria.
Viva marcha continuada pela praça da concórdia espalhada em todos os sensores ligados ao meu altar neuronal em disfunção crescente:

Alivio racionalizado em beleza intrinsecamente estranha ao luar da minha razão.

Peço desculpa pela minha animalesca capacidade de odiar e amar o que me rodeia. Gozo os prazeres existenciais que me são oferecidos assim como me isolo na solitária ilha de ingratitude...

Pedaço de terra e rocha febrilmente originado pela inutilidade de agir contra as ágeis manobras de diversão sensório motoras de um sacana chamado brain.

Peço desculpas por tomar a coruja sobre o meu ombro e aclamar a noite como meu cemitério vivo... Espaço donde invoco a presença de todos os meus mentores improvisados na ficção Graigoriana do meu computador de asfalto... Onde desculpo-me mais uma vez de ter nascido numa altura irremediavelmente errada...
Mas onde fascistamente se pode subir ao cume Evereste do absurdo vaginal da in loco visão do belo adormecido monstro do lockness... Exposto em parques de exposições culturais em choque...

Importa-se que lhe sirva um aperitivo teatral?

Sou um estranho, mas não na noite.
A coruja ampara-me pelo grito sério da razão onde o felino passional me guia para a existencial fatalidade de vidas que não renego.

Questiono!

Pergunto exaustivamente até que uma réstia factual de puzzles se possam tornar na complexa destruição do tudo ou nada que possa existir.
Procuro desmitificar tudo ou talvez simplesmente não consigo entender a minha abstracção racional dos mundos que me rodeiam e rotulam para o estatuto autista de coitadito adormecido pelo stress oxidificante da cidade neuronal de escala asiática que emerge a olhos vistos...
Reprodução em massa incrustada na ponta do meu cigarro inacabável ao luar de Cipião o africano.

Aclamo a chuva e os ventos para comungarem tudo o que está para vir.
Mas estes não devem amar-me muito.
Aparecem de vez em quando no fundo do meu retrovisor mental mal direccionado.

Peço desculpas por não ser o que desejam de mim, serei apenas um figurante nocturno.
Ser um pouco um tanto caricato e estranho na luz do dia...
Resplandecente ao luar da razão negra do futuro social e mental da nossa next generation...

Generation debilmente alegre e adormecida pela crescente monopolização económica de um saber burocratizavel em train stations...
Train stations de inúteis razões de escrever algo útil ao meu mas sobretudo ao teu olhar de cachorro vadio em plenas ruas de uma Chinatown sombria pelo cognoscível belo canto da coruja...
Aquela minha amiga em memória latente de um sonho em campos de minas de rosas espinhosas... Devoto local onde monologarei o meu nojento Mea Culpa de inútil para a sociedade de empacotamento racional.

segunda-feira, 17 de março de 2008

NOS MEANDROS DO PARTICULAR

Não sei se procuro ou se me procuram, apenas sei que estou ou vou estando por aqui. Gosto-me de presenciar nas coisas que escrevo, assumindo a breve passagem em que por aqui estou. Sou por cada vez que escrevo um estranho de mim próprio! As definições rendem-se à sua própria evidência cuja clarificação se dissolve em detalhes que o teu curto entendimento não absorve. Todo o problema se apresenta como pura lógica, ainda que digas o contrário; a interrogação carece dum assentimento, de uma resposta que permita temporariamente acalmar o reino das chamas. Sou mais um indivíduo entre outros, com mais ou menos pormenores, digo-te com os meus; isso que me confere determinado estatuto, a minha entidade no ângulo existencial. A minha postura está em actividade, estou lançado na existência, numa aceleração para o que chamas fim. O fim de cada qual exibe uma postura que lentamente se vai desarrumando; a definição continua a ser sempre imprópria, uma vez que tudo está na nave do movimento.
Crias a tua própria ilusão de acordo com a situação temporal, tecendo a malha das impressões, formando os teus juízos de valor, todas essas componentes que engendram o relacional. Tomamo-nos neste sistema combinatório de relações, permitindo o brilho e o encanto; somos pelo efeito! Interrogo-te pelo necessário e resta a identificação, isso que aprova o decisivo, aquilo que é particular, eu, tu.

Aveiro, 17 de Março de 2008 – 16:32h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras

Tenho o vicio da insatisafção pregada à epiderme da caneta

domingo, 16 de março de 2008

O Lado Selvagem

Recomendo este sensacional filme. Dos melhores que já vi:


sábado, 15 de março de 2008

@030404

sorriso escancarado: ia contigo esta noite, aonde fosses;ria contigo esta noite, aonde risses;via contigo esta noite, aonde visses;lia contigo esta noite, aonde lesses;dizia ... contigo esta noite, aonde dissesses…


da leveza do teu ser: encontro o teu labirinto um certo dia. Cravo os cotovelos na mesa e leio. Ouço chilrear. Identifico um sopro aí ao longe. Falas uma escrita tão bonita.

de uma construção: ... é uma palavra... porque simplesmente: me faz lembrar. (...) , sempre. ... inteira que construíste... E nisto reside... a surpresa. (...) sulcos... papel pardo... palavras banais... casualidade... nas horas-paz... venho aqui ponto... e não quero partir.

O finíssimo equilibrio das manhãs

Quando o corpo se desprende dos sonhos oferecidos pela alma, há contemplações diferentes em relação ao que se vai respirar.

Qual a relação com o ar circundante, consoante se concentra a atenção no trabalho ou nas férias que finalmente chegaram.

Apalpo a invisível vontade de distrair os compromissos movendo-os para outra parte da agenda. É claro que damos por nós a dizer que gostamos do que fazemos quando quem está preso nem sequer tem uma conta para pagar. Basta-lhe prevaricar e a prisão volta a ser a sua casa. Assim torna-se fácil.

Todavia o equilíbrio matinal não é assim tão radical e nos momentos posteriores ao abrir dos olhos, ao desligar do despertador e de sentir a noite a escapar-se pelo horizonte, o corpo perde a noção da alma que lhe dá a vida e tudo passa a ser rotineiro, sobretudo a batida do coração.

Há quem dê graças a Deus, há quem bata com o tornozelo na esquina de um móvel, são formas diferentes de quebrar o silêncio, de nos lembrarmos que estamos vivos e que na falta de alguma rotina não somos ninguém.

É isso, por mais que mude, que queira tornar a vida diferente, o que procuro é arranjar uma forma de começar os dias sem sentir frustração pelo que poderia ter, simplesmente porque o tenho, lutei por tê-lo. Tem outro sabor quão mais difícil é a conquista.

E na frágil demonstração de afecto pelas paredes, lençóis e vampiros que me habitam as vontades, arranjo uma forma de contemplar cada manhã, respirando fundo, mesmo no meio da atroz poluição.

Sinto vontade de seguir rosa acima e que se lixem os espinhos e o sangue que se desprenda de mim quando por lá passo, fazem parte da vida!

outras crónicas: aqui

A coragem

Se perceberes que esse amor que dizes sentir pela vida tem outro sentido se pensares primeiro em ti, então és capaz de ter razão quando te dizes preparado para seguir sem medo das sombras, das trevas que invariavelmente te atormentam a vida de vez em quando.

Sabes, é normal, a vida é uma rosa e as rosas têm espinhos, ter consciência disso é sinal de maturidade. Apenas não abuses em apenas dar o amor que tens dentro de ti, guarda um pouco para os momentos de solidão em que, mais do que ninguém, tens que te proteger.

Meu amigo não é fácil ter a coragem de dar aquele passo em frente que provoque um corte na vida rotineira e comodista. Ir em busca de uma qualquer cidade da alegria onde a suprema tecnologia é um caloroso abraço. Ah pois! Convido-te a deixares o espírito livre do dinheiro, das fantasias consumistas que te estragam os olhos, masturbando o cérebro sem que disso retires qualquer tipo de prazer.

Acredita em mim, é sempre melhor ir em busca da aventura que olhar para o espelho e relembrar apenas os momentos da falta de rugas, quando os cabelos brancos eram motivo de graça, pelo charme que te davam e chorares pelo que ficou por fazer, contando as rugas de uma vida vazia e sem sentido.

Mas não tens tempo? Pensa lá um pouco, eu sei que o mundo está uma merda e que temos sempre a tendência de nos refugiarmos no stresse para não perder esse precioso tempo que insistes não ter.

Diz-me lá então, tencionas globalizar-te na infinita estupidez que a cada dia afecta mais gente? Deixas-te dominar assim pela cobardia?

Olha não vou esperar mais por ti, fecha a porta que eu vou andando!


Manuel Marques




outras crónicas sem taxa moderadora: aqui

sexta-feira, 14 de março de 2008

Desconhecidos

Ao passar por um homem na rua, Mary corou. A cara dele não lhe dizia nada. Não o conhecia, não o achava minimamente bonito. Se, por acaso, lhe pedissem para dar uma pontuação de zero a dez àquele homem, escolheria um e três. A verdade, no entanto, é que, por estar a pensar nele, Mary não poderia ser completamente isenta, desinteressada. Olhou para trás. O homem não olhara para ela. Caminhava a passos largos. Deveria ter algum compromisso. Tinha cara de trabalhador braçal. Uma espécie de cowboy. Só lhe faltavam o chapéu e o feno no canto da boca. Não era homem para ela. Nunca na vida. Ela era requintada, apreciava música clássica, assistia a espectáculos de ópera com a tia, ia pelo menos uma vez por semana ao teatro e conhecia os clássicos. Nunca um homem com cheiro de animal no corpo e com sarro na pele lhe poderia despertar algum tipo de interesse.

«Mas porque pensas nele?»

«Ele é tudo o que eu sempre quis.»

Adam passou por uma finória na rua e esboçou um sorriso. Não um sorriso de quem pergunta se a vida corre bem, mas um sorriso provocador, daqueles que dizem mais do que certas frases. A mulher era bela, boa e tinha ar de convencida. O que mais poderia um macho pedir? Apesar de ter sido criado no campo, Adam sabia que não se poderia meter com uma miúda da cidade sem mais nem menos. Além disso, não era ignorante ao ponto de pensar que atraía lindas princesas. À excepção de um ou dois casos com pequenas amiguinhas da adolescência, nunca namorara, nunca beijara, nunca apalpara. Adam não sabia o que era sentir o interior de uma mulher através do seu próprio sexo. Era virgem.

«Por que não lhe falaste?»

«Ela nunca falaria comigo.»

«E se falasse?»

Mary quis voltar para trás, falar com o cowboy, beijá-lo, levá-lo para um quarto de hotel, chamar-lhe nomes porcos. Porém, a sua vergonha era impeditiva de qualquer tipo de acção. Não saberia como reagir depois de ir para a cama com um homem feio e sujo. Pensava na mãe, pensava na avó. Censura. Mas que mal viria ao mundo se perdesse a cabeça? Nenhum. Ela queria procurá-lo por entre a multidão, ela queria dizer-lhe tudo o que nunca dissera a homem nenhum. Ele já não lá estava.

Adam gostava de andar depressa. Tinha sempre montes de coisas para fazer. Desta vez, precisava de comprar ração para os cães. Foi a andar depressa que a imagem da sereia se foi esfumando da sua cabeça. Aliás, depois da sereia, já muitas sereias por ele haviam passado e olhado. Aquela era especial, tinha qualquer coisa de especial, mas desaparecera.

Apesar de boa, bela e convencida, Mary ficou apaixonada pela bruta imagem do desconhecido. Pensaria nele durante vários dias e meses. A fazer amor com o namorado, lembrar-se-ia do desconhecido.

Adam não conhecia o amor. Vivia para a família e para os animais. Naquela noite, lembrar-se-ia da princesa no momento da masturbação.

Daqui.

quinta-feira, 13 de março de 2008

PONTO DO INÍCIO E DO FIM

Deflagra-se um sorriso sem nome, num campo de silêncio… conjugando posturas que se desfazem, tal como os mortos intocáveis. A grande dinâmica articula o silêncio…! O sorriso absorve energias dispersas, enquanto me ausento do mundo que piso e das verdades passageiras, demasiado breves! O teu mundo é o sonho mais bonito, tomado da escultura interior. Situações de magnificência a um deslumbramento que se completa na plenitude da plenitude, continuando o tempo a ser o tempo do tempo.
Nunca mais serei a tua saudade, nem os encantos da viagem traçada, sobra apenas um ponto que se perde no cosmos, para lá das fronteiras do azul.
A bifurcação do olhar conjuga disposições, graus que se interligam enquanto me desfoco da essência de mim mesmo. Tomo-me no momento que se perde no momento do próprio momento, restando apenas o momento… o ponto inicial que se adianta sem o meu consentimento.
No exterior de mim está um pedaço do meu outro eu, disfarçado na pele mortal que se projecta a uma antecipação desconhecida, essa onde o teu silêncio adormece, desencadeando um sorriso, tão brilhante quanto os princípios ocultos.
Ficou uma réstia do meu desejo lilás no teu tom de azul, na tua vontade interrompida… apenas ficou um beijo rasgado. O desejo avança nas parcas melodias do interminável, na foz da consciência exaltada, enquanto cuscas os meus escritos, todos esses que absorvem a tua atenção. Resta apenas uma gravura da tua imagem, na colecção das outras imagens que guardo… guardamos esse princípio, na distracção das afinidades. Guardo-me e lanço-me no nada… no futuro que te espera.

Aveiro, 13 de Março de 2008 – 10:49h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras

A rotina é a sanguessuga dos sonhos


rodou duas vezes a chave depois de bater a porta. tirou os sapatos gastos de pisar dias e arrumou-os à entrada. abriu o velho frigorífico. fechou-o. aqueceu a comida feita há dias e que lhe vai forrando o estômago nas noites, e acendeu a televisão. sabia de cor o que passaria em cada canal desde a precisa hora em que se sentava no sofá até àquela em que desligava o aparelho. ria, chorava, apaixonava-se e julgava-se igual às personagens que lhe preenchiam as noites. vivia por substituição. de vez em quando o telefone tocava. e aí vestia a sua personagem de mulher independente e dizia
- está tudo óptimo
mas a verdade é que há muito que não sabia o que era afinal estar tudo bem. perguntavam-lhe e a resposta saia maquinalmente
- está tudo óptimo
o emprego certo, o dinheirinho ao final do mês, a casa alugada nos subúrbios da velha cidade, a missa aos sábados, os almoços em família aos fins-de-semana, o passeio de tarde aos domingos
- está tudo óptimo
a voz segura, as certezas nas palavras, a atitude madura, os passos certeiros
- está tudo óptimo
as onze horas e trinta minutos a bater no relógio avisavam-na da hora de dormir. obedeceu. maquinalmente carregou no botão off do comando da televisão, pegou no pequeno tuppeware de etiqueta amarela que reservara no fim-de-semana para o dia seguinte- cozido à segunda, estofado à terça, sopa à quarta, umas sandes à quinta. e sexta logo se vê, talvez vá àquele restaurante perto do trabalho. dizem que fazem lá uns bifes muito bons.
apagou as luzes e fechou os olhos. dormiria oito horas certas, sem sonhos (a rotina é a sanguessuga dos sonhos). amanhã recomeçaria tudo outra vez.
- (está tudo óptimo)
Por isso, disse para mim mesmo que tinha de levar aquele.
Porque o Pai dizia que os relógios matam o tempo.
Dizia que o tempo está morto enquanto se for esgotando
no tic-tac de minúsculas rodas de engrenagens;
só quando os relógios páram é que o tempo ganha vida.
Os ponteiros estavam estendidos, não rigorosamente na horizontal,
mas com uma ligeira inclinação, como uma gaivota planada ao vento.
Prenúncio de tudo o que me costuma entristecer,
como a Lua nova é prenúncio de chuva, como os negros dizem.
Foto: Katia Chausheva
Excerto: William Faulkner
[Também aqui]

Algumas coisas...



Existem certas palavras que temos cravadas na pele com freqüência... A bem da verdade pronomes e verbos que são tão utilizados que deveríamos eliminar uns tantos outros... Geralmente a coisa anda entre o EU, MEU e se acomoda entre o verbo... TER... Primeiramente repartimos nossos sonhos, multiplicamos o dinheiro e ilusoriamente completos nos separamos, pois exatamente os pronomes pessoais e verbos observados, vão se enraizando em nossos canteiros que vão florescendo num modo egoísta de sobrevivência.

By Casti

Google imagem

Inventa flores na tua cabeça



Tenho olhos tristes...

mas ao pé de ti

descobrem

olhares felizes...

Riem sem pudor

e as gargalhadas são feitas de mel

e os silêncios contratados à escuridão...


Shiu,cala as vozes

embriagadas que nos roubam

os gemidos mais que perfeitos!

Quero apenas deleitar-me

com as tuas cordas vocais ...

e a noite foge-me dos dedos

a galope nas horas excitadas.


Dormimos com a lua

por cima das nossas cabeças

mas o luar

é para beber até ao fim na tua pele...

Sabes bem que um rio solitário

não me mata a sede...



Sussurras poemas no meu ouvido

e a minha mão prende-se

na tua floresta de encantos

sem temer o ofegar do lobo

que caminha para mim

com o corpo esfomeado...



É tão bom ficar assim

muda e quieta

a ler atenciosamente

os movimentos da tua alma

sem ter que dizer nada...

basta um suspiro

e sei que te digo tudo...


Uivas doce

para me derreter os sentidos

e baralhar-me a razão...


Ouve-se poesia de fundo

quando me devoras os lábios

para me arrepiares a carne

sem esquecer os ossos...


Gosto de ser um beijo tenro

a marinar na tua boca...

Beijas-me ao contrário

e o fim tem sempre gosto a principio...


Sorri...

quero o teu sorriso

a imitar o sol

e a madrugada a renascer

destemida nos teus braços...

Sou exigente nos paraísos

quando os desejo...

e uma flor curiosa

dançando ao vento não chega...

Quero soprar-lhe todas as pétalas...



Daniela Pereira

Direitos Reservados




Extracto de Saída

Se algum dia escrever... Espero ser um daqueles escritores que quando se lê... Não se percebe mas sim há de certa forma aquela harmonia de alguma maneira imposta entre uma escrita TNT/abstracta mas pura no sentido de sair muitas vezes sem explicação mas sim de facto em valor escrito nesse próprio impróprio acto de escrever.
No fim quem ganha vida... Eu ou as linhas que me escreveram...
Gosto de considerar qualquer acto escrito como um processo criativo.
É beber-se nessa iced cup onde encontrámos essa agua de beber, el gento in rio e a mística sensação de criar-se algo... Começarei então por um one note samba entrelinhado com um Al Berto Nick cavizado onde alinharei um chega de saudade fio condutor à um lirismo Lou Reed complexado in meditation... I don´t know just where I´m goin´... Depois.
In berimbau e how insensitive frio acto de escrever acabarei este meu processo criativo... Acto de liberdade in bossa nova jazz moment of reflexion sentido a flor de pele.
Revejo tudo demasiado na cor e no sabor do café. Defeito de fabrico. Talvez isso tornará a minha escrita monótona e sem fluidez... Será algo bruto e áspero onde talvez a tranquilidade jazzística não deslizará por essa salgalhada de momentos sem determinado interesse.
Apenas acho que lançar interrogações é o reflexo de lançar lanças a minha ignorância que nunca conseguirei suprimir... Para não ser agua parada de desconfiança mas sim agua em movimento de regeneração constante... Só isso... Mais nada... Pelo menos para mim e ao meu acto de criativamente tentar viver.
Vivo a insensatez pura do artista sem forças e esgotado mas pronto para retomar o sinal até o extinguir da chama que lhe dá forças.
De todos os textos que ofereci para ler... Senti o parar a meio e não pegar mais... Senti a leitura e a tentativa de analise e perceber porquê essa escrita... Respondo que por mais instrução que se aja... O acto de leitura é o bem de certos iluminados....
Isso inibe o meu acto de escrever... Pelo menos para hoje.
O acto de escrever é extremamente assustador quando se foge a regra mesmo de forma inconsciente... É rever-se eternamente em discussão retórica aberta onde há sempre um ponto para voltarmos...
Sempre tenho amigos que apreciam a minha escrita com a simpatia de ser sincera a opinião que daí veio e que recebo sempre com um sorriso na retina...

Por eles amanhã escreverei.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Sem título


Mista
Óleo s/tela
2007
120x70cm

Manel, apaixonado, escrevia longas cartas anónimas a Maria a garantir-lhe o seu amor eterno, mantendo sempre a esperança no dia em que ela acederia ao convite para encontro na Brasileira. Por isso, todos os sábados ele esperava das 18 às 19, com uma rosa vermelha pousada na mesa, enquanto comia um croissant de chocolate, tal como descrito no último parágrafo de todas as cartas.
Maria, rapariga que não usava óculos por vaidade, nem lentes de contacto por parvoíce, aproveitava o papel para forrar a gaiola do canário, e acabou por namorar com o carteiro.

(também na minha morada de todo o ano)

Menina, dos olhos tristes




Chegou...
Suave, como uma brisa.
Delicada como a lua,
Sorridente como o sol,
jasmim perfumado, de girassol florido.

Olhos tristes,
tão tristes!

De uma tristeza infinda,
Boca sedenta,
Coração choroso
De uma espera sem fim.

Linda!
Menina dos olhos tristes.

Doce mel,
Olhar de segredos,
que não quer falar.
Uma longa estrada,
de orvalho na alma.

Linda!
Menina dos Olhos Tristes!

Olhos tristes
De uma busca sem fim.
Pedra bruta,
que espera ser lapidada.

Doçura de mel,
candura escondida.
Hesitação timida,
com vontade de dar mais.

Linda!
Menina dos Olhos tristes.

Uma princesa, mulher.
uma flor em botão.
Musa, AMIGA.

De rosto em espelho,
com refelexos de alma
Verdade absoluta
de entrega total.

Linda!
Menina de olhos Tristes!

Com segredos não revelados
nos olhos que me chamam,
brilhantes como arco -iris,
profundos de promessas sem fim.

Começou uma amizade cativante
Chegou suave como uma brisa.
Musa, Amiga
Mulher, Princesa
Menina...
dos Olhos Tristes.


Para a minha Amiga Paulinha, com um abraço...daqueles tão apertados, que se sente o coração uma da outra a bater)

7x7 pequenas histórias viciadas

O MONGE
Abandonou o hábito e entregou-se ao vício.

COERÊNCIA
Profissão: percussionista. Desporto preferido: ténis. Vício: masturbação.

TEMPOS MODERNOS
Para poupar tempo fornicava sempre de pé.

CONDIÇÃO FEMININA
Sabia-lhe bem, a ele sabia-lhe ainda melhor.

A FEMINISTA DETERMINADA
Amava-o mas não tinha escolhido amá-lo. Deixou-o.

EN PASSANT

Deixou de jogar xadrez. Perdeu vinte quilos.

O VIRA-CASACAS

Morreu e passou a acreditar em Deus.



A poetisa Ana Hatherly completa este ano meio século de vida literária (em 1958 publicou o seu primeiro livro, Um Ritmo Perdido), que será assinalado, na Biblioteca Nacional (BN), com uma mostra documental evocativa da sua obra escrita (inaugurada no passado dia 3) e uma sessão, hoje, dia 12 de Março, com a sua presença. Na sessão, que se realiza na Livraria da Biblioteca Nacional de Portugal (BNP), pelas 18:00, participará também o professor de literatura e membro da Classe de Letras da Academia das Ciências de Lisboa, Artur Anselmo, que falará sobre a obra de Hatherly - poeta, ensaísta, investigadora, tradutora, professora universitária e artista plástica, nascida no Porto em 1929.
A exposição, patente até 31 de Março na Sala de Referência da BNP, é composta por exemplares das obras impressas da poetisa e também documentos do seu espólio, que se encontra à guarda da instituição, no Arquivo de Cultura Portuguesa Contemporânea. (fonte: Diário Digital)

terça-feira, 11 de março de 2008

Experiência transcendente


Este conjunto escultórico é do magistral Bernini e encontra-se numa pequena igreja de Roma. Chama-se O êxtase de Sta. Teresa (1647-1652) e representa o episódio de amor místico experimentado por Santa Teresa de Ávila, também conhecido por «Transverberação de Sta. Teresa». Foi a própria que relatou o seguinte:

«Ao meu lado esquerdo apareceu um anjo em forma corporal. Não era alto mas baixo e muito belo. E a sua face estava tão afogueada (…). Vi na sua mão um longo dardo de ouro, na ponta do qual julguei ver uma pequena chama. Pareceu-me que o fazia entrar de tempos a tempos no meu coração e que ele me perfurava até ao fundo das entranhas; quando o retirava, parecia-me que as arrancava também e me deixava toda abrasada com um grande amor de Deus. A dor era tão grande que me fazia gemer e, no entanto, a doçura desta dor excessiva era tal, que era impossível querer vê-la terminada, e a alma já não se contentava senão com Deus. A dor não era física, mas espiritual, se bem que o corpo aí tivesse a sua parte. Era uma tão doce carícia de amor entre a alma e Deus (…)».

Como a muitos analistas contemporâneos, não escapou a Bernini a vertente do amor sensual aliado ao amor místico. É bem evidente o abandono físico da freira perante o anjo, como o abandono da mulher excitada perante o homem amado. O rosto do anjo reflecte aquela doce alegria que qualquer homem experimenta no momento anterior à posse da mulher rendida. O dardo não pode ser mais simbólico na sua rigidez fálica e na sua ponta penetrante. O gesto delicado da mão esquerda do anjo a levantar o hábito descomposto da freira, como quem afasta uma última peça de roupa íntima, eleva a sensualidade do conjunto a um nível nunca esperado num altar.
Mas que melhor lugar para celebrar a experiência transcendente e sublime de um orgasmo?

[Publicado no blogue Universos Assimétricos]

Delirando


Todas as noites me devora a minha cama.
É uma cama tão triste, tão fria…
Lugar de sonho, tragédia, drama,
Onde deliro até ao raiar do dia.
Desperto sempre louco, baralhado,
Apaga-se-me no sono a fronteira
Entre o mundo sonhado
E a realidade verdadeira.
Esta noite olhei ao alto,
Sonhei-te a voar,
Corri, alcancei-te num salto,
Levei-te comigo p´ro fundo do mar,
Encontrámos uma cidade,
Aquela que me faz viver intensamente,
Onde se mata a sede de liberdade,
Onde eu conseguiria amar docemente.
Habitada por duendes dóceis e audazes,
Vivem felizes: Fizeram as pazes,
Destruiram fronteiras
Rasgaram bandeiras,
Encontrei a liberdade real, finalmente,
A única liberdade é aquela que se sente.
Todas as noites me devora a minha cama...


Gonçalo Nuno Martins
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NAda em 53 vezes
papiroeditora
.
Foto:Paulo Cesar olhares.com

Obrigado:)




Na foto:Eu e duas amigas do peito...a pequenina Bia e a Luísa:)

A Apresentação do livro Afectos Obsessivos na Livraria Leitura Books & Living ocorreu num ambiente muito caloroso e descontraído.
Cercada de amigos e de pessoas que me acarinharam imenso...só podia ter sido um momento muito especial...e foi.
O livro foi apresentado...a autora deixou-se guiar pela emoção que sentia e as palavras saíram bem cá do fundo do peito.
Depois a poesia foi rainha e muitas vozes quiseram partilhar emoções ...inesquecível.
Obrigado a todos os que estiveram presentes e me apoiaram nessa tarde...

Para quem quiser dar uma olhadela pelas fotos do evento...entrem no site EscritArtes e espiem o slide que lá se encontra

http://www.escritartes.com/forum/

beijinhos

Daniela Pereira

III Encontro Ibérico de Escritores

Encontro de escritores Palavra Ibérica, em Punta Umbría.
Histórico. Maravilhoso. Inspirador.

Encontrei escritores que muito admirava e foi um verdadeiro privilégio trocar ideias com eles.

Uberto Stabile, Rafael Camarasa (vencedor do Prémio Palavra Ibérica com o maravilhoso livro El Sítio Justo, que tem tradução minha), Manuel A. Domingos, de que conhecia sobretudo as traduções de Charles Bukowski, José Mário Silva, uma grande figura do jornalismo português, António Orihuela, que no sábado ia deitando o Grand Café Nexo abaixo com a força da sua poesia, o Luís Filípe Cristóvão, que me deu lições no campo da edição (tirei apontamentos) e que teve uma tentativa frustrada de me acordar às 5 da manhã - enganou-se e bateu à porta do Fernando Esteves Pinto, que no dia seguinte me repetiu vezes sem conta "tu ainda és muito novo!", a Diana Almeida, com o seu hábito de responder com os ouvidos, a Rosario Pérez Cabañas, que me deixou maravilhado pela beleza misturada com humildade, bem como pela poesia subtil que não deixa ninguém indiferente, Golgona Anghel que é uma miúda muito linda de quem é fácil ser-se amigo (um talento da Quasi e biógrafa do Al Berto), a Carmen Camacho que tem uma imagem única e uns poemas deliciosos, o João Bentes que foi uma surpresa com os seus poemas revolucionários e que como disse um gajo ligeiramente alcoolizado "foram os três melhores poemas da literatura mundial dos últimos dez anos".

Enfim,
Regressei com muita coisa na cabeça, outra pessoa decerto. Uma palavra ainda para a exposição de fotografia de Paula Ferro, sem dúvida um dos pontos altos da festa, para a Manuela Ribeiro, directora do Encontro Correntes D'escrita, e para Adão Contreiras que captou em vídeo muitos dos momentos. O Adão iniciou há 15 anos esta ligação com Espanha. A carrinha: uma Citroen branca. Como fomos para lá? na mesma carrinha. Há coisas que não mudam. Nem devem.

Tiago Nené

AMOR NÃO É....

O Amor
não é para ser feito
às escuras...


Na cama, na relva, na palha,
em silêncio ou com som,
no chão ou de pé,
em terra, no ar ou no mar,
é sempre bom, é todo bom.


De qualquer jeito,
de noite ou de dia,
ao luar de lua cheia,
com tempo ou de fugida,
com calma ou frenesim,
com paixão, fome ou alegria,
mas sempre, sempre
com princípio, meio e fim.


Só uma coisa,
inaceitável
deve ser proibida:
fazer amor sem amor,
às escuras,
como coisa obrigatória,
suportada
e fingida...

(Poeta: Hélder Travado)

segunda-feira, 10 de março de 2008

those little stains



acontece-me tropeçar estes gestos quase ternos, quase meigos, na tua pele anoitecida. sabe que é o seu sopro que me traz à beira das manhãs, amanhecendo. mas tu me destrocas os dias e as noites tardando sobre a boca, sabendo que é nela que respiro.




também aqui
foto de katia chausheva

O interior e a realidade

Se uma entidade suprema – um deus, um guru, qualquer coisa – te desse a possibilidade de acabar com a raça das pessoas que odeias, o que farias? Matarias por ódio ou perdoarias? Imagina uma figura real. O teu padrasto. A tua tia. Não. O vizinho que te roubou a namorada. O vizinho que se deita todos os dias na mesma cama com a mulher que amas. O vizinho que enfia o pénis na boca, na vagina e no ânus da mulher que adoras. O que farias ao teu vizinho?

«Matava-o com um machado.»

Se passas pelo teu vizinho todas as manhãs, se o vês todos os dias com aquele sorriso idiota pregado aos lábios, por que não o golpeias com o teu machado? Não foi ele quem te roubou a mulher? Com quantas mulheres dormes actualmente? Melhor: com quantas mulheres contactaste hoje? Zero. Tens mais do que razões para odiar a cara, o corpo, o estilo, os gestos e a fala daquele homem. Deverias apagar a existência dele do mapa. Por que não o fazes?

«Se existisse uma entidade suprema, um deus, que me pudesse deixar matar sem ser condenado pela justiça dos homens, ou se existisse um Deus, com letra maiúscula, que me redimisse de todos os pecados na hora da morte, não hesitaria em ir buscar o machado à mala do carro. Decapitá-lo-ia se acreditasse na Salvação. Mas não acredito. Recuso-me a acreditar. Se houvesse Salvação, não sofreria todos os dias, não sentiria dores, não teria esta vontade constante de desaparecer, de morrer. Se houvesse Deus, não se falaria em Auschwitz ou em Kolyma. Como é que alguém que passou uma vida a sofrer se poderá sujeitar a um julgamento final?»

Ficaste sem mulher. Isso dever-te-ia chegar. Ainda te dói o estômago quando a vês passar. Não te enoja o facto de haver um homem neste mundo que te roubou tudo aquilo que para ti era importante?

«Pegaria no machado se houvesse Deus. Como não há, como não poderei nunca ser salvo ou condenado, remeto-me à inércia, ao esquecimento. Prefiro tentar esquecer do que sofrer numa prisão.»

Se assim é, o que faz essa faca na tua mão? Não estarás a pensar enviar aquele sujeito para o cadafalso? O que faz essa faca na tua mão? Por que te aproximas tão velozmente do homem? Que lágrimas são essas que te fazem parecer um patinho? O que faz a tua mão e a faca no pescoço do homem a quem a tua antiga namorada chupa o sexo? Por que o estás a matar?

«Não estou a pensar em livros. Nada do que pensei faz sentido. Desculpa, meu Deus.»

Recomendamos

A Magna Editora está aí em força. O reconhecimento está a chegar e Luís Carmelo, conhecido escritor português, acaba de apostar na editora para lançar o seu novíssimo livro.

domingo, 9 de março de 2008

MULHER


Sou mulher,
do meu mundo,
empunho o remo
e não me tremem as mãos
em nenhum momento,
a não ser que algum quebranto
de dor
ou tormento
de amor
acenda o vento
e aqueça o tempo
em minhas águas.
Navego.
e o leme,
se áspero e belicoso,
é o meu mundo
e não me entrego,
ou me entrego.
quando não nego,
canta o vento,
dos meus gemidos,
invejoso.
Sou mulher e lamento
que ainda é curto
o tempo de não servir.
que antes, por muito tempo,
e ainda hoje,
ando sobre carvões acesos,
enquanto riem dos saltos
e dos uivos queimados
da antiga dor.
No entanto, navego.
e, se qualquer prumo enfrento,
é que me agrada o riste, o lume
da vida em líquido surgimento
e banhar-me neste prazer
é o que intento,
lépida serpente.
Sou mulher e invento
o sabor do veneno
de cada dia,
o alimento meu é o que sacia
quem navega no meu mundo,
pélago, maresia.
Saramar

Imagem: Bernhard

sábado, 8 de março de 2008

Sete faces de Eva

Chamava-se Eva, corria descalça e tinha um sonho.
Minto, não tinha só um sonho, tinha vários sonhos instrumentais para conseguir alcançar O SONHO.
Neste momento, um dos seus pequenos sonhos passava por conseguir apanhar o comboio, não o podia mesmo perder, portanto, com os stilettos na mão, correu pela plataforma até conseguir entrar, mesmo no último instante.
Respirou fundo, encontrou a casa de banho e, depois de se retocar, olhou para o espelho com um sorriso de satisfação, o calçado não tinha sido boa opção para uma corrida, mas estava linda e sabia que ia triunfar.
Saiu do comboio, chamou um táxi, e indicou “para a Ópera, se faz favor.”
“Uma menina assim gira? Não prefere antes uma discoteca?”
Eva riu e disse “hoje não. Hoje vou só assistir à ópera, mas daqui por dois anos vai ver a minha cara nos cartazes como a nova grande diva. Acredite.”


NOTA - esta é só uma das faces, as outras estão aqui

MULHER

Como poderia ser poeta
ter os projectos
atravessar as fronteiras
do perigo imenso
dos conceitos intensos
sem a sua sensibilidade
apaziguadora
enternecedora?

Como seria o mundo
se
não tivesse a sua âncora
as
viagens de fundo
os
filhos e os maridos
adolescentes incandescentes
amigos empedernidos
abraços quentes de doçura
as
palavras amargas de vida
a
delicadeza pura de desejo
a
arrojada semente de amor
sem uma mulher que fosse?

Mãe sem medo
de tesouros incalculáveis
olvidados em agorrância,
aninhados no esquecimento
apesar de partilhados, contemplados
anunciados, e escarnecidos
persistidos e repetidos
e mesmo na queda intensa
o ombro que surge
sempre com o mesmo sorriso
a mesma protecção
a mesma semente de vida
que deu a vida
e ensinou a subir a montanha
a mais agreste
no sentido de respeito
dos valores e da vontade
de partilhar o amor

A mulher pode tudo
mesmo que seja preciso um dia
quando todos os dias são dela
e nós homens não somos ninguém sem ela
mãe
namorada
amiga
inimiga
VIVA

Eu quero tudo
para poder respirar
o seu viver
e caminhar ao lado de uma
de muitas e de nenhuma morte
de mulheres que sublimam
que lastimam que se fecham
que se abrem. que fazem a viagem
curta, intensa da vida
sem uma lamúria
na intriga e na penúria
na liberdade própria
de quem a tem
e nunca soube o que é
e enquanto houver uma mulher
que sirva de contraponto
ao mundo masculinizado
das guerras e dos ódios
o mundo tem esperança
de vida, de mudança no rumo
de amor e de ardor
de felicidade e tranquilidade
de alma e belezas puras!

VIVAM AS MULHERES, seja no mês maravilhoso de Março em que o avô Inverno dá lugar à neta Primavera (a única estação feminina, curiosamente) no Hemisfério norte do Planeta Terra, a única época em que tudo floresce de novo, com uma renovada esperança de vida!


Apesar de não estar lá, quero desejar à Daniela Pereira (nossa companheira de letras deste blogue) o sucesso que ela merece pelos brilhantes «Afectos Obsessivos - A Poesia Curiosamente Sem Açúcar», o lançamento vai ser hoje e de espírito estou lá, bem hajas!

Curiosamente a 8 de Março!

Sigur Rós - Glósóli



E um poema meu ainda sem nome nem revisão:

Ligo-te indiciando sortes
encimadas, talvez encantadas

Sublimo-te onde ninguém invade as marés amontoadas
rufando onde nada acontece

Guio-te onde ninguém conhece
as laranjas vermelhas
espumando sumarentas...

Manuel Marques

escrito algures no ultimo trimestre de 2007

sexta-feira, 7 de março de 2008

História que não bate (certo) duas vezes

texto datado de há cerca de 2/3 anos atrás...

“É mais uma história mal contada.” O comboio faz-se ouvir de perto, fecha a revista, joga-a em cima das outras espalhadas por de cima da mesa quadrada. Enquanto que volta a olhar para o relógio de pulso.Suspira. Alto. Devastadoramente. Está nervoso. O tempo está a escoar rapidamente. E tudo lhe é visível. Mexe e remexe-se na cadeira. Fixa o chão. Fixa o tecto. Fixa os lados. E o olho descai-lhe para o cenário urbano escuro e vazio da janela. Falta pouco para as quatro da manhã.E olha para ela. A mulher objecta. E se metesse conversa, com ela? Ela, a mulher objecta. Passar o tempo…, a espera, o ócio. Breve.Sentada de perna cruzada com o olhar caído e disperso num livro. A mulher objecta, não pestaneja. Em vez disso vira as páginas que funcionam como contador de compasso de tempo aleatório. Substituição dos ponteiros monótonos, insípidos. Vira. Pára. Vira. Pára. Vira. Vira e volta a parar. Ele gosta desse ligeiro ruído. Gosta da lentidão sonora com que a mulher objecta vira as folhas. O aroma que o papel dispersa pela sala de espera. Dói-lhe o dente.Fica ali, estático. Enfim. Parado a olhar para a mulher objecta. Para os dedos finos e brancos. A concentração fixa na ponta do seu nariz inclinado.“É Bonita.” Concluiu. E sorri feliz. Pateta. A mulher objecta, leva as pontas dos dedos aos lábios secos e humedece-os. Vira uma nova página em câmara lenta. Entre as pernas, ele, sente um ligeiro inchaço. Uma erecção. E apaga o sorriso inconsciente do rosto.A mulher objecta, fecha o livro. Paf! Olha para ele. Baixa os olhos e diz: “O senhor tem a braguilha aberta.” E volta a abrir o livro mas desconcentra toda a atmosfera rindo-se. E ri. Ri muito. Muito e alto. Estonteantemente.Sente a cara a inchar de vermelho. Tapa o volume com ambas as mãos e levanta-se num falso passo que o faz cair infinitamente num abismo que o faz acordar.“Que horas são?” Pergunta a mulher objecta. Ele olha para o pulso: “Ainda temos meia hora.” A mulher objecta levanta-se. Aproxima-se dele e devolve-lhe o livro. E dirige-se à única porta existente na sala de espera. Bate duas vezes. Ninguém abre. Ninguém responde. “Mais uma história muito mal contada” diz a mulher objecta.“Pois é.” Concorda. “Mas sou eu que pago. Por isso, volta a sentar no teu lugar e continua a fazer o que estavas a fazer”, e estende-lhe de novo o livro. Como da primeira vez. Ela aceita-o de volta com o olho sempre fixe na maçaneta da única porta existente da sala de espera.

Cavalos feridos de silêncio

São de fogo os seus cabelos soltos

suspirando ao longo das montanhas
onde há cavalos cheirando a suor e a pássaros
feridos de silêncio.
.
Há maresia nos seus olhos serenos
e brandos de lume
perdidos em ondas de ternura e vento
e há espelhos e pradarias imensas e quentes
chispas de sol derretendo gestos e falas
nos recantos das pálpebrasde veludo.
.
O seu corpo solta-se de repente
em tempestades convulsas de erva molhada
por sobre um lençol de terra
com sabor a fruta fresca e a madeira antiga
lembrando palavras
que nunca foram ditas.
.
Autor:José António Gonçalves
in Esquivas são as aves

col. Cadernos Ilha, nº11 Ed. Correio da Madeira 2001