Se uma entidade suprema – um deus, um guru, qualquer coisa – te desse a possibilidade de acabar com a raça das pessoas que odeias, o que farias? Matarias por ódio ou perdoarias? Imagina uma figura real. O teu padrasto. A tua tia. Não. O vizinho que te roubou a namorada. O vizinho que se deita todos os dias na mesma cama com a mulher que amas. O vizinho que enfia o pénis na boca, na vagina e no ânus da mulher que adoras. O que farias ao teu vizinho?
«Matava-o com um machado.»
Se passas pelo teu vizinho todas as manhãs, se o vês todos os dias com aquele sorriso idiota pregado aos lábios, por que não o golpeias com o teu machado? Não foi ele quem te roubou a mulher? Com quantas mulheres dormes actualmente? Melhor: com quantas mulheres contactaste hoje? Zero. Tens mais do que razões para odiar a cara, o corpo, o estilo, os gestos e a fala daquele homem. Deverias apagar a existência dele do mapa. Por que não o fazes?
«Se existisse uma entidade suprema, um deus, que me pudesse deixar matar sem ser condenado pela justiça dos homens, ou se existisse um Deus, com letra maiúscula, que me redimisse de todos os pecados na hora da morte, não hesitaria em ir buscar o machado à mala do carro. Decapitá-lo-ia se acreditasse na Salvação. Mas não acredito. Recuso-me a acreditar. Se houvesse Salvação, não sofreria todos os dias, não sentiria dores, não teria esta vontade constante de desaparecer, de morrer. Se houvesse Deus, não se falaria em Auschwitz ou em Kolyma. Como é que alguém que passou uma vida a sofrer se poderá sujeitar a um julgamento final?»
Ficaste sem mulher. Isso dever-te-ia chegar. Ainda te dói o estômago quando a vês passar. Não te enoja o facto de haver um homem neste mundo que te roubou tudo aquilo que para ti era importante?
«Pegaria no machado se houvesse Deus. Como não há, como não poderei nunca ser salvo ou condenado, remeto-me à inércia, ao esquecimento. Prefiro tentar esquecer do que sofrer numa prisão.»
Se assim é, o que faz essa faca na tua mão? Não estarás a pensar enviar aquele sujeito para o cadafalso? O que faz essa faca na tua mão? Por que te aproximas tão velozmente do homem? Que lágrimas são essas que te fazem parecer um patinho? O que faz a tua mão e a faca no pescoço do homem a quem a tua antiga namorada chupa o sexo? Por que o estás a matar?
«Não estou a pensar em livros. Nada do que pensei faz sentido. Desculpa, meu Deus.»
segunda-feira, 10 de março de 2008
O interior e a realidade
Colocado aqui mui gentilmente por Paulo Rodrigues Ferreira à(s) 18:08
Etiquetas: exercícios
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