terça-feira, 28 de outubro de 2008

A voz que se cala

Ele já não conseguia falar com ela. Este facto tão simples complica-se quando se descobre que A sofre por B. O corpo dela dava ares de ser possuidor de uma corrente eléctrica tão potente quanto o peso da baleia em cima do pescador. Andava com aquela mulher há quatro anos e, pela primeira vez, começava a sentir que lhe era, de certo modo, estranha, alguém com quem não se poderia partilhar os mais íntimos pensamentos. Perdes o parceiro quando te deixas de sentir à vontade para convidá-lo para a dança. Para a levar para a cama, ele precisava de implorar, pôr-se de joelhos e pedir: «Por favor.» Às vezes, quando começava a contar uma piada, parava a meio, como se do outro lado não houvesse nada para além da distracção. Todos os dias ele fazia esforço para conseguir suportar a companhia de uma pessoa que, pela indiferença, o fazia querer voltar atrás no tempo. Imagine-se a sensação de ter dois pratos na mesa e só haver um indivíduo sentado para comer. Estar com ela era pior do que estar sozinho. Muito pior. Um homem só tem-se a si próprio. Com ela, aparecia a dor de se sentir perdido e de não ter companhia nem amor. Ele queria ir embora, no entanto, era demasiado cobarde para o fazer. Mais do que isso: egoísta. Preferia ficar com um pássaro na mão do que com dois a voar. Por conseguinte, ia ficando, cada vez mais enroscado na sua pequena teia-de-aranha, cada vez mais peça de mobília, azulejo de parede, fotografia da qual a memória não se recorda do nome.

00:04

sábado, 25 de outubro de 2008

existe



existe uma magia na margem deste rio. sinto-a, como se olhos de duendes me seguissem os gestos. faço-me bailarina. percorro a beira rio salpicando água em movimentos suaves. se me observam, ignoro-o! mas gosto de me sentir procurada por olhares. saboreio a fantasia de uma ribalta. não oiço aplausos. consigo imaginá-los! porque os duendes que me seguem os gestos com o olhar têm medo da água. surpreende-os a loucura da minha dança e a vontade de a fazer na margem do rio que nunca podem alcançar.


Autor:http://pin-gente.blogspot.com/
Foto:Natália Stragg

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

V Império

A música O Castelo do conjunto português V Império. Alguém sabe o que lhes aconteceu?

VAGAR


Anne-Julie Aubry


Sobre a mesa, pratos que esvaziam,

jantares que não sustentam a fome,

potente anestésico dentro do vinho.


Nas léguas que percorro abstraindo,

meus passos ligeiros me levam dali

para cada vez mais longe das vozes.


Todos apenas falam, sem parar. Calo,

observo nas dobras da toalha branca

montes de areia no meu deserto alheio...

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Quero:
as tuas
Roupas
Espalhadas
No chão
Pelo meu quarto.
Os teus dedos macios
Espalhados
Pelo meu
Corpo
Toque de piano.
O frenezim de um Frazão.
Quero:
Apenas aconchegar-te
Ver-
Te
Dormir
Sentir que
Te sentes
No ninho
Abraçar-te.
Porque sei da importância de um abraço.
Cuidar de ti, como se cuida de um menino pequeno.
Como cuidas do teu filho.
Precisas de cuidados.
Quero:
fazer-
Te
Uma massagem.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

O fundo da gaveta

James Burn era um detective peculiar: só tratava de casos já julgados, cujo veredicto tinha ditado a pena de morte. Mantinha um vasto ficheiro de pastas que consultava regularmente. Quando, por acaso de circunstância, ou por intervenção de familiares dos condenados lhe chegava alguma pista extra, passava o caso para os pendentes, e, a partir daí, seguia a nova pista com minúcia e perseverança até a esgotar. Às vezes, a pista dava em nada, noutras, chegava a conseguir a reapreciação do caso, e várias vezes a libertação dum inocente.
Eram esses casos que o enchiam de orgulho e, como outros admiram o diploma emoldurado na parede, ele, todas as manhãs, folheava as pastas dos casos resolvidos: o caso do adolescente que fora condenado por violação e morte da namorada, mas que afinal tinha sido obra do padrasto; o caso do negro que morreria daí a dois dias, quando a sua investigação provou que ele estava longe do local no momento do crime; e mais uma meia-dúzia de outros casos.
No fundo da gaveta estavam os dois que ditariam a libertação dos inocentes, mas que, infelizmente, foram resolvidos tarde demais para os condenados. A pena de morte antecipara-se. Quando tinha coragem para os folhear, invariavelmente, abria também a última gaveta da direita da escrivaninha donde retirava uma garrafa de Jack Daniels.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Maria do Sameiro Barroso vence Prémio Palavra Ibérica 2009

O blogue das artes dá os parabéns a Maria do Sameiro Barroso.

Para ler alguns poemas da autora siga este [link]

domingo, 19 de outubro de 2008

Última Parada 174

No dia 12 de Junho de 2000, o autocarro da linha 174 no Rio de Janeiro ficou detido por várias horas por um homem armado. Fez vários reféns e tudo foi acompanhado em directo pela imprensa brasileira. Este acontecimento daria origem ao documentário Ônibus 174, divulgado em 2002 por José Padilha (o realizador do filme Tropa de Elite). No vídeo abaixo poderão ver um excerto do mesmo.



.
.
Bruno Barreto recupera agora a história e traz-nos um filme que promete ressuscitar o debate sobre o lado mais negro da realidade metropolitana do Brasil. Deixo-vos o trailer, o título é Última Parada 174


sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Casa dos Poetas

Um excelente blogue o Casa dos Poetas. Boa base de dados da poesia portuguesa e universal.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Fraqueza, incapacidade, ignorância

Fraqueza: não despejar a raiva no ouvido do monstro, não dizer à avó que se gosta dela mais do que de tudo o resto que anda, não dar o beijo na boca da rapariga que passa, não protestar quando se deve, não só não saber perder como não saber ganhar, querer ganhar acima de tudo mas só conhecer o sabor da derrota, querer dinheiro, trabalho, prazer, querer fugir da dor, dessa maldição que cobre o planeta, especialmente o planeta de um só homem, o quarto, a carne, o lenço que fica molhado após o contacto com a pálpebra molhada. Fraqueza e incapacidade: duas palavras que moldam uma vida. Ignorância: a palavra mais forte. Perdoai-lhes que eles não sabem o que fazem, não sabem mesmo, desculpai-os por todo o mal, Senhor. Os pequenos animais, os macacos que rapam os pêlos da cara, que fingem saber o abc dos livros, que colocam perfume na camisa de seda, que matam, que desprezam, que fazem sofrer, que sofrem desalmadamente, como se não existisse mais nada para além de um longo sofrimento. Agonizar dentro da fogueira em que a mão de carne deita fogo à biblioteca de papel. Defecar, urinar, vomitar, tossir, espirrar, arrotar. Eu defeco, tu defecas, ele defeca, nós defecamos, vós defecais, eles defecam. De certo modo, a palavra feia cria mais repulsa do que o balde cheio de fezes, do que a boca cheia de esperma, do que o prego espetado nas costas. Perder, ninguém aparecer na vida daquele que quer gente a surgir-lhe à frente do olhar com intenções de amizade, ter sempre o jogo perdido por mil . Não haver talento para nada, nem para a masturbação, que dura três segundos.

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

EMBARQUE


René Magritte
Acode minha ânsia, teu sexo,

última chamada antes da noite!


Flagrados meus delitos carnais,

transportaremos fragrâncias sutis...


Depois, partirá o navio do porto,

recolhe minha alma a tua alma,


escreve nossos nomes no espelho

e mira teu belo rosto no infinito...

sábado, 11 de outubro de 2008

NO INEFÁVEL DA ARTE

NO INEFÁVEL DA ARTE

Perco-me na arte, na escultura que a natureza concebeu, no momento de todos os momentos, por traços cada vez mais totais, mais perfeitos, mais cheios de desejo, com todas as cores, desde a manhã e a noite. Somos noite e o dia exibido! Somos neste reino de sentido por vezes proibido.
Artes, talvez um pouco daquilo que o espírito contém, talvez! Direi talvez, porque não sei, não posso saber, quando tento saber disso que deve ser, perco-me no esquecimento e toda a verdade derrama-se na terra do esquecimento. A arte é mesmo este esquecimento das coisas prometidas, das coisas que te digo, do que te continuo a dizer e tanto que não podes avaliar. Hoje foste capaz de avaliar tudo o que fiz, tudo o que disse e escrevi e a arte traçou uma nova aventura. Sabes bem que toda a nossa arte conjuga-se na arte da existência e de tudo isso que foste capaz de traçar no reino dos sentidos. Apurei todos os sentidos e os sentidos lançaram um novo ser, o ser que te foi dado a tomar, no corpo singelo e complexo, mas total. Apuro as palavras e apenas ficas no lugar inefável.

Vila Franca de Xira, 11 de Outubro de 2008 - 23:32h
Jorge Ferro Rosa, in Caderno da Alma

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Canção de saída

O despertador começa a tocar. Dez da manhã. Bem que poderiam ser duas ou três da tarde. Não há nada para fazer, ninguém com quem contactar. Os amigos não estão, nunca estiveram, foram uma invenção. Não se pode imaginar dois cães enraivecidos a manterem laços sem que saia um sorriso. Uma curva que se põe nos lábios. A família não está, nunca esteve. Outra invenção. O pai, a mãe, a avó, a tia, o primo, tudo invenções. Ninguém existe realmente. O despertador toca e uma pessoa vê-se obrigada a sair da cama porque perdeu o sono e não quer ficar debaixo dos lençóis a ter pensamentos tristes. Mas fora da cama também não há nada. O homem coloca os pés no chão, arrepia-se com o gelo outonal e levanta-se para um banho de água fria. À inglesa. Para enrijar. Enrijar, é assim que falam os homens grandes. Ganhar músculo, tesão, levá-las para a cama e fazer-lhes filhos. À homem. Mas os homens não são rijos. Tomam banho de água fria por não terem dinheiro para uma botija de gás. Um objecto para custar meia dúzia de tostões. Onde está o rijo? Passar os dias a escrever, a ler, a dormir, a iludir-se com o futuro que nunca chega a ser futuro, porque é cada vez mais passado. Isso é ser rijo? E abandonar um filho, é ser rijo? De forma breve, quase meteórica, o homem toma o seu banho gelado (outra solução seria não o tomar e ir para a rua todos os dias com um cheiro a novilho) e veste uma camisa surrada na gola. Olha pela janela: a humanidade é imensa e infeliz. O que fazer? Ir procurar trabalho? Dormir? Deixar o mundo correr e mandar o amanhã às urtigas? Pôr perfume no pescoço. O homem põe perfume e penteia-se para não sair de casa. Fica todo cheiroso para nada, ou melhor, para abrir um livro e o começar a ler. Talvez a loucura inclua gente que quer fazer amor com papel nas suas instalações. A namorada? Nunca existiu, tudo ficções. A mulher? Uma ficção ainda maior. O homem lê trinta páginas de um livro de poemas, pisca os olhos – primeiro o esquerdo, depois o direito – para perceber se ainda vê do mesmo modo que via antes de ter começado a ler. A solidão dá para tanta coisa. Às vezes, dá para sofrer, para sentir uma dor tão grande, mas tão grande, que se quer morrer. Um homem levanta-se e deita-se e não faz nada e não há nada e nada existe porque nada faz sentir felicidade e isso magoa, magoa tanto, tanto, tanto, que se deseja morrer.

Murcha...

Publicado em: Alguns Anos Depois


Fala, diz, conversa, cala, consente, sente, pára, e fica tudo igual mas ao mesmo tempo está tudo bastante diferente.


Seca, murcha, dói, sente, pára, e não levanta para o sol, não caminha para a luz, senta e pensa no que lhe seduz, se ainda resta, se ainda sobra.


Grita, chora, briga, sente, pára, e volta tudo ao normal vindo do nada, não se ouve, nunca se ouve, por isso se fala tão alto, não se sente, por isso chora, nada muda, por isso briga.


Caí, tropeça, rebola, deita, levanta, sente, pára, e volta a fazer o mesmo, a magoar da mesma maneira, pois quando se tropeça ainda podemos sentar para curar a ferida e aí pensar, se rebolamos podemos acabar por ir parar a outro lado.


Agarra, puxa, solta, sente, pára, e parece que está sempre a fugir, ou então nunca esteve realmente agarrado, está por estar, não importa como está, não se pode estar sempre a fingir.


Foge, corre, volta, parte, regressa, sente, pára, e quando percebemos o que existe não era suposto, o que está lá não era para estar e o que fizemos talvez tenha sido um erro, precipitação misturada com paixão e agora confusão misturada com desilusão.


Inspira, respira, dorme, acorda, come, sente, pára…

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Literatura

Li
Te
Ra
Tu
Ra

Li
Tu

Li
Tera
Tura

Terra?
Turra?

Litera
Tu
Ra

Lira
Tetu
Teto?
Ra
Rã?

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Sonho versus pesadelo



Acabar com a dor. Ter a ferida no braço e rezar aos céus para que o sangue deixe de correr, para que não se dê uma razia. Uma hecatombe, palavra pesada que lembra um elefante a estatelar-se no chão poeirento. A bomba no céu que se vai deixando cair, cair, cair cada vez mais, até tornar inevitável a destruição de um indivíduo, de uma aldeia, de uma cidade. O homem que se vai deitar com uma granada no bolso das calças do pijama, que beija a mulher e diz boa noite, até amanhã, e que sabe que o amanhã não chegará nunca porque há a bomba, a granada, a ferida, os pêlos chamuscados, a pele rasgada, as vísceras de fora, o osso descarnado, a destruição. A criança que não dormiu de noite porque pensa na rapariga bonita e que sofre, que sente um aperto na barriga, na garganta, por ter perfeita consciência de que não a beijará, de que nunca a apertará nos seus braços, que tudo pertence ao domínio do sonho. Tudo pertence ao domínio do sonho: «Bem-vindo ao meu reino. Sê feliz, procria, enriquece, trabalha, dorme, fornica, descansa, sorri, abraça a mãe e o pai, almoça com os amigos, passeia com a namorada. Acorda. Acaba com tudo.» Sonhar é como estar num futuro ideal mas ao mesmo tempo não estar, não tocar, não sentir. É cheirar o perfume da mulher sem tactear. A velha que sonha com o passado que não teve, com os filhos e os netos que não nasceram. O não ter uma descendência para a frente nem para trás, não ter um pai nem um filho. Ser só, peão isolado na longa estrada que leva ao desaparecimento. Ser isolado e ver uma mulher a passar na rua. Sentir paixão no peito. Agarrá-la pelas pernas e lambê-la, encostá-la à parede e dizer: «Casa-te comigo, foge comigo, vem comigo.» E ele não querer casar, não querer fugir, não ir a lado algum. E ser o cavaleiro sem espada no meio da floresta recheada de lobos. Tudo o que não pertence ao reino dos sonhos faz parte da dura realidade que é o pesadelo. Quase tudo é duro, pesado, agressivo, mortífero. Quase tudo o que não é felicidade é pesadelo. E o pesadelo é quase toda a vida. É sentir dor, gritar no meio da praia vazia, estar deitado numa maca de hospital, pedir ajuda, virem médicos com garantias de que não se pode matar o paciente. Ter o veneno à frente da boca mas ser controlado pela cobardia. Fechar os olhos deitado num prado e entrar num outro planeta: «Nasceste rico, vais para a escola dos meninos bonitos, tens namoradas, mil namoradas, dás mil beijinhos. Terás a melhor das adolescências. Quando chegares a adulto, os bolsos das tuas calças estarão sempre cheios de notas de mil e de cinco mil e de um milhão. Envelhecerás com calma, terás filhos, crianças lindas , os teus pais morrerão, claro que sim. Os pais morrem sempre. Mas os teus morrerão felizes por te verem feliz. Tu próprio morrerás, mas será tudo lá para a frente, para o infinito. Agora, és uma espécie de arco-íris.» Acordar, sair da cama, tomar o ansiolítico, trabalhar, levar com o cajado nas costas, ser tudo mas mesmo tudo mentira.

poème a trois

um conto de Tiago Nené na Letrário Editora.

para ler [Aqui]

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Nenhum, nada, zero



As têmporas inchadas, as veias a quererem ultrapassar os limites da pele, a testa franzida, enrugada, engelhada, velha, estúpida, podre. A dor na cabeça que não pára de crescer, os olhos a diminuírem. Os ossos que vão estalar, o maxilar deslocado, o nervo do dente que foi atingido pelo relâmpago e que precisa de desvitalização. O crânio que parece apertado pelo crescimento de um cérebro oco, vazio, fútil. O adjectivo na frase necessitada de algo mais compacto e substancial. A dor, os diferentes tipos de dor. O orgasmo que magoa e que simultaneamente dá prazer. O murro no estômago que faz chorar. A dor tem diferentes registos. Muda de pessoa para pessoa, de contexto para contexto, de segundo para segundo. Enterrar um prego no pé não é, certamente, receber um pénis de proporções inimagináveis num dos orifícios do corpo. Partir uma perna não é ganhar uma prova de atletismo com os pulmões esgotados. A mesma dor varia. Numa guerra, dois homens que levaram o tiro na mesma parte do braço poderão ter reacções diferentes: basta um ganhar e outro perder a guerra para tudo mudar. Aquele que consome droga por desgosto não sofre do mesmo modo no momento de se injectar e no momento da ressaca. Tudo muda, tudo se altera, tudo se agudiza, tudo desaparece. O desaparecimento. Haverá palavra mais importante para o ser humano? Nascer, crescer, atingir um metro e oitenta de altura, noventa quilos de peso e, no fim, acabar dentro de um frasco cheio de cinzas, sinal de memória para os que ficam. Ser herói, liderar a cruzada, a revolução, o golpe de estado, levar com o machado nas costas, acabar deitado dentro de uma caixa de madeira com as carpideiras a servirem de pano de fundo. O rasgar de pano nos ouvidos. A esposa a beijar os lábios de um homem que não o marido. Acertar com o martelo no polegar, deixando o prego ileso. A agulha nos olhos do pardal. Ficar sozinho, estar sozinho, andar sozinho, traído, abandonado, despojado de tudo, não fazer sentido, nenhum sentido possível, e abandonar tudo, sair do barco vazio e cair no mar à espera que o destino decida se a morte chegará ou não. Partir para uma realidade diferente da actual e ser feliz, feliz com o que não existe, com a imaginação, com as plantas, com os anos verdes, com a dama, com a rainha, com o cofre do dinheiro. O sono, a vontade de dormir, o começo de final, de escuridão, de treva, de inferno.