quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

SE ME COMOVESSE O AMOR




Se me comovesse o amor como me comove

a morte dos que amei, eu viveria feliz. Observo

as figueiras, a sombra dos muros, o jasmineiro

em que ficou gravada a tua mão, e deixo o dia

caminhar por entre veredas, caminhos perto do rio.

Se me comovessem os teus passos entre os outros,

os que se perdem nas ruas, os que abandonam

a casa e seguem o seu destino, eu saberia reconhecer

o sinal que ninguém encontra, o medo que ninguém

comove. Vejo-te regressar do deserto, atravessar

os templos, iluminar as varandas, chegar tarde.

Por isso não me procures, não me encontres,

não me deixes, não me conheças. Dá-me apenas

o pão, a palavra, as coisas possíveis. De longe.

(Francisco José Viegas)


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