domingo, 30 de dezembro de 2007

A IDADE SEM NOME

Escancaram-se as volúpias do momento, por ânsias que estilhaçam em mensagens curtas, nos beijos adiados, onde se alojam memórias tácteis, aquelas que esqueci o nome sem nome, a idade absoluta do sentir. É tão efémero o tempo, a sua dor acontece nos resquícios da ausência universal por uma sucção flutuante, onde a postura é uma sombra indefinida, essa a que chamas de idade sem nome.
A idade sem nome traça uma outra viagem, esconde-se entre as imagens dos últimos graus, sem fronteiras, talvez no jogo da multiplicação e dos nomes que se desconhecem. Levantam-se questões, alteram-se perspectivas, somam-se ilusões e a ética fixa o pormenor e a moral separa, ajustando modos a uma mentalidade temporária… separamos então o que não nos parece bem. Surgem títulos, alguns úteis, outros nem por isso, as cores projectam-se na forma possível e os valores definem esferas circundantes, posturas e feições de regulação de sistema… este, onde nos encontramos. Os mecanismos reivindicam outras pulsões, sobrando como herança o movimento, esse que trata o advento da imagem. O gosto não passa de uma postura, o resto é um risco de utopias… a tua estampa-se na tua consciência.
A lista foi feita no outro dia, ainda estavas lá, ante o olhar vago, ante aquilo que tinha para te dizer e que não consegui… fugiste mas ficou a idade, essa sim, está contigo e será o teu fim! O meu parece perto… O tempo parece-me melancólico; entre as paredes verte um novo design, é o regresso do nosso regresso, onde se desenvolveram as relações da pintura por uma polissemia intimista, a nossa, quase filosófica.
O teu nome foi sempre influente no meu olhar, nunca te disse isso, mas penso que chegou a hora de o fazer… sobram as metáforas para te poder catalogar, talvez dar ordem ao que antes parecia desordenado. A desordem é por cada vez tão grande…!
Nunca entendeste o mito das linhas de montagem, a produção e a sua infinitude, aquele outro mais onde os mundos diferentes pareciam ser um, porque a banalização tomou-te por completo, ante os disparates de uma massa sem nexo, onde sorrias e caminhavas. Eu calei! Estranho não entender aquilo que tanto se pretendia… ainda pretendo o que não te digo, assim à tarde surgiu a noite e a noite conduz-me ao repouso físico, apenas a alma vagueia por tempos sem idade.
Dói-me a cabeça, sinto-a, sinto um pulsar diferente e as pulsões são como focos que parecem querer dizer-me o que não consigo entender, talvez nunca o venha a entender… estranho este momento de dor. Estranho! Não justifiques, aceita porque a declinação é uma viagem sem comunidade e apenas a opção é sempre um lugar solitário, como que um elemento conservativo, da esfera única, sem retrocesso. Não consegues esgotar a tradução do desejo, a musicalidade repousa nos seus modos, a sua chama confere a tonalidade sentimental, essa pela qual ficamos presos. Esfuma-se a verdade platónica pela outra interpretação, por laivos furtivos e desenraizados da torre do pecado, talvez o meu lugar, onde sou eu em modo solitário. Configuração de sentido pela morte que permeia o todo. O logos do espírito bebe de uma outra interpretação, na forma arquitectónica da linguagem, onde se absorve e se concebe o sentido, esse mesmo pelo qual é possível a união de algumas palavras por episódios de sonambolismo trágico, onde radica a verdade desconhecida, essa, onde te convido a um olhar retrospectivo, porque o aspecto sombrio ainda nos divide. Não me serve essa tagarelice e essa argumentação reduzida, os instantes estão frouxos e a parte incógnita do pensamento ordena a esfera íntima do ser, o momento da sua angústia paralisante, como alvo de infinito caminho… a idade sem nome.

Vila Franca de Xira, 30 de Dezembro de 2007 – 20:03h
Jorge Ferro Rosa, in Caderno da Alma

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