O que dizemos das coisas? Dizemos!
Perfeição requerida? Silêncio sem nome? Homeostasia do olhar? E para quê olhar?
O emocional traça linhas de consideração, no jogo do ser e do estar. Não sei
porque estou nesta consideração, na oscilação dos sentimentos, numa expressão
sem relação, desvinculada. Todas as palavras são poucas e não quero outras,
contudo, querer não significa que obtenha aquilo que desejo e o meu desejo
oscila muitas vezes. Algo perturba o sistema do meu desejo, onde estou e não
estou. As minhas emoções apelam a uma transferência fluídica, a um amor cuja
ânsia é a minha “morte”!
Os meus sentimentos são forças que
parcialmente mostram algo de mim, o mim é uma aproximação do “eu”, essa força
estranha, num estado de actualização permanente; contrários executam o jogo do
equilíbrio, em ângulos de compensação muito intensos.
Momentos insolúveis, alguns a que estou
sujeito.
Paragem obrigatória, facticidade e
fantasia de conceitos cujo critério é a tentativa de anulação do exterior. Estou,
tento estar mas nunca estou e tudo é temporário, passa demasiadamente depressa.
Aproximo-me dos que me rodeiam, passado
algum tempo afasto-me e tudo fica como se nunca os tivesse conhecido. Está em
potência, dentro de mim uma luta entre o querer e não querer, isto é constante
neste jogo.
Estou aqui junto do castelo de Silves,
na esplanada do café inglês, tenho muito calor, procuro conforto, acabei de
tomar um café, o preço aqui foi exagerado (1.25€), preço turístico. Enfim… os
meus sentimentos são pequenos vulcões, cada vez me deixam mais confuso e o
social lança-me a inibição da relação, uma vez que neste momento tenho
consciência do inalcançável, o contexto de presença parece-me estranho.
Regresso a mim, pelas diferentes formas
de sentir a realidade, no relevo do meu corpo, votado ao tempo, à ancoragem das
situações numa métrica sem remetente de memória, enquanto o sonho embala a
frescura da brisa que me acolhe.
O jardim dos pensamentos continuam a
florescer… a orla singular toma-me num beijo lírico, com o verbo que vai
solidificando a minha presença, ainda que só! Em meu torno falam inglês, não
faço o mínimo esforço para entender… não. A música da tarde desfolha-se num
compromisso declarado, na arte da tinta e nas rimas que me assaltam o espírito.
Nomes, muitos nomes, demasiados neste movimento que me rodeia e a luz começa a
escassear! Esplanada cheia… quase. Modos diversos, o pendor da sensibilidade,
sentido convocado ao diverso, o espasmo do tempo das panaceias de
ancestralidade, a presença do meu sangue colateral na flor do olhar.
As minhas vias são cordas que me seguram
o corpo, neste silêncio implacável onde se relevam os mistérios da carne que
possibilita a cor do espírito.
Ao longe o horizonte parece encerrar o
seu espectáculo, a noite começa a chegar ante a desigualdade dos iguais! Tarde deverão,
classificação de cenários, passagens, herdeiros da crueza das imagens, algumas
escondidas, entre os traços mais vincados ante o arremesso da morada plena.
Tonalidades diferentes, perspectivas da contingência do enlace das pausas.
Expressão inolvidável, fruição deste delírio ancestral, o sublime trágico de um
biografismo, este lugar, a minha morada, puramente factual, a iniciação de uma
viagem em aberto. Impar momento, este, entre as coisas que ficaram por dizer.
Tudo é muito breve e o devaneio do sentimento perde-se lentamente.
Silves, 26 de Junho de 2014 – 20:10h
Jorge Ferro Rosa
Escrito na esplanada do “Café Inglês”,
em Silves.
1 Comment:
Com este texto, dos dois que li, percebi melhor e gostei, confesso. Na minha experiência, a busca na interioridade do ser gera e expressara o que procuramos subjetivamente, até que aos poucos começa a tomar "forma" incipiente, aínda frágil, em um labirinto interminável, onde uma vez mais quase sempre nos voltaremos a perder... ou não.
Mas procuramos na verdade chegar a um bom porto ou somente deambular pelos labirintos?
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