terça-feira, 30 de dezembro de 2008

Esquece, apaga, desmaia

Ele queria esquecê-la, apagá-la, fazê-la desaparecer do passado. Deixou de a procurar com os olhos nas ruas por onde, antigamente, um casal apaixonado costumava passear. Mesmo que se cruzasse com ela, jurara, não levantaria o queixo para a cumprimentar. Abriu mil gavetas para rasgar algumas (poucas) fotografias felizes. Embora soubesse que ela nunca o voltaria a procurar, mudou de número de telefone e de residência. Procurou novos amigos, novas mulheres para idolatrar, decorou piadas diferentes, apegou-se a outras músicas. Começou a sair todas as sextas-feiras para dançar tango num clube nocturno com prostitutas. Um dia, viu-a e tudo voltou ao ponto de partida, isto é, ao segundo no qual o coração julga que existem dores que não aparecem com a falência do corpo mas que são capazes de matar. Todos os seus esforços para se livrar de sentimentos antigos tinham sido infrutíferos. Ajoelhou-se perante a mulher e chorou, esgravatando o chão com os dedos e suplicando-lhe para que voltasse para casa, porque não conseguia continuar a viver sem os beijos, os abraços e o calor dela. Mas ela era forte, dura e perversa. Deixou-o sozinho na noite fria, com o ranho a encher-lhe os lábios de vergonha.

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