terça-feira, 18 de novembro de 2008

Unhas de lobisomem


Diane Arbus,
Albino Sword Swallower and Her Sister (1970)

Uma imagem: a mão cheia de unhas de lobisomem a arrancar as cordas da guitarra.

A vida, ou o tempo que a vai compondo, esgota-se de forma rápida. A criança que passava os dias a iludir-se com promessas de futuro perdeu os sonhos. A velha morreu. A casa explodiu. Novas raparigas brincam no local onde uma pequena rapariga adorava brincar. Os tijolos partem-se com a passagem da máquina de aço. À contagem dos segundos se associa a degradação da carne. O bebé ainda agora acordou e já começa a sua peregrinação para o caixão. Tudo acontece de maneira a que a criatura não chegue a tomar verdadeiro contacto com os elementos mundanos. A pela da face era mais lisa do que uma folha de papel. A menina superiorizava-se em beleza às mais perfeitas princesas. Mas há o tempo: a pele engelha-se à volta das pálpebras, os dentes apodrecem, o sexo falece. A língua do velho deixa de apreciar as pernas (com varizes) da mulher. A vida passa. Quanto mais se olha para trás, mais estrada se percorre e mais sola de sapato se gasta.

Eis um exemplo de como a vida é curta: o cão sai do ventre da mãe e logo é afogado na banheira pela mão de um outro animal.

1 Comment:

Carla Veríssimo said...

Parabéns Paulo!
Continuo a dizer que:
Gosto da sua escrita!

Boa continuação ;)