domingo, 20 de julho de 2008

BATALHA NAVAL DA BOCA PARA FORA


Ouvi certo dia um vácuo velhote de tasca gritar
Que perder um amor é muito parecido com sufocar,
Ao longo de noites sem numeração possível
O corpo contorce tamanho desabafo silencioso para si mesmo,
Sente-se uma batida e os pés a quererem distrair-se
Da carne fria que deseja ser magoada, ainda hoje,
No desafio ao masoquismo escondido na dor de cada um de nós.

Dão-se inúmeras reviravoltas para não acabarmos sós,
Podem ser enganos instigados por castelos e princesas ao luar,
Insultos que ficam cá dentro a alimentar as cicatrizes ou
A predisposição para nada nunca mais sentir,
Não são poucas as críticas contínuas que se relembram,
Feitas propositadamente para penetrar a epiderme,
Com desespero em vez duma agulha, aglomerado de sangue escuro
Que já não deseja algum tipo de relacionamentos futuros.

Tratar-se-á nossa existência de mero fluxo deprimente
De cedências, bafejam som que destroí o veneno que nos fez sorrir?
No fundo sempre se soube e nada se faz para modificar
Sofrer do juízo inicial de plasma mágico que me
Arrastou para tamanha regalia, sublime nova única
Felicidade – ideia seca e errada no mundo das cidades
Indecisas, baseadas na aparência ou no celibato –
Arrasta-me até tal lânguido entorpecimento onde perderei,
Por definitivo, qualquer resquício de consciência.

2003
in foto-síntese

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