domingo, 6 de julho de 2008

arrepios


Acordado pela cruel chuva que não cessa de cair
olho e vejo teu amoroso glóbulo acastanhado,
da estéril cor do mel,
exalando entranhado perfume
tão doce, tão eterno, tão querido.

Circunscritos, sem tormentos, lado a lado,
bem agarrados no primeiro vão de escada
já chega de dor meu anjo adorado
neste casulo deixamos de sentir,
vendo a vida do exterior
inconscientes ao vento húmido e frio
que sopra sinistro mas longínquo...

Tua mão ao de leve toca-me
bem no fundo do meu descuidado coração,
canta o Outono
coram as estrelas na sua imensidão,
com contentes carícias nos teus braços,
deixo-me ser amado...

Ouve-me,
ouve-me devagar
meu frágil anjo estelar,
sem ruídos de fundo
para mais noites calmas
sem sangue nem vísceras.

Vem,
vem passear comigo até às ilegíveis constelações,
vem passo a passo
nesta sóbria demência
vamos partir corações
para a terra onde ursos polares vagueiam...

(o autor pisca o olho à lua).

Repara nos lábios magoados,
sua cor levemente constrangida,
lá se vão as aragens perdidas...
Que gelada troca de saliva, sabem absinto,
vãs veias relaxam neste incómodo silêncio
enquanto a gasolina perde saliência e
o medo que retorcia o estomâgo
desaparece progressivamente...

2001
in foto-síntese

1 Comment:

aminhaarte said...

amei a foto. crueldade e ternura!!!!!! Arrebatadora