sexta-feira, 20 de junho de 2008

PARA LÁ DAS PARTÍCULAS DO IMEDIATO

Não vou fazer mais desenho nenhum, nem para isso reúno preparação, apenas vou, sim, vou… coloco a mão em cima do papel, deixo que o tempo avance, olho as curvas, apito no momento, procuro sustento e navego no vazio. Continuo a navegar. Teclo no absurdo dos rios que não correm, lanço-me na viagem dos enigmas, penso um pouco e as sensações são cada vez mais diferentes! Torno-me ausente ficando presente, na rota dos empurrões. Olho a sala vazia, com o silêncio que preenche os cantos e os vermes são invisíveis. Espaços com veneno, ácido, corrosão metálica… caveiras no braço! Implicas com as minhas caveiras, o fim último antes do pó… que aborrecido, toca-se sempre a mesma tecla, repetem-se as tretas da existência e o cansaço absorve as multidões. Sim, também estás lá!... Estamos lá. A saudade é um chamamento; chamei por ti, tu não ouviste, pouca importância dás ao que tem valor, sei que o valor é relativo e as posturas são divergentes. Não faz mal, já me habituei, sigo outros caminhos, esses que se possam ajustar aos meus estados de espírito, ainda que o teu entendimento se altere. São sabores da vida que dão cor à existência! Por aqui, por ali e o todo é espartilhado em átomos e moléculas, experiências de possibilitar a reflexão. Códigos e números que se combinam uma entrega redutora. As diversas reacções da existência exibem o efémero, decalcam as posturas e servem as bênçãos do prazer e as suas contradições.
Deste lado, olho para o outro lado, o que me permite tal contacto é a janela da sala; sinto-me como que numa prisão, com critérios diferentes… serviço da inutilidade de mim sendo útil. Serviço a cumprir! Mais uma, mais duas e outras se seguirão. A mesa está cheia de papéis, canetas, lápis… duas pessoas na frente, exercem-se concentrações sobre o exame, tudo se confirma, tudo é importante, decisivo para o futuro de alguns. O pensamento dá voltas, exercitam-se os neurónios, roubam-se sorrisos na faixa da frente.
Nunca mais chega o fim! O mergulho é feito de disposições enquanto se pressionam teclas, enquanto se assumem dígitos, caracteres que envolvem a animosidade do humano. Não, não te vou falar de ciência nem de filosofia, apenas estou rodeado de partículas enquanto os curiosos anseiam por saber o que estou a fazer. A cidade emite o seu ruído específico, este envolvimento faz esquecer outras situações e a tarde aproxima-me da noite, guardando as virtudes do segredo envolvente, para lá do sono e do sorriso.

Aveiro, 20 de Junho de 2008 – 17:46h
Jorge Ferro Rosa, in Caderno da Alma

1 Comment:

Helder Ribau said...

Olá...

vim visitar este (en)canto.. e dizer que regressei...

Helder