segunda-feira, 30 de junho de 2008

APOCALIPSE

Soa tudo a vermelho novamente.
Apodrecem cascas no asfalto da cidade.
Depois de envernizado o chão escureceu.
Agora assemelha-se a
gota tresmalhada de tangerina estragada
pingando sobre o manuscrito reformado
daquela perfeição encontrada.
Pesadelo-surpresa em óleo fresco de
colunas desafinadas a desafiar estática
sem conseguir evitar de cometer
sempre os mesmos erros, cegos erros.

Nomes números fora de tom
mancham o passado com a ética
das ervas silvestres do adeus,
secas e ultrapassadas,
odeiam todas as especiarias, todos os sabores
dos teus olhos já não serem meus.

Assim quis
regozijar na dúvida do leito,
é prazer vazio
no teu mundo de brincadeira
procuras já alguém,
no meu peito é deserto enublado
preso à abdicação, à tua maneira,
à vivência entre bichos de metal maciço
num insustentável cansaço emoldurado.

Para mim
pessimismo e desistência são esculturas de marfim falso,
são doce masoquismo
são obsceno jogo de ténis onde ninguém perde
são infiéis ecos de prioridades gastas
que esfaqueiam a evolução
na mudança de rótulo ao código de barras,
sem serenidade para meu coração.

Fujo na competitiva adrenalina em
carnificinas circulares e enfeites de Natal
prevendo silhuetas e rotundas a chorar,
sozinhas, até é usual
a preguiça de apagar a dádiva desta chama e
encontrar alívio fora do hábito elíptico, na dor.
Criar um degradée de desgosto.
Ser o cinzeiro amarelo à tua cabeceira.
Esquecer a voz interior que declama o adeus ao amor.


in foto-síntese 2002

2 Comments:

rmf said...

Escreves bonito :)
Há que partilhar a simpatia pela descontrução prosaico-poética de imagens fragmentada!
Brutal

rmf said...
Este comentário foi removido pelo autor.