terça-feira, 22 de abril de 2008

Os macacos


Um objecto de cortar, de furar, de golpear, de fazer uma pessoa deitar sangue, de fazer uma pessoa morrer. Uma faca. Um pedaço prateado de metal. Com um objecto desses na mão direita, um homem com cara de lobo, um assassino, não se aproximará de ti com boas ideias. Não te desejará boa-noite. Não te perguntará se o dia de hoje te correu bem ou se te sentes deprimido. Um assassino, como qualquer outro homem mau, deixa-se sempre corromper pelo pragmatismo. Só o que é útil lhe interessa, e é por esse motivo que ele, o mau, se aproximará de ti e, sem dizer mais do que zero palavras, te espetará uma faca na barriga. É um acto injusto, o do homem mau. Reconheça-se que é deveras injusto ver alguém inocente morrer por causa de um pedaço de metal. É muito injusto ver-te morrer no meio da neve com uma faca espetada no bucho, companheiro. Claro que sim. E o que dizer da senhora que morre atropelada por um autocarro ou da criança que morre sufocada no seu próprio cordão umbilical? Injustiça, pois. De joelhos, com sangue nos dedos, na roupa, na boca, na língua, nos dentes, dir-me-ás que sentes a morte e que já pouco do que os teus olhos vêem te interessa. Antes de caíres no escuro, perdoarás o assassino e todos aqueles que ao longo da vida foram praticando más acções para contigo. E nesse momento, no momento do perdão daquele que sofre, voltará a aparecer um pouco de ordem no planeta dos macacos.

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