quinta-feira, 6 de março de 2008

Ocidental Praia

 Sinto-me acabado
Um desses dias que não vale a pena mencionar
Um desses momentos em que desejamos cair no vazio
Cair na sombra existencial com aquele típico
desejo de gritar um sonoro palavrão que de palavrota não tem nada

Como superficial é o desejo
Como vazia é a realidade informativa que nos servem todos dias a hora do jantar

Como é triste querer abandonar tudo

Será a justiça uma mulher cheia de vícios
Continuará vendada e cega!?
Auxiliará os ricos e fortes homens da nação
como sempre o fez indiscretamente sorridente em todos aqueles media reports que nos servem diariamente a hora de (des)jantar?

E o suor?
E o suor do workin´ man digo eu!
Será enxugado com o lenço de seda purpura de nossa bela donzela cega?
O pobre vagabundo terá a sua fome saciada por essa dona de casa sofisticada e In justa?

Porquê viver esse prejuízo?
Ela não passa de uma puta fodida e bem paga pelo chulo Estado que nos controla

O mesmo passa-se com o boletim informativo que me deprime
Está vendido!
E em todo lado os vermes se refastelam com as tristezas de outros nós que somos...
Somos incrivelmente tédiosos e incapazes
Não vemos o bonito que ês

Tu
minha ocidental praia lusitana
aquele mar azul de águas refrescantes
aquele sol fénix que nos ilumine para uma nova busca


Choro por ti País
Talvez seja o excesso de fado
Esse tão tuga defeito de não interferir com o rolar do tempo
Seguiremos o destino até ao fim!
De nada serve quebrar essas correntes
Correntes de almas errantes e perdidas na nevoa espessa de incertidão

De tuas entranhas sobressaí a fértil vinha de Dionísio
O aroma dos olivais agudiza o paladar de viver
Os pinheiros aromatizam o ar de verão
Tua fauna deve ser preservada

Imperativamente!
Já!

Os riachos cristalinos me banham nessa saudade de ter longe
Revive meu país
Reergue-te imponente carvalho

E em todo lado os vermes se refastelam com as tristezas de outros nós que somos...
Somos incomensuravelmente nefastos
Alimentamo-nos do teu sangue
Não vemos o que ês

Tu
País nunca dantes deslumbrado
Ocidental oasís entrincheirado
Eterna periferia

Como é triste tentar recordar-te em retina ausente

Tua geografia já me falha
Tua gastronomia já não me sabe a vida
Ês estranho mas belo
Indefinido mas simples
Sinto-me como um amnésico que volte a reviver o teu sentir de forma diferente
Aquelas novas sensações vindo del olvido
Vindas do silencio quebrado pela respiração mecânica
Sinto a tua falta neste exílio

Continuarás a considerar-me filho?
Terei amparo em teus braços?
Não te conheço!
Ficciono-te
Nada mais... Nada mais!
Não passo de mais alguém que te abandonou
Eterna mãe solteira
Ocidental praia abandonada
Deixei-te nas mãos deles! Deles todos!

E como em todo o lado os vermes se refastelam com as tristezas de outros nós que somos...
Somos incrivelmente patéticos
Não vemos quanto sofres
Quanto suspires


Serás o eterno povo que sofre nas mãos desses aristocratas do novo ordem
Desses energúmenos que mantém o status quo sem cambio nem mudanças
Que te deixem viver na miséria e ignorância meu triste povo
Que te vendem todos os dias a hora do jantar
Malditos informativos de um pais de mil maravilhas que agoniza na pobreza de seu fado triste

Vendem-te em fatias
Vendem-te descaradamente a cada hora, a cada dia... vendem-te como escravo aos amigos internacionais do capital

Em cada instante se clava bem fundo nesta nossa carne a putrificar esse punhal de opressão
Esses charlatães sempre viveram no manto de seda do topo da pirâmide
Sempre afiaram em meio de rubís e ouro negro esse punhal sorrindo frente a flashes e bebendo em copos de cristal a promissora conclusão de um novo assassinato

Não te conheçam pobre povo
Esfolam-te
Assassinam-te!

Governam-te esses incultos da verdade.
Geram-te como imperialistas degradantes e ignóbeis
Ês o escravo que trabalha e sofre
Ês a província... O campo que alimenta essa puta que se exibe diariamente e quotidianamente a maldita hora de (des)jantar

Deprimo-me!
Que mais posso fazer?


Vazio minha alma de lágrimas
Abro o caminho a pena
E sinceramente...
Sinceramente espero que quebre esse punhal

Espero...
Pacientemente espero...
Espero que um dia este texto explode
Que um dia te dê vida
Que esse dia seja passado

Bye triste povo
Farewell ocidental praia
Adeus


Entretanto impunes... E em todo o lado...
Esses vermes se refastelam com essas tristezas que outros nós somos...



http://mishakula.blogspot.com/

1 Comment:

mfc said...

Raríssimo exemplo de qualidade poética
(regressarei atempadamente a esta manifestação para uma crítica mais completa e complexa que meramente valorativa)
.