sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Um bebé

Acordou com o telefone a tocar. Como queria voltar a adormecer, não atendeu. Mas não conseguiu dormir. Permaneceu longos minutos deitado na cama a olhar para o tecto. Não tinha nada para fazer naquele dia. Refira-se, aliás, que não havia nenhum dia em que tivesse algo para fazer.

Levantou-se, vestiu-se sem tomar banho, foi para a rua à procura de cafeína. Tinha as têmporas tão inchadas, mas tão inchadas, que, se não encontrasse um café, explodiria. Ou faria alguém explodir.

Era domingo. Nada estava aberto naquela vila. Nenhum estabelecimento comercial se dignara a abrir as portas.

«Merda de país», exclamou ao pontapear uma pedra de calçada.

Era domingo e não existiam sinais de vida nas ruas. Nem uma mosca. Nem uma pulga. Nem um bicho do tamanho de nada. Não havia nada para destruir. Nem um cão para pontapear.

«Se pudesse matar um cão», murmurou.

Estava habituado à solidão. Mas não àquilo. Gostava de se sentir abandonado ao som dos automóveis e dos gritos da multidão. Não estava habituado à solidão silenciosa.

Lembrou-se da mãe. Começou a chorar.

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