Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem acabei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,
Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem;
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.
Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que sogue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo : "Fui eu ?"
Deus sabe, porque o escreveu.
(citando Fernando Pessoa)
terça-feira, 1 de janeiro de 2008
Não sei quantas almas tenho
Colocado aqui mui gentilmente por Liliana Jasmim à(s) 23:26
Etiquetas: fernando pessoa
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2 Comments:
Porque as palavras deste homem são eternamente contemporâneas.
Porque sente o que todos sentem, mas sabe exprimi-lo com o desassossego exacto.
Quem me dera viver no seu tempo...ou que o meu tempo o trouxesse de volta.
Um beijinho
As palavras de Fernando Pessoa, suscitam tanta coisa...acho que é impossível cansarmo-nos de ler os seus escritos, porque cada verso é uma descoberta do que há dentro de nós...e o que nos cerca...
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