terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Ver para crer...



foto by Nuno Reis -http://www.noir-sur-blanc.blogspot.com/

Queria ter um par de olhos
com asas nas pestanas
para conseguir voar com o olhar ...
Para ver quem quero ver...
e cegar a saudade
que às vezes machuca no peito.
Queria ter o grito mais alto
guardado na garganta
para me fazer ouvir
quando sinto as palavras enrodilhadas cá por dentro.
Queria ter o sorriso mais rasgado
para mostrar a todos que amo
que ainda sei sorrir com gosto...
mas queria tanto que vissem o meu sorriso
e não ficassem só com ele preso à imaginação.
Se esta lágrima teimosa
se afastasse um pouco do meu rosto...
para deixar brilhar os fios de ternura
que normalmente trago escondidos no cabelo...
Talvez aqueles braços
que vejo estendidos ao fundo da rua
fossem para mim...
Porque hoje preciso de um abraço daqueles amo...
daqueles que não me odeiam
ou daqueles que simplesmente não sabem quem sou.
Preciso que me ouçam...
ou que me deixem ficar calada
a olhar para as palavras dos outros
como se já não soubesse ler
e as letras fossem somente gotas para beber.
Sinto-me cansada desta solidão
de querer ser Tudo para Todos...
desta fome imensa que nos cola o estômago ao pé da boca
quando pensamos que todo o mundo depende de nós
e esquecemos que somos viciados nele.
Quem olha para o meu olhar pedinte
e afirma ver-se ao espelho?
Quem morre aos poucos
por não viver inteiro na sua pele?
Quem finge ser Verão
mesmo com o Inverno a gelar-lhe as carnes?
Quem fita os olhos de uma sombra
e jura ter visto por momentos a sua alma gémea?
Hoje não queria estar sozinha
a perguntar porque é que as paredes
não me respondem...
porque é que as portas não se abrem
para deixar entrar de par em par aqueles abraços
que preciso...
Vou abrir a janela
e derrubar todas as paredes
que me querem sufocar...
Talvez assim alguém se lembre
que ainda respiro.


Daniela Pereira
Direitos Reservados

3 Comments:

Anónimo said...

Deixei a presença na fonte original mas deixo-a também aqui pela beleza do poema que nos deixaste.

Beijos,

Pedro José :)

blueiela said...

:)Então aqui fica um sorriso como resposta...Obrigado PJ :)

beijos

daniela

Anónimo said...

Eu sinto essa prisão em mim mesma, querendo soltar-me das amarras que me prendem à saudade e nostalgia, mas não consigo.
Não consigo porque apenas um desses libertadores abraços me afagaria a memória.
Um beijinho, parabéns!