segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Somos cães que as larvas desprezam...



Foto by DeviantArt

Não quero ser arrogante nas palavras que exalo, mas a arrogância aqui faz todo o sentido. Estou a olhar o mundo que está lá fora e sinto nojo por senti-lo assim....bruto e grotesco. As pessoas parecem uma matilha de cães esfomeados lutando pelo melhor pedaço que a vida lhes atira ao chão.. e como cães que são mostram-se bichos rudes e insensíveis não hesitando em morder os fracos e derrotados até ficarem com os dentes bem cravados na carne... porque neste mundo só os vencedores merecem comer. Vale tudo para se ser feliz neste planeta de mesquinhez e cobardia! Queres ser feliz ? Então, não penses mais porque a maneira mais fácil de lá chegares é devorares a felicidade dos outros...engole-a só para ti...tira-lhe o ar e depois deixa-a seca e vazia num canto qualquer da tua rua. De preferência, num canto escuro, só para que ninguém veja o teu trabalho sujo a brilhar na sujeira que amontoas na tua alma. Não podes ser descuidado e deixar á mostra de todos, as lágrimas daqueles que espezinhaste porque ainda rompes a tua máscara e toda a gente vai saber que és um monstro horrendo. Montas-te ao meu coração um cenário lindo de morrer! Só podia porque no fim ele será o meu cemitério ...e a morte de um sentimento tem que ser celebrada com euforia e cor. Fico a rir dos teus rios límpidos e cristalinos, onde a água é na tua dimensão imaginária um objecto de pureza extrema. Achas que não consigo ver que ela está conspurcada de restos maltratados? Louco e inocente...é isso que és! Tenho olhos de breu, mas ainda consigo ver para lá da mentira porque a verdade nunca me enganou e sabe bem guiar os meus passos. Iludiste-me... enfeitiçaste-me com palavras doces e lenga-lengas, mas o meu peito sempre desconfiou dessa doçura reforçada. Batia mais forte...é certo que batia! Mas em todas as corridas que fazemos o coração acelera mesmo que tu vás direito a um precipício ...ele não pára. Não escolhe porque bate...apenas sente debaixo de um emaranhado de músculos entalados na carne e abraçados por sangue que tão depressa ferve como congela a uma velocidade estonteante.
O mundo gosta de pregar sermões aos peixes... de cuspir amabilidades e falsas certezas pela simplicidade do acto. Ser sincero é muito mais trabalhoso! Custa sofrer quando se diz uma verdade e ela é sentida até à raiz dos teus cabelos....imagina-a como uma dor dentes. Assim mesmo...aguda...fininha mas percorrendo cada espaço do teu ser com a subtileza de um elefante numa loja de louça francesa. E tu finges que não dói, porque achas que é justo não a sentires, então porra...se eu disser ISTO NÃO DÓI NADA, só pode não doer. Tem lógica e é a consequência esperada do teu esforço animal.
Olhas nos olhos?... não tu não olhas, porque te arriscavas a ver alguém por inteiro e ainda acreditavas que as pessoas têm um lado negro escondido. E isso iria contrariar o modo que tens de ver as coisas á tua volta. Tudo é perfeito num mundo temporário... num mundo que controlas a teu belo prazer e ao sabor das tuas vontades. Gosto disto!....Então tem que ser meu...pensas tu possuído pelo espírito de um caçador.
Escolhes as armas... as mais convincentes...aquelas que nunca falham! Estudas os terreno...analisas as fraquezas que terás que fingir cuidar e depois resta-te elogiar os pontos fortes até que mel escorra das nossas bocas. Atiras uma rede para o fundo do meu mar, porque no fundo tens alma de pescador... e ficas sossegado e em silêncio a ver o peixe enrodilhado e quando o sentes cansado de tanto se debater...toca a comê-lo crú e com muito sal à mistura!
Mas hoje, não sou mais caça nem bicho do mato... muito menos sou taínha. Porque por ti, fiz-me leoa...fiz-me tubarão! Despi a pele de cordeiro e renasci lobo com corpo de serpente... uni as minhas fraquezas que tanto desprezaste e fiz um manto de aço que na pele fundi. Por isso cospe para aí no meu prato...apagas as minhas estrelas e pinta de negro o meu céu. Já não me importo...ganhei forças para decorar o mundo ao meu gosto. Não preciso de conselhos...nem de panos quentes para por nas minhas feridas. Posso muito bem lambê-las ...a saliva sempre foi o remédio para curar as chagas dos animais. E é isso que eu sou...é isso que tu és...é isso que somos todos até que o odor da morte nos chame à razão.


Daniela Pereira in Afectos Obsessivos-A poesia curiosamente sem açúcar,Edições Ecopy

2 Comments:

Anónimo said...

Gosto muito de ler toda esta força que consegues arrancar em crescendo das fraquezas que nos tentam corromper a vida.

Parabéns e beijos,

Pedro José :)

blueiela said...

pj

Obrigado pelo apreço...
Só gritando com força às fraquezas que me surgem na vida é que sobrevivo...Nada melhor para as afugentar;)acredita...

beijos

daniela