Por volta do ano 400 a.C., vivia, na antiga Grécia, um pobre homem de nome Onanágoras. Habitava sozinho num monte pedregoso, batido pelo vento. Alimentava-se de nabos e mel, e figos no tempo deles. Apesar da enorme pobreza e solidão, viveu relativamente feliz por muitos anos.
Até que lhe sobreveio uma crise de meia-idade. Começou a andar cabisbaixo, sorumbático e sem vontade de ir aos figos. Ao fim de algum tempo, resolveu fazer uma peregrinação a Delfos para consultar a divindade sobre o seu problema.
Pôs um saco de nabos e um pote de mel numa cesta e pôs-se a caminho. Ao fim de alguns dias chegou a Delfos, purificou-se e fez as suas oferendas ao deus Apolo, na pessoa da Pitonisa. E expôs o que o entristecia:
- Ó brilhante Apolo, há muitos anos que vivo só num monte pedregoso. Tenho apenas por companheira a minha mão direita com a qual tenho mantido uma relação fiel e gratificante. É ela a minha consorte. Com ela tenho vivido feliz nestes últimos 40 anos. Mas, ultimamente, tenho sentido apelos perturbadores. Apetece-me mudar, conhecer mundo, variar. O que é que hei-de fazer?
A Pitonisa olhou para o saco de nabos e para o pote de mel que o pobre grego trouxera, entrou em êxtase e depois de revirar os olhos declarou:
- Toma para ti uma concubina!
- Mas, como?, se não tenho senão uma leira de nabos, uma colmeia e uma figueira!
Embora não costumasse pormenorizar muito os seus oráculos, desta vez a Pitonisa condescendeu em especificar:
- Toma como concubina a tua mão esquerda!
Onanágoras agradeceu o conselho e voltou para o seu monte pedregoso. E viveu feliz por mais 25 anos.
[Publicado no blogue Universos Assimétricos]
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