segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

História do grego Onanágoras


Por volta do ano 400 a.C., vivia, na antiga Grécia, um pobre homem de nome Onanágoras. Habitava sozinho num monte pedregoso, batido pelo vento. Alimentava-se de nabos e mel, e figos no tempo deles. Apesar da enorme pobreza e solidão, viveu relativamente feliz por muitos anos.

Até que lhe sobreveio uma crise de meia-idade. Começou a andar cabisbaixo, sorumbático e sem vontade de ir aos figos. Ao fim de algum tempo, resolveu fazer uma peregrinação a Delfos para consultar a divindade sobre o seu problema.
Pôs um saco de nabos e um pote de mel numa cesta e pôs-se a caminho. Ao fim de alguns dias chegou a Delfos, purificou-se e fez as suas oferendas ao deus Apolo, na pessoa da Pitonisa. E expôs o que o entristecia:

- Ó brilhante Apolo, há muitos anos que vivo só num monte pedregoso. Tenho apenas por companheira a minha mão direita com a qual tenho mantido uma relação fiel e gratificante. É ela a minha consorte. Com ela tenho vivido feliz nestes últimos 40 anos. Mas, ultimamente, tenho sentido apelos perturbadores. Apetece-me mudar, conhecer mundo, variar. O que é que hei-de fazer?

A Pitonisa olhou para o saco de nabos e para o pote de mel que o pobre grego trouxera, entrou em êxtase e depois de revirar os olhos declarou:

- Toma para ti uma concubina!
- Mas, como?, se não tenho senão uma leira de nabos, uma colmeia e uma figueira!


Embora não costumasse pormenorizar muito os seus oráculos, desta vez a Pitonisa condescendeu em especificar:

- Toma como concubina a tua mão esquerda!

Onanágoras agradeceu o conselho e voltou para o seu monte pedregoso. E viveu feliz por mais 25 anos.


[Publicado no blogue Universos Assimétricos]

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