Na página perdida da intuição mutilei a alma, com um pouco de coragem fiz um corte no dedo, só para experimentar, olhei ao sangue a correr… parecia erosão! Mutilei-me, senti-me, entendi o meu sangue vermelho do coração, do meu ser o meu espelho e numa velocidade sem velocidade fiquei. Estou! Incompreendido esquartejado no eixo do sentir, torno-me na alcova da liturgia, na cidade das putas sânscritas, enquanto me envias uma mensagem que não respondo.
A imagem do meu dedo, órgica, continua a deixar fluir o meu sangue, ao ritmo dos relógios e das éticas privadas. O meu princípio continua a sangrar, nas trevas de ninguém, tentando coagular os genes do erotismo… esta massa vermelha que dissolve o prazer!
Coabitado pelo verbo do destino, avanço no regimento do instinto, ainda que tomado pela relação compromissofóbica, por tudo isso que sempre senti… isso, que só hoje coloquei a limpo neste sangue vermelho, corrompido pelo título do terror de deixar de ser o que passava a não ser, por essa postura. Mutilação parcial…
As metáforas do meu sangue incharam, formaram-se numa multiplicação de genes, quase indefinida, aquilo que sempre te falei de mim. A minha carne é sempre a mesma, os horizontes ressuscitam o cérebro sonolento, de tanto prazer que a dor concebeu! A dor é a verdade da ilusão sanguínea, o mandamento do vinho que alimenta o meu corpo, o retorno que chama pelo fluído divino.
No ritual do sangue, solto mais uma gargalhada, entre a sombra dos mortos e os risos incompetentes, na epistemologia de um credo ateu… as chagas paradoxais da existência, no consolo do abismo, impessoal.
Aquelas máscaras não servem para nada, dividem os ponteiros do relógio, acolhem o ritual na insuficiência do sangue. Creio no sangue eterno, no sonho sem membros, na tradução do composto interior que segrega dos cadáveres o silêncio absoluto, um pouco mais negro do que o sangue seco… os caminhos da interrogação. Ofereço-te o sangue da mutilação, com o sabor da exegese da metáfora que encarna depois da procriação do nada. Este é o meu sentido único, na luta dos signos, pelo olhar vermelho, côncavo, atiçando o fluído da razão e as suas glórias enfrascadas. Dissolvo-me nos sabores do meu corpo, no vermelho inacabado e fugidio. Deste sangue irrompe a incerteza que se sacrifica por destinos inúteis. Todas essas justificações são batalhas do sangue imperfeito, cujas respostas decepcionam o desconhecido e intimidam os incautos!
Na alucinação da romaria do sangue anárquico, embalo a pequena distância, num véu de desencontro, onde te ofereço o compasso, tomo-me no remanso do meu sangue apocalíptico que desafina o místico do meu degredo, informe. Suspiro na universal dedicação, com a overdose das sensações da passividade do pecado (terminologia ultrapassada), nas notas que gritam o meu nome, o meu sangue que te devolvo com a morte do amor interrompido. Ficou assim no meu dedo, o verbo mutilado, na memória do espaço exíguo por um sacrifício sem nome, o sangue de todos os sangues.
Vila Franca de Xira, 25 de Novembro de 2007 – 12:04h
Jorge Ferro Rosa
Escrito no café “Miratejo”. In Caderno da Alma
domingo, 25 de novembro de 2007
SACRIFÍCIO SEM NOME
Colocado aqui mui gentilmente por jorgeferrorosa à(s) 21:37
Etiquetas: Jorge Ferro Rosa, prosa poética
Subscribe to:
Enviar feedback (Atom)
0 Comments:
Post a Comment