(Opúsculo do Natal)
SÓ, quase que inalterável, no movimento perpétuo das coisas, deixando-me envolver pelas correntes cristalinas do Natal, numa postura tão vazia que ainda circula, e que continua a circular anonimamente, como se o remédio da tarde viesse solucionar a morte da manhã. Não sei porque me pediste para te falar do Natal! No tempo da mãe pouco valor lhe atribuías, agora, nem me parece fazer-me mover ao tal palco enfeitado. Enfeites não faltam todos os dias… com outros nomes, num outro Natal, esquecendo-se o que devia estar presente.
Incalculável a distância que nos separa, esta da simplicidade construída pelas vertentes diversas dos vocábulos antigos, enquanto escuto a música mágica, essa que tentas colocar, junto da lareira e pelas montras ao sabor da tradição, ainda que não compreendas nada do que na realidade se esteja a passar.
Ontem falei com o pai e até parece que estávamos a querer filosofar… o pai sempre me disse coisas interessantes, as verdades nuas e cruas; muitos não gostam dele por ser assim, distante e frio, preferiam aquilo que a maioria absorve. Paciência! Descubro nele verdades quase inalteráveis. Ao fim de vários anos chego aqui e falo-te assim, como se o fim fosse ali, talvez seja aqui, o espírito do verdadeiro Natal, esse que ainda está por compreender. Como te posso compreender se a mudança é uma constante?
Continuamos como se nada existisse, nem o orgulho, nem o rancor… tudo é tão normal, como o ritmo das marés e tomamo-nos nas águas do Natal, na febre de todos os anos e sorrimos com a mesma hipocrisia de sempre. Será que é isto que a sociedade pretende? Justificação consumada pelo sorriso! Os seus valores continuam a ser falsas declarações de chocolate e outras frituras, com um presépio e uma árvore de Natal muito à maneira. Grita-se a todos quantos se interpelam, por um Feliz Natal, com todas as respectivas encomendinhas, não esquecendo a missa do galo e a cantilena da meia-noite. São as Boas Festas! Já nasceu o menino, sim, esse menino que nasce sempre todos os anos, o repetível menino que nunca envelhece… azar o meu que estou a envelhecer! Eu? Claro, e tu também, não serve de nada pensares o contrário e o Natal encobre esse rosto santificado da fé milenar com os seus mitos, as ditas fantasias que iluminam as consciências adormecidas.
O olhar fez-me entender a postura conservadora de outro modo, entre as partículas atómicas que permeiam os rostos inquestionáveis; este suplício continua talhado na romaria da tarde… enquanto preparas mais um pretexto para te salvar da situação caricata, essa que tentas defender por modos de conveniência! O teu jogo é tão interessante que deixou de fazer sentido para mim… o que vem a seguir é sempre uma aula diferente, onde o tema do Natal se insere quase como por imposição; apenas te agradeço por teres chegado aqui, porque falta ainda a tua justificação, pelo menos essa que possa fundamentar o tema, ainda que por vertentes diversas. Melhor é ir preparar o novo cântico de Natal, para as boas vindas do novo ano, porque este está bastante cansado, entretanto fica com a saudação, essa que melhor te fique… que se repita para todos, um Feliz Natal.
Vila Franca de Xira, 28 de Novembro de 2007 – 06:27h
Jorge Ferro Rosa, in Caderno da Alma
quarta-feira, 28 de novembro de 2007
POR VERTENTES DIVERSAS
Colocado aqui mui gentilmente por jorgeferrorosa à(s) 07:08
Etiquetas: Jorge Ferro Rosa, prosa poética
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