Divido-me no sono calcinado das areias e na conversão do vento, onde evocas a presença de ninguém, na infinita estranheza de cada passo imóvel. Bebo do teu olhar fecundo que me divide, o início da memória, o beijo dos mistérios atrasados, do tempo das seitas que a sorte ocultou. Olho-te no tempo amarfanhado pelo desejo… a ausência côncava, que desafia o acervo do lado de dentro da pele… a vida das hemácias. Nesta incursão… és ainda a diferença, o timbre do amor molecular, repartido pelas valências da química orgânica de uma entrega esférica, que termina no desfile da noite, enquanto o meu corpo desfila, envolvido pelos lençóis e cobertores de pura seda. Acredito na pragmática…
Bebo-te nos vestígios da memória, entre atavismos de verbos que carecem de iniciativa. O gás eleva-se no mês das antinomias, pela versão da incerteza, com o espólio das lágrimas estilhaçadas, ao desespero da morte, a voraz presença do abismo que tudo divide, acolhendo.
Nenhuma prece habita o silêncio do meu futuro e a nada me prendo… porque todos os horários emitem um clarão próprio, desprendendo-me das memórias antigas, uma postura hermética, empilhando o choro parafernal da saudade! O programa do sentir é sempre inédito, transforma a dolência do fugaz, enquanto me despeço de ti, guardando as lágrimas redondas, na ausência que o eterno desenhou, numa perfeição não atingida. A dor é indiferente… o abismo aguça a tentativa, atiçando as brumas que denunciam os arautos do amor. A mãe falou do amor e dormiu para sempre!
Vila Franca de Xira, 09 de Novembro de 2007 – 18:52h
Jorge Ferro Rosa, in Caderno da Alma
sexta-feira, 9 de novembro de 2007
FALOU DO AMOR E DORMIU
Colocado aqui mui gentilmente por jorgeferrorosa à(s) 19:33
Etiquetas: Jorge Ferro Rosa, prosa poética
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