sábado, 10 de novembro de 2007

A arte e o Estado: ambas "personas non gratas"

E porque a arte é protesto
porque a arte são tanques e bombas na rua
porque a arte é estranha, não é correcta e tem falta de educação
porque a arte é uma nuvem indiferente ao verão...

...

eu, Tiago Nené, publico no Blogue das Artes, a pedido do Cegueira Lusa, um protesto de uma classe que muito admiro: a dos professores.



As Actividades de Enriquecimento Curricular (AEC), há quem as designe de Actividades de Empobrecimento Curricular, nasceram algo tortas e, como diz a sábia voz do povo, «aquilo que nasce torto, tarde ou mal se endireita». Não querendo tomar a parte pelo todo, não me atrevo, para já, a juntar-me ao exército, que tem visto as suas fileiras engrossarem, daqueles que diabolizam as AEC. Apesar de não ser novidade para ninguém que me conheça que não concordo com o modelo adoptado nem com os objectivos (se é que estes existem) que estas se propões alcançar. Todavia, posso afirmar, convictamente, que este modelo contribui para o empobrecimento dos professores envolvidos no projecto.A trabalharem desde Setembro sem receberem um cêntimo pelos seus serviços é absolutamente inaceitável. Não esqueçamos que estes profissionais trabalham a «Recibo Verde», portanto há uma boa parte do ano em que não recebem coisa alguma. Isto já é preocupante. Pensar que estas pessoas desde Julho que não auferem qualquer vencimento suscita-me algumas questões: Quem paga a renda / prestação da casa? Quem paga a alimentação? Quem paga a água, a luz, o telefone? Como é que se vive assim? Não esqueçamos que muitos têm que se deslocar em transporte próprio para a (s) escola (s) onde leccionam. Não sei se esta situação se está a passar em todo o país. Em Viseu esta é uma realidade dramática. Parece que os vencimentos estão a ser processados…estavam…estarão…Ninguém sabe ao certo.O que sei é que há gente a vivenciar situações dramáticas. Um amigo disse-me que não sabe se o dinheiro que ainda lhe resta será suficiente para o combustível que lhe permita deslocar-se às várias escolas em que trabalha. Aqui está outra aberração: contratam imensa gente e depois atribuem apenas 12 horas a cada professor, horas distribuídas por distintos locais, obrigando a várias deslocações diárias. Se não expusesse esta situação vergonhosa e lamentável hoje, tenho a sensação de que nem dormiria em paz. Outros há que estão, dado o adiantado da hora, tranquilamente a sonhar com a cabeça na almofada. Enquanto isso, muitos fazem das tripas o coração, encetando majestosos malabarismos, para fazerem face às necessidades básicas do quotidiano. Que vergonha!!!

3 Comments:

Anónimo said...

Até que enfim que começo a ouvir protestos contra as ditas actividades.)

Reina a insanidade neste Ministério da Educação. princialmente para o Ensino Artístico.
Citando especificamento o caso do ensino da música, não há duvida que o plano está bem engendrado:
1. criam-se actividades de "empobrecimento curricular" facultativas da disciplina de "música"
2. publica-se um decreto-lei que permite a contratação de "professores" sem habilitações académicas. Baratinhos como convém
3. encomenda-se um relatório de avaliação do ensino artístico a "cientistas da educação" que nada percebem sobre a matéria - excluindo-se a opinião dos especilistas (os artistas)
4. o relatório admite a fecho de conservatórios publicos (6 em todo o país) tornado-os exclusivamente para o ensino de crianças que querem seguir a via profissionalizante. (Aos dez anos acho pouco provável que se tenha uma ideia definida da carreira profissional a seguir.)
5. admitem a possibilidade de acabar com os parcos subsídios a escolas particulares de ensino especializado de música (cerca de 90 em todo o país - se não fosse a iniciativa privada, a maioria das crianças deste país não tinha acesso ao ensino da música, nem os musicos teriam emprego)

E isto tudo porquê? O ministério responde: para “democratizar” o ensino, e porque nas escolas de ensino genérico foram criadas as ditas actividades "empobrecimento curricular" que substituem bem o papel que os conservatórios têm exercido nos últimos anos para aqueles que não pretendem seguir carreira)

Está tudo maluco!
É uma vergonha!

Anónimo said...

Já agora deixo aqui um link onde estas questões estão a ser discutidas

http://ideias-soltas.net/educacao-artistica-forum?group=2

Não deixem de participar

jorgeferrorosa said...

Interessante o que por aqui se diz! Ainda bem que não sou só eu a sentir tudo isto. Quantos não sentem e calam fundo as suas revoltas, essas raivas que matam? Quantos? Também me encontro nessa classe de professores e sei dar valor a tudo isso. Não inventem mais situações para desmotivar os professores, especialmente os contratados. O Zé povinho não sabe da missa à metade! É bom que possa ir percebendo o que se passa, contudo a verdadeira realidade não passa cá para fora, é destorcida, claro porque convém. Não ficaria bem estar a falar mal do ensino, por isso deve calar-se a boca e viver-se com horários incompletos, trabalhando sem ser renumerado, tantas horas que se passa na escola, e isso ninguém vê isso e como não bastasse, ainda se inventaram as horas de apoio, as aulas de substituição, os pólos e as supervenientes. Boa?
Gente que é deslocada de uma ponta do país para outra, eu fui exemplo o ano passado, Lisboa para o Porto. E agora? Este ano… em casa à espera de horário. Sim, porque ir trabalhar com horário de 12h não dá para viver. Pois quem paga as despesas fixas? Quem? Esquecem isso? Será que os professores andam motivados? Não acredito. Não será anti-pedagógico as tais ditas turmas com 30 alunos? Será que os alunos podem assim ter um maior apoio por parte dos professores? E o cansaço não conta? Rentabilidade? Onde? É um faz de conta! Pois é, parece que dizer as verdades não convém, e quando se diz, ainda esses mesmos ficam com cara de enjoados, mal dispostos, olha, como se eu me governasse com esses enjoos. Por mim, à vontade, força e depois podem ter uma boa indigestão que também não me importo.
Agora veio a moda os professores titulares? Bem, aos poucos e poucos surge o policiamento de uns profes para com outros… sim, onde está a dúvida? Mas afinal o que é que chega ao Ministério? Tudo menos a realidade. É por isso que a senhora Ministra vai para a televisão a dizer que as escolas estão a funcionar muito bem. Claro, não ia dizer que não estava bem; claro que tem de manter a sua imagem! A mentira como desconhecimento de causa também por vezes dá muito jeito. Não é?
Enfim… histórias e desabafos, não as deixo de fazer e se não o fizesse, escrevendo pelos meus blogs, certamente estava internado. Escrever é uma forma de terapia.
Essa de Actividades de Enriquecimento Curricular é o máximo! Onde está esse enriquecimento curricular? É mas é um empobrecimento de espírito. Coitados dos encarregados de educação, esses sim, precisam ser esclarecidos. Olha, sabes, aconselho a ler o livro “A Pedagogia da Avestruz”, da Gradiva, é indispensável. Verdade mesmo.
Gostei imenso do escrito e dou os meus parabéns. Assim é que se fala. A Educação quando mal orientada conduz ao terrorismo, à revolta… será que não estamos a criar condições para tal? Pois que se pense bem. Tantos professores desempregados! Isto é um desplante, mesmo uma aberração, mas professores que já leccionava à vários nos, olha, como eu e que gosta do que faz. Depois conto-te o resto… acaso exista oportunidade ou disposição para tal.

Com um abraço do
Jorge Ferro Rosa