terça-feira, 31 de março de 2009

O maroto do Pomar!


Na galeria de retratos do Museu da Presidência da República, está um retrato que todos acham desenquadrado. Trata-se do retrato de Mário Soares pintado por Júlio Pomar. Na sequência de uma dúzia e meia de retratos austeros, solenes, escuros, dos presidentes antecessores, surge este, geralmente qualificado de «pouco ortodoxo, inusitado, irreverente, exemplo de expressividade e modernidade, que retrata o verdadeiro Soares, descontraído e sem pose», etc.

Realmente ser-me-ia inesperado se eu não o conhecesse já, da comunicação social. Tinha-me parecido um tanto arrojado, mas não tinta atentado bem nos pormenores. Nunca tinha estado ao pé dele.
A obra de arte vista ao vivo parece que comunica melhor o que tem para dizer.
O que choca mais é a forma tosca da mão direita, que obviamente, está a gesticular, como quem argumenta. O braço esquerdo pareceu-me numa posição estranha, bizarra. Não se percebe como é que ele pode ter o braço naquela posição.

De repente, a luz. O dedo da mão esquerda, apontado para si próprio, tem uns traços curvos junto à ponta, a indicar oscilação, como na banda desenhada. «Olhe que não!; olhe que não!». O braço não é dele, é do Cunhal. Por isso o braço não parecia dele. Então reparamos que até a cor da manga é diferente. Aquele retrato conta um momento, talvez o momento mais famoso do PREC, quando os dois líderes dos dois partidos mais influentes em 75 se confrontaram em frente às câmaras da RTP.

Grande malandro, o Pomar! Quase que enganou toda a gente. Eu, pelo menos, nunca ouvi sugerir esta leitura.

Então, tornamo-nos desconfiados. O que mais terá o Pomar escondido na tela? Certamente que aquele rosa por cima da mão direita não é para chamar troca-tintas ao seu amigo, mas a cor ali muda, por efeito do gesto da mão, dum sombrio e nocturno azul, que tudo envolve, para um festivo e diurno rosa, como zona limpa de uma superfície embaciada por uma longa noite.
O Soares está numa cadeira com francas conotações de poder, por causa dos dois leões nos braços da cadeira. Está inclinado para a sua esquerda, para onde a gravata também aponta. O leão do braço direito, em traços mais conservadores que o leão do braço esquerdo, parece a cara de alguém. Quem? Esta, eu não quero arriscar. Pela cor do braço, podia ser o Cunhal; pela posição à direita, podia ser o Spínola. Aliás, o olho esquerdo do leão parece que tem um monóculo. Ou será uma leoa? Quem seria a leoa-braço direito de Soares? Parece evidente a resposta. Mas isso, só perguntando ao Pomar.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Apresentação do livro Utopias Piratas da Deriva Editores


É já na próxima quinta-feira, dia 2 de Abril, às 22 horas, na Livraria Gato Vadio, na Rua do Rosário, 281, na cidade do Porto, que se realiza o lançamento e apresentação da tradução para português (em Portugal) do livro Utopias Piratas de Peter Lamborn Wilson (também conhecido por Hakim Bey).

Na ocasião haverá uma conversa com Miguel Mendonça, que traduziu e propôs à Deriva a publicação de Utopias Piratas de Peter Lamborn Wilson, e António Alves da Silva. Pretende-se com esta iniciativa proporcioar um debate informal sobre a pirataria moura do século XVII e o papel muito particular da República de Salé que, diga-se, está muito pouco estudada pela historiografia oficial.

http://derivadaspalavras.blogspot.com/

O autor, neste seu recente trabalho, foca a acção corsária da independente República pirata de Salé, durante o século XVII. Corsários, sufis, pederastas, mulheres mouras «irresistíveis», escravos, aventureiros, rebeldes irlandeses, judeus hereges, espiões britânicos, heróis populares da classe trabalhadora e até um pirata mouro em Nova Iorque, emprestam a este livro um ambiente livre constituído por comunidades insurrectas nunca verdadeiramente dominadas e portadoras de uma praxis de resistência social que abalou seriamente os estados europeus.

Peter Lamborn Wilson, nascido em 1945 e investigador e poeta norte-americano com vasta obra editada, escreveu «Sacred Drift: Essays on The Margins of Islam», na City Lights e «Scandal: in Islamic Heresy», Autonomedia

fui a flor



fui a flor a quem retiraste as pétalas. uma a uma. inalaste o meu perfume a cada puxão de pele. mas tiraste-mo porque to dei. fui tua cúmplice no desnudar da minha vida. sem saber o que de mim iria restar. hoje, sou um caule em busca de uma nova primavera. hoje, já sem pétalas, sinto-me ainda tua. foram as tuas mãos que me despiram. aguardo que regressem. que tragam consigo um manto para me cobrir os ombros. assim me vou alimentado de saudades. assim me vou recompondo de verdades. assim te espero... até um dia voltar a ser feliz.

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Foto:innaryba

terça-feira, 24 de março de 2009

A PRISÃO DO ÉTICO


Encontrei o meu livro A PRISÃO DO ÉTICO na Fnac do Chiado.

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sábado, 21 de março de 2009

MINHA TERRA AINDA É LINDA

Palavra opaladina que em verso deixo,
Neste dia consagrado à poesia...
Nesta tarde onde te ofereço rosto novo...
Neste escrito onde me afirmo, tu nesse grito
Palavra do campo, da cidade, da aldeia em sitonia
Minha terra Santo Estêvão que abençoa...
Noutra estrofe outra miragem
Qual passagem que nos vai consumindo...
Momentos que não posso esquecer
Por aqui, por ali, rasgo o teu nome
Guardo na alma de criança o meu viver.

Foi aqui que meus passos dei, caminhei
Foi aqui que esculpi a minha poesia, então
Pedaços do meu ser, do coração
Agora tenho aqui, nestes braços o fulgor
Também a música co acordeão...
A seiva do que chamas amor, derramado
Santo Estêvão meu santo poderoso
Da saudade aquela miragem e o amor dedicado!

Abril, feito tempo de liberdade
Terra amiga, da casa do povo à sociedade
Estes passos de novo remodela a Igreja
Onde tocam os sinos e o altar que se beija
O amor que eleva corações e a morte!
A minha e a tua sorte...
Minha terra tem riqueza, poetas com poesia
Gente boa, acolhedora, movimentos
Imensa sintonia quando se param os ventos
Santo Estêvão meu fado, saudade que não finda...
Deixo-te meus pedaços dos meus pensamentos
Aldeia amiga, à beira-mar tu és linda.


Olhão, 21 de Março de 2009 - 20:28h
Jorge Ferro Rosa in Caderno da Alma

quinta-feira, 5 de março de 2009


na boca...
o silêncio
no corpo...
o desejo
o pecado...
subsiste,
irresistivel,
como o poema à flor do fogo!...

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Foto:Szara Reneta