segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

O acordo ortográfico é um acordo político

será a arte objecto de unificação???









Facto: afecta 16% da ortografia portuguesa de Portugal.

Fato: afeta 0,45% da ortografia portuguesa do Brasil.

Factor negro: ??? Em África ninguém vota nunca na matéria, têm guerras, morrem à fome e por isso muda-se e ninguém se queixa... é triste mas é assim...

Aproveito este tema que me revolve o estômago muito mais do que os compostos químicos que põem na comida.

É um facto que os tempos evoluem e que na língua de cada povo há que acompanhar essa evolução, quanto a isso nada tenho contra, nem contra a inclusão do k, w e y (quase que dava kiwi mas não chegamos lá...) e das palavras que se falam todos os dias por influência dos meios de comunicação, da arte, seja do que for (todos somos influenciados ninguém o poderá negar).

Quanto aos acentos talvez se chegássemos a um consenso se pudessem banir alguns (assim como se podia banir algumas das sumidades que propuseram esta reforma).

Porém a coisa terminaria por aí, sobretudo essa alarvidade que é acabar com o hífen em tantas palavras.

Não me lembro de um ataque tão cerrado a uma língua que tende mais a morrer que a ser revitalizada, porque a cada reforma se vão perdendo referências, se vai empobrecendo uma língua com intuitos comerciais.

Lamento profundamente esta aproximação do idioma. Cada povo tem a sua cultura e a unificação não vai trazer benefícios senão às editoras que venderão novos dicionários em papel ou electrónicos (talvez nem a elas porque terão que ser retirados milhões de livros que servirão para a fogueira e sabendo da predisposição incendiária de alguns portugueses e alguns brasileiros diria que é um festim) e sobretudo aos dos costume, sim os políticos e os seus amigos de sempre, os empresários, os mais ricos do mundo e afins. A esses sim decerto que vai trazer todas as vantagens.

Não vejo aqui africanos, seria interessante ver a opinião de um qualquer africano daqueles que ainda falam português (aí decerto que lhes fará mais falta um mero pão para lhe matar a fome, mas isso é tema de outras esferas, que os seus governantes corruptos se encarregarão de silenciar com a tortura, a morte ou qualquer coisa se se queixarem). Mas qualquer dia pergunto a algum amigo meu de Angola ou Moçambique, decerto que torcerão o nariz a muitas das barbaridades cometidas contra os vários tipos de português e a sua aproximação.

Imaginem apenas um acordo ortográfico entre Inglaterra, Austrália e Estados unidos... estão a ver a unificação? É um pouco como ir a Espanha e falar em unificação das várias línguas (que se ofendem se lhes chamem dialectos), castellano, català, gallego, euskera... talvez se arrisquem a algo mau, porque essas comunidades defendem a sua cultura e o espanhol é uma obrigação na sua cultura, mas quem fala português é, por natureza, submisso (Fernando Pessoa e Camões ou mesmo Vinicius de Moraes ou ainda Mia Couto que me perdoem).

Já agora talvez queiram um acordo ortográfico com a Espanha (são tantos a falar espanhol, quem sabe qualquer dia têm a ideia) e se acabe com o til (usado apenas pela língua portuguesa em cima de vogais) e o h porque tamaño desperdício de letras e acentos confunde a juventude que tem mais em que pensar... pensar em nada muitas vezes... e depois o que querem? Gente culta? Aparece sempre, mas há cada vez menos...

O português aproxima-se da língua mais básica que há ao cimo da Terra, sim o inglês. Apenas e só negócios. Mas vivemos numa sociedade de capitalistas selvagens, damos-lhes o nosso voto e por isso caluda, há que aceitar as regras sem queixumes de espécie alguma. Em nome do lucro, em nome de assentos na ONU, em nome do servilismo (podem chamar-me de comunista que sempre gostei do vermelho, antes isso que calado)

Já agora e sendo radical porque não fazer renascer o latim. Vai tudo para a escola e o latim passa a ser a língua mais falada no mundo? Não é de lá que vem a origem de tudo? Talvez com uma reformazita a coisa passasse a funcionar. Mas é difícil, obriga a pensar e não há tempo para pensar.

Voltando ao português. Cada povo tem as suas idiossincrasias e a cada período de tempo há mudanças, por vezes radicais, isso convoca a necessidade de uma mudança. Agora tornar a língua escrita mais parecida com a falada é estupidificar quem ainda não a aprendeu, ou seja os nossos descendentes, filhos ou netos ou vindouros que ainda não passaram de projecto.

É um facto que desde sempre escrevi faCto ou aCção assim, assim como no Brasil, em Angola, Moçambique, etc se adoptou outra forma de escrever, porque há diferenças, e são essas diferenças que tornam tudo mais delicioso, mais estimulante. Esta é uma pseudo-unificação. Apenas e só negócios. Crie-se então o português empresarial.


Com o tempo sou capaz de vir a adaptar-me aos acentos porque escrevo no PC, de resto passarei a escrever em português antigo, aquele que acabou em 31-12-2008.

Ficou uma miríade de coisas por dizer, porque este tema tem um sem número de sub-temas a abordar e só mesmo a indiferença, a apatia e a miséria cultural (e não só) dos povos é que permite coisas destas se tornarem regra. Mas nós, poetas, escritores temos o dever de nos insurgirmos pela defesa da nossa cultura, de manifestarmos a nossa liberdade perante essa escumalha que manda, seja de que lado de que Oceano for!

Ao contrário do que se possa dizer vale a pena espernear, porque quem nos faz de estúpidos quer sempre silenciar-nos. Valerá a pena lembrar que só quem se dedica às letras é que se chateia com essas coisas e que os governos cada vez menos se preocupam com a cultura... é pouco rentável!

E será preciso lembrar que Fernando Pessoa preconizava que 'A minha pátria é a língua portuguesa' ? Talvez seja melhor mudar-lhe o nome...


Manuel António Marques (se calhar já não se escreve assim em Portugal...).

A versão abrasileirada que vos convido a visitar também:

Jornalismo Político


Restarão opções ou a acção termina por aqui?

1 Comment:

Balbino said...

A cultura não é a unificação absoluta. A única coisa que pode ser unificada são os valores que suportam uma sociedade. Cultura é haver diferença e respeitá-la.