Acertara o batimento. Como um relógio apressado, solto de ritmo e espaço.
Sentia viva a noção de desiquilíbrio, estranha, inadequando-se ao momento de tropeçar nos afectos, deixando-lhe sabor acre, de desacerto constante. Repetindo-se, arrastando consigo a sensação de perda, de tempo irrecuperável, intransponível.
Escutava os silêncios, os que se detinham por trás dos sons. Cuidadosamente, dobrava as palavras, guardando-as em sentidos outros, envoltas em pacífica espera, ao correr das horas e dos dias.
Ajustara a imagem, não fosse desapertar-se o que cuidadosamente embrulhara há tanto tempo. E nessa segurança enfrentava o olhar que se lhe oferecia resguardado por opacidades, onde apenas intervinham imagens a preto e branco. Os coloridos, esses, desenhava-os em pensamento à medida das emoções.
Mas bebia-lhe as palavras. Saboreando os gestos, delineados ao ritmo harmónico de teclados batendo breve nas pontas dos dedos. E sorria a esse reflexo projectado.
Adivinhava-lhe as frases. Completava-as mentalmente como se as esperasse, de tão apercebidas em reacções contabilizadas pelos anos. Olhava-o, ternurenta de palavras não ditas, suspensas, remetidas a um vocabulário cauteloso, na lonjura de vivacidades desejadas.
Observava-se, espreitando cada gesto, olhando-se do exterior, sentada no limiar do sentimento.
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Fotografia de Michele Spinapolice
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