O tempo mata! O tempo é o maior inimigo e o maior conselheiro, o tempo traduz a possibilidade daquilo que é… é neste fluxo que este escrito ganha corpo enquanto o sorriso acende e apaga. No tempo a grande verdade silencia e adormece e o seu rasgo é a ausência de respiração.
Interrogo-me, estou condenado, não tenho hipótese, ainda que neste momento esteja em vida, tal como aquele que lê, eu neste momento enquanto escrevo estes caracteres; o resto não serve para nada, nem nada posso esperar do quer que seja. Sou na derradeira existência absurda onde todos os nomes são balas de distanciamento!
Dogmas e posturas caricatas encurtam o fôlego da liberdade, amachucam os filamentos da existência do sujeito, conduzindo-o para as portas do degredo. A existência converte-se em abismo, cuja derrapagem desemboca no precipício do silêncio intemporal. Todos os dias a surpresa estende o seu manto na actividade da decadência. Os fôlegos do sabor existencial são assassínios, deixando tudo em colisão até à pura extinção cuja desfragmentação envolve um processo do qual a consciência não é atrevida. Situações temporárias de remedeio é o que resta, o resto são possíveis suposições para apaziguar o envolvimento do nada e tão subtilmente a ausência de fôlego acontece ainda que as crenças religiosas um dia se tenham implementado como salvação… a salvação é a não salvação, diga-se ou acredite-se no quer que seja, não existe modo de dar volta à situação. O início ergue-se na tensão do fim, esse “isso” tende ao lugar do antes de ser “isso”, sem consciência, o irremediável da situação construída. Resignação absoluta dadas as circunstâncias… vergo-me, a frustração é a impotência onde tudo o que existe não tem sentido algum! A hora derradeira é absoluta… confesso-te que o desprendimento das coisas e dos outros é a verdadeira paz, isso que absorve para o nada eterno. Todas as filosofias tentam fazer brilhar o lugar escuro da eternidade, posturas de esperança gritam e tudo não serve absolutamente para nada! Lembras daquela conversa quem um dia tivemos? Ainda consegues? Que tal está o corpo? Alguma preocupação? Ligação mente corpo como vai? Não digas… o tempo é a própria resposta à situação! As situações criam-se por si e os pretextos tendem a manipular os mais fracos. Entendo a tua postura… todo o significado que um dia tiveste, o próprio tempo o roubou, desliguei-me e deste modo lancei-me na ausência. Todas as palavras que te possa dirigir não servem para nada uma vez que a credibilidade passou à história.
Sabias que a esperança mata e o tempo é muito curto? Tudo o que te digo passa ao lado… confesso que não estou preocupado uma vez que me cansei das tretas e banalidades, desses pretextos de circunstância. Detesto esperar dos outros o quer que seja, tal postura é condição de inquietação, tal como a promessa de um café que nunca acontece.
Aveiro, 01 de Abril de 2008 – 22:16h
Jorge Ferro Rosa, in Fronteiras
quarta-feira, 2 de abril de 2008
PRETEXTO DE CIRCUNSTÂNCIA
Colocado aqui mui gentilmente por jorgeferrorosa à(s) 00:28
Etiquetas: Jorge Ferro Rosa, prosa poética
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1 Comment:
«Todas as filosofias tentam fazer brilhar o lugar escuro da eternidade...», é bem verdade.
E também é bem verdade que todos nós temos problemas existenciais.
Quanto à prosa poética, gostei.
Um abraço.
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