sábado, 12 de abril de 2008

Cérebro versus realidade

O cérebro: quero ir ter contigo, dizer-te qualquer coisa, mesmo que não faça sentido, ou que a minha cara se torne mais idiota do que habitualmente. Quero tocar no teu braço despido com as minhas mãos suadas, quero encostar-me, esfregar-me a ti e beijar-te o pescoço, o queixo, os lábios. Quero morder-te as orelhas. Quero ouvir-te gemer. Sei que não me vês, que não me ouves, que não sentes a minha presença a teu lado. Não sou estúpido, não, isso é que não. Estou a um metro de ti. Se te atraísse, os teus olhos já teriam encontrado os meus, já terias sorrido. Mas sou persistente, muito persistente. Os meus olhos pregar-se-ão à tua cara até que os teus olhos queiram ver os meus, e talvez aí possamos encontrar algum tipo de harmonia (se é que a palavra existe). Nunca se poderá encontrar harmonia em duas pessoas quando só uma delas se está a concentrar na outra. Não se fale em harmonia. Sexo. Sim. Quero levar-te para a cama, ver o teu sangue no meu pénis, ver a dor na tua cara e sentir que mais ninguém te possui da mesma maneira que eu. Não. Não te quero levar para a cama. Quero-te agora. Se fosse um homem a sério, chegar-me-ia a ti e, cuspindo para o chão, levantar-te-ia a saia, derrubar-te-ia e possuir-te-ia mesmo aqui, neste pequeno compartimento de comboio. Tens aliança no dedo, melhor. Gosto de mulheres casadas. Se te pudesse penetrar, mulher casada. Se te pudesse fazer sentir a mulher mais realizada do mundo, mulher casada.

A realidade: Eva, vinte e sete anos, casada. Estava dentro de um comboio mas poderia não se encontrar em lado algum. Chateara-se com o marido. Queria encontrar algo que a fizesse pensar que nem tudo no mundo era tão mau como parecia. Quando reparou que um homem feio, com cara de tarado, olhava para ela como se nunca tivesse visto outra mulher na vida, perdeu a esperança no futuro e chegou à conclusão de que o marido era o menor dos seus males.