terça-feira, 4 de março de 2008

Veículo de ideias

A propósito de uma canção
(talvez não tão equilibrada entre a melodia ritmo harmonia e as palavras cantadas que veiculava quanto eu gostaria que fosse)
pensava sobre o acto de produção criativa. Detive-me na música, origem das minhas reflexões.
Creio haver uma demissão intelectual da maioria dos actos de criar. O acto artístico não existe apenas como um exercício de estilo, do mesmo modo que não existe apenas como uma reflexão filosófica e artística canalizadora das características do zeitgeist
(wagner fê-lo e isso custou-lhe a amizade de nietzsche colocava na mesma equação música melodia e palavra cantada veiculando as suas ideias as suas crenças e nisso todo o sistema em que cresceu e vivia)
. A música hoje em dia é avaliada como um sistemas de duas equações, um para a palavra cantada e outro para a música
(como se um excesso numa parte compensasse um defeito noutra num espaço em que devia haver um equilíbrio de perfeição)
, segmentando-se algo que não devia nunca estar separado. Utilizei a música como exemplo, porque foi nela que nasceu a minha reflexão. Porque o mesmo se aplica à arte em geral, um sistemas de duas e mesmo mais equações, em que nas variáveis se encontra o estilo e a ideia
(ideia deve ser entendida como algo profundamente pessoal que ao mesmo tempo é nascente de um sistema conceptual filosófico uma reflexão mais profunda e abstracta)
. Sem um sentido que nos faça pensar a arte perde a sua função pedagógica que é, na sua expressão mais simples, fazer-nos pensar.
Do mesmo modo de Harold Bloom desenvolve a escola do ressentimento, eu crio a poesia do desespero. Deixa de ser contingente e é apenas subjectiva: descritiva de estados de espírito
(recorrendo geralmente à primeira segunda e terceira pessoas do singular sem nunca mencionar o infinitivo sem nunca personificar limitando as metáforas às comparações)
, especialmente de estados de desespero ou de recuperação. Utilizam equilíbrios luminosos e cromáticos, oxímoros. Creio que este blogue se tem que emancipar desta poesia e de tentativas inter-artes com fotografias inexistentes.
A criação artística é dos trabalhos mais dolorosos que existem, porque nos confronta com as limitações do nosso intelecto. Porque ter ideias não é um desejo de diferença
(qualquer sujeito é capaz de ter uma ideia o processo de a transformar em algo materialmente negro é tão doloroso que muitas vezes as ideias são nados mortos)
, essa ideia em si é das mais falaciosas. Além de que a representação dessa mesma ideia é um chavão.

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