Maria tinha vindo uma semana antes do início do trabalho para se instalar devidamente, mas os seus primeiros dias em Ponta Delgada foram algo difíceis, tinha de fazer um reconhecimento da cidade onde ia morar, começar a orientar-se nas suas ruas estreitas, treinar o equilíbrio na sua calçada irregular, e, a parte mais difícil, acostumar-se ao cinzento do céu de inverno e à inconstância do regime de aguaceiros.
Uma senhora numa loja explicou-lhe que estava com um certo azar, que mesmo antes de chegar tinham estado uns dias muito bonitos, que agora era sofrer com paciência durante uns tempos… Enquanto olhava para o guarda-chuva estragado pelas fortes rajadas de vento, Maria ficou com a ideia que “sofrer com paciência” seria uma expressão muito usada a propósito do tempo, e decidiu que seria inútil comprar um novo guarda-chuva.
O grande mistério que permanecia é como é que ao lado do seu prédio, em pleno perímetro urbano da cidade, estava um pasto com 20 vacas. Além disso, como é que tinha arranjado tantas coisas para fazer com a mudança, e andava tão cansada, que não tinha saído para visitar o resto da ilha. Os amigos do continente perguntavam-lhe das paisagens e ela respondia das 20 vacas, que se viravam todas na mesma direcção para se protegerem do vento.
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008
O tempo
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3 Comments:
Não te preocupes! Quando conheceres a cidade, e as paisagens, tão naturais e tão belas, as vacas já não te farão impressaõ.
Beijo
texto excelente!
(o hábito ou a sabedoria das vacas :)
Piedade, esteja descansada que a Maria irá conhecer a ilha toda, embora eu ainda não tenha decidido se irá gostar ou não. entretanto, a ideia é transmitir mais que os postais ilustrados da praxe, o que quer dizer que vai ter um caminho menos rosado que o dos turistas que cá passam 2 semanas no verão ;)
Musalia, obrigada, e as vacas são, de facto, animais fantásticos e dão uma vizinhança muito pacata.
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