domingo, 2 de dezembro de 2007

O amor dilacera



Ao fim da tarde
Isolado
No meio do mundo
Mente dispersa
Nada para fazer
Pensamento fixo em algo perdido
Algo relacionado com o amor
Algo que parte a alma em bocados
E que não permite a sua reconstrução por completo.
Sozinho aqui
No mundo
Cheio de gente
Vazio na alma
Insustentável
Se durar muito mais tempo
Sorrisos amargos para a assistência
Assistência nula.
Trabalhar
Para quê?
Conforto posterior ao trabalho
Automatizado
Não há criatividade
Todos os dias é tudo igual
Por mais que se tente mudar o estado das coisas.
Sinto coisas estranhas por uma mulher
A raiz dos meus problemas é sempre esse
Uma mulher
Algo que me dá vagas de felicidade
Mas que quando amaina a tempestade
Me fecha numa prisão fria e desértica.
O amor consome-me a alma
Seja físico, seja espiritual
Ele existe
Para consolo dos que querem viver
Ele não existe
Como justificação para todos os males
Eu acredito no amor
Acredito que isso não é só para os outros
Acredito que um dia ficarei mais forte
Se ele for parte integrante
Do meu corpo
Da minha alma
Da minha vida.
O amor destrói-me o corpo
A sua falta deixa-me revoltado
Com vontade guerrear.
Não sinto amor por mim mesmo
Sinto-me útil
Mas não para mim mesmo
Tudo o que fiz, faço ou farei
Será para o bem estar dos outros
Mesmo que eu tente promover o meu bem estar.
O amor dá-me solidão
O amor pede-me concessão
Dádivas e promessas
E eu não posso dar nada disso
Porque o amor não é feito de imposições
O amor é um estado
É algo que se quer
Mesmo que inconscientemente
Seja-se frio ou quente
Simpático ou antipático
O amor é um adeus à nossa própria pessoa
É uma entrega imensa a outra pessoa
É um estado de alma
Do qual não se passa sem feridas profundas
O amor motiva-me a escrever
Acerca da ausência de amor na minha vida
Pelo menos aquele amor para além da amizade.
por aí sinto-me sempre partido
Sempre a bater na porta errada
A amar o que me é negado
Por causa de outro amor.
Sou triste
tenho motivos para o ser
Independentemente de estar como estou
Odeio totalmente a solidão
Apetece-me fazer amor
Mas tudo me mete nojo
Neste mundo de almas mortas...

23 de Julho de 1994.

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