neste labirinto de silêncios palpáveis
desenho com o dedo a suspeita de estar só
e um bando de canetas voa espavorido do ninho
solto aos quatro ventos
em jorros de tinta negra
negra como o mais negro dos cânticos
que aqui onde vou não arrasto pés sangrentos
nem desbravo florestas inexploradas
nem terras-de-ninguém devassadas
nem pântanos secos
sem troncos ocos
sem areias movediças
sem água
sem lodo
sem cais
sem sereias de caudas postiças
sem lamas
nem dalai lama
nem pecados originais
não!
mais gente não!
que eu não vivo para infectar amores antagónicos entre deuses e demónios
se vivo é só p’ra proclamar a morte da última ave do paraíso
atacada de taquicardia voluptuosa
p’ra declarar louca toda a bússola que me aponte o norte
p’ra caminhar na berma bamba do abismo sem rede
e engolir em seco todo o som que se solte como quem engole o destino
de chofre
ou em silêncio assina a sua sentença de morte
sempre em silêncio
porque de silêncio
também se morre
Autor:Jorge Casimiro
Livro “murmúrios ventos”
Editora:Passáros de Fogo
também se morre
Autor:Jorge Casimiro
Livro “murmúrios ventos”
Editora:Passáros de Fogo
(Foto de Emanuel Oliveira de Olhares.com)
2 Comments:
que coincidência! ontem retomei este livro que me foi oferecido ha um ano atrás!... adorei!...estou a adorar ;)
Gosto da revolta das palavras, ritmadas num reboliço de ideias.
Beijos,
Pedro José:)
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