sábado, 17 de novembro de 2007

NO PÓRTICO IMACULADO DO TEMPO

No teu adeus esmorecido ainda sobrevivo, escrevendo o epitáfio demente, nas escarpas dos búzios ausentes, que insistem em não voltar… apenas promovendo-me um sonho sideral. Nesse pórtico imaculado do tempo sinto-me tomado pelos véus da estranheza, uma força rude que teima em ficar. Sinto-me oposto a mim mesmo, imiscuindo numa dúvida atrevida, possuído pela mágoa do atlântico, ao sul, no lastro das palavras impolutas. Virtuosas foram as tuas deixas… o resto são pórticos abençoados que o silêncio esculpiu.
A cada passo indissociável da consciência, preservo a memória do silêncio cardíaco, esse início que revivo pelo remanso da tua mão cansada em cima da minha. Inauguraste o sonho sem horas, por sinapses que ressuscitaram de um medo sem cabimento, tomado do enigma imaculado. Quase toquei o teu abismo nesse momento, as condições débeis de sobrevivência estremeceram a minha alma, porque o corpo já pouco ajudava para interpretar correctamente o fim. Olhei, fiquei sem pinga de sangue e vi que tudo estava no fim. Recordo-te agora e o exílio é uma saudade que não pode ser recuperada, o seu preenchimento afastou-se e todas as justificações conduzem a uma erosão do tempo indefinida. Num abraço emolduro o tempo sem mão… que a tua mão deixou na minha.
A languidez do verbo imaculado, a semente molhada do olhar, essa, asfixia o silêncio do pórtico eterno e torna a compreensão quase imaculada, tomando-me na indiferença para o resto… agora é tarde.

Vila Franca de Xira, 17 de Novembro de 2007 – 10:13h
Jorge Ferro Rosa, in Caderno da Alma

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