(Ajuda-me. Ouves-me? Estou dentro de um pesadelo labiríntico, e as frinchas da redenção estão atapetadas pelas lágrimas que te esqueceste de verter. Pelos corredores do meu tormento serpenteiam vultos de corpos. São os nossos, que se amam na sombra e vivem nas promessas vivas de certezas mortas.)
Perseguem-me quando sonho contigo. Por vezes, assassinam-me. Se consigo fugir, escondo-me em cada espasmo, e neles guardo vestígios teus. Regressas-me poucas vezes, furtiva, flamejante, nas cápsulas assépticas onde te preservo. Parto-as e bebo-te no copo partido com que sangro, todos os dias, os lábios que não se dão.
A tua voz. Resgato-a, entrincheirada na inércia, e ouço-te ricochetear nas paredes dos atavismos. Todo o meu corpo entoa a sintonia muda do teu nome absoluto.
(Ouves-me? Ajuda-me. Evadi-me ao pesadelo, mas aterroriza-me a realidade da tua ausência.)
Lembras-te daquela noite em que te semeei, trepadeira, nas escarpas infindas dos meus devaneios, para que crescesses e te encontrasses, mulher de pontas soltas, em mim? Porque só em mim te completas. Podes ir, mas longe de mim, truncas-te, porque te falta o verbo que te compôs, assim, divina. Os verbos dos outros são sinónimos bastardos dos meus.
(Todos os dias, visito os teus beijos no exílio. Mandam-te os beijos que só existem nos meus.)
Vítor Sousa
(Estranho Estrangeiro, por Terras de Vera Cruz)
2 Comments:
O desejo, o amor, a paixão...sentimentos que conjugados são furtivamente explosivos.
Não podemos controlá-los, ou, pelo menos, não devemos.
Mas...e quando estes nos fogem à compreensão? O peito dói e o corpo não reage...
Custa admitir que somos dependentes do que nos sabe bem...mas custa ainda mais sentirmos que essa dependência nunca se saceia.
Um beijo
Muito, muito, muito bom! :)
Bj. *
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