domingo, 4 de novembro de 2007

Capricórnio a seus pés

Passou tempo e eu não esperava que, um dia, chegasses. Mas passou tempo. Um dia, chegaste. Caminhávamos na rua. Eu pensava em qualquer coisa que não era a ideia de chegares, como uma avalanche que arrasta tudo à sua passagem, como uma multidão a pisar cada pedaço de terra. E a rua ficou deserta quando nos aproximámos. Éramos desconhecidos no instante em que olhámos um para o outro. Passou esse instante e, dentro de nós conhecemo-nos. Chegaste. Eu não te esperava. Contigo trouxeste a ternura, o desejo e, mais tarde, o medo. Chegaste e eu não conhecia essa ternura, esse desejo. Em casa, no meu quarto, neste quarto, revi os teus olhos na memória, a ternura, o desejo. E, depois, aquilo que eu sabia, o medo. E passou tempo. Eu e tu sentimos esse tempo a passar mas, quando nos encontrámos de novo, soubemos que não nos tínhamos separado.

José Luís Peixoto

in Antídoto
(Foto de :Piedade Araujo Sol)

1 Comment:

Anónimo said...

Belo texto...