segunda-feira, 4 de agosto de 2008




Um novo número da Minguante com o meu texto.
E, aproveitando para fazer publicidade, com o meu e-book quase em forma de fóssil.


Sirene

Estás a ouvir a sirene lá fora? É da ambulância que te leva para o hospital. No momento da despedida, pouco importa se foste um bom ou mau cidadão, se votaste, se trabalhaste, se tiveste filhos, se foste um bom pai, se foste um bom filho. Quando te restam trinta minutos de vida, de nada te valem os doutoramentos, as amantes, as notas de mil, as viagens ao Japão, o luxo, os livros, os filmes, as músicas.

Para os desesperados, existe um dramatismo muito grande na contagem dos segundos. Queres ver? Trinta minutos. Um, dois, três. Até chegar a mil e oitocentos. A vida passa tão depressa. Lembras-te dos quinze anos? Parecia que tinhas o mundo todo à frente. Mas os anos começaram a passar como se fossem dias e, quando deste por ti, já não tinhas vinte, nem trinta, nem quarenta. Tinhas cabelos brancos, dentes acastanhados e cancro nos pulmões. Lembras-te dos quinze anos? Querias casar com a Margarida ou com a Inês, lembras-te disso? Passou tudo. Porque é tudo vaidade. Consegues ver os médicos a examinarem-te? Vais perder o pio. E desejas que a tua mãe estivesse contigo.

2 Comments:

José Lopes Coutinho said...

Que chatice, o e-book sair da montra ;)

Paulo Rodrigues Ferreira said...

Acho o mesmo. Gostei do seu.