terça-feira, 22 de janeiro de 2008

ENTRE O LUGAR DE ESTAR E SER

O acto de nos conhecer-mos é complicado, uma vez que o homem é um ser de mudanças interiores a todos os níveis, integrando o que usa de si para se movimentar nos planos considerados, ele é ainda o produto da sua massa cinzenta, encefálica. No acto de concatenar começam a surgir os percursos a perfilhar… preciso arrumar as gavetas da alma e dizer-te o que ainda não fui capaz. Serás tu? Tentamos então… quando estou a ser pelos instintos não sei de mim, sou coisa nessa situação que no momento tal não sei, mas sou nisso, entretanto, uma corrente vital atravessa-me sem que eu perceba, sou nisso de tal circulação. Depois da situação procuro-me a todos os níveis, desde esse tempo que me continuo a procurar e ainda me sinto bem longe de mim, de ti muito mais, apesar das tuas explicações fazerem-me pensar por cada vez que te leio. Porque será? Desejei entender isso em tempo passados e ainda hoje procuro resposta, mas cada vez me sinto mais distante e tudo o que disseste naquele dia faz-me aproximar mais de ti, suponhamos que não entendas o que escrevo, sei que não é o caso. Fico baralhado em mim mesmo, saio de mim e volto a mim para ficar e tornar a sair, o ciclo repete-se, não que fosse a corrente hegeliana a percorrer-me. É assim, não te consigo dizer de outra forma, fiquei bastante limitado.
Ninguém falou mais forte à minha consciência do que tu, somente esse saber me tornou diferente, onde continuo a ser diferente todos os dias, nessa marcha que me transporta para o fim.
Interrogo-me, como se não o fizesse todos os dias, logo após despertar matinal, olho e continuo a pensar nas realidades disponíveis, o desejo dá-se em mim, é manifestação dos meus sentidos, do outro lado de mim, esse que ainda não consegui sustentar nas mãos.
Anda meio mundo a tentar convencer a outra metade de que as coisas são sempre iguais ao estado inicial de quem deseja, pelo facto de desejar e sentir-se por tal desejado. Será que o desejo toma em si o estado de consciência? O desejo é sempre à medida do próprio, como a única luz que guia, ainda que depois não seja bem isso que acontece, e quantas vezes não é o contrário? Os inteligentes tentam argumentar para convencer os menos espertos! Vertentes racionais ou instintos em erosão? Lutas do âmago! Não quero fazer psicanálise, apesar de um dia ser aconselhado para fazer psicoterapia, por quem de todo tinha tal experiência no assunto. Bons conselhos! Desejo e ciúme dão-se? Completam-se? Coisas diferentes! Acontecem. A racionalidade é o filtro das conjunturas, só ela interrompe, o ciúme é uma disposição irracional, um alarme do inconsciente, um mecanismo como que a dizer que algo corre perigo, mas um perigo patético e irascível. Miragens de reflexos da alma, desejo e ciúme, cumplicidades, ainda que depois se tenha de justificar para se entender o que aconteceu, uma vez que no momento de tal situação o racional não opera adequadamente.
A privação daquilo que se anseia é resposta pela emulação, e a definição do mim não é cônscia, invade-se pela reacção operante e externa das pulsões, onde a libido é a vertente de arremesso como impulso de situação. A atracção dá-se sem que se entenda, uma faísca propulsora dos sentidos.
É frustrante não conseguir tocar o fulcro para descarregar toda a energia acumulada… fico perdido entre o desejo e o reagir, contudo, não entendo os teus ciúmes desenfreados que julgo não servirem para nada. Nesta hora caminho à deriva de mim, rumo a outras vertentes mais credíveis.
O meu ser é um palco de contradições, movo-me entre os pólos do prazer e do desaprazer, construo o meu lugar, perco-me e sou pela minha sensibilidade e formas a priori de captar as coisas aquilo que queiras pensar.
Fico entretanto entre o lugar de estar e ser o que se possa justificar, ainda que pouco credível… como consequência.

Aveiro, 22 de Janeiro de 2008 – 01:10h
Jorge Ferro Rosa

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